Modelo agroindustrial está relacionado com pandemias virais, apontam especialistas

Mesmo que distante, você acredita que os modelos agroalimentares têm relação com as causas das pandemias dos últimos anos? Para muitos especialistas, a resposta é sim. Apesar da origem exata do novo coronavírus ainda ser desconhecida, existem pesquisas afirmando que a lógica de produção do agronegócio favorece o surgimento de vírus pandêmicos.

Uma dessas vozes é do filogeógrafo e biólogo estadunidense Rob Wallace. O cientista explica que a razão está na tentativa do agronegócio buscar o controle de todas as formas de natureza. Por exemplo, o fato de colocar uma quantidade massiva de animais de criação confinados em locais fechados e com controle do metabolismo pode resultar em doenças pandêmicas como as conhecidas gripe aviária e gripe suína.

A argumentação é mantida por outros especialistas pelo mundo, a exemplo do agrônomo Gabriel Fernandes, que é assessor técnico do Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata (CTA-ZM). Gabriel ressalta que além do modelo agroindustrial no Brasil, é necessário se discutir também a destruição da biodiversidade. As queimadas no bioma amazônico, por exemplo, reduziu as distâncias entre animais silvestres, criação animal e seres humanos, sendo mais um exemplo de vetor para possíveis fenômenos infecciosos em massa.

“Para evitar a repetição ou agravamento desse cenário no futuro – ou a médio e curto prazo – as causas estruturais desse modelo que não consegue avançar sem destruir os recursos naturais devem ser enfrentadas. É aqui que entra a agroecologia como parte da resposta”, salienta.

Gabriel lembra que, sozinha, a própria agroecologia não seria capaz de mudar o cenário. É preciso combinar ainda questões como direito à terra e ao território como superação aos problemas decorrente da modernização da agricultura. Em questões práticas, o agrônomo explica que na lógica do agronegócio há monocultivo genético e inserção de antibióticos, por exemplo, na criação de frangos e porcos. Ou seja, um exemplo dos controles da natureza que podem custar caro ao planeta.

“Na agroecologia a lógica principal não é do controle, mas da adaptação à natureza. Então, ao invés de monocultura de grande áreas e da dependência de insumos vindos de fora, a agroecologia trabalha com a diversidade e dos recursos locais, por isso que um dos seus principais ingredientes é o conhecimento local das famílias agricultoras, das comunidades tradicionais e dos povos indígenas”, explica.

Produção familiar em Brasília (DF) foi um dos locais beneficiados por programas do governo federal de incentivo à pequenos produtores de alimento / Foto: Pedro Ventura/ Agência Brasília

Além das causas, também podemos falar em consequências dos vírus pandêmicos quando o tema é a questão alimentar. De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) há uma previsão da covid-19 causar um grande aumento da fome no mundo, principalmente na América Latina e Caribe. Mais uma vez, o tema da agroecologia é citado por especialistas, quando se pensa nos espaços como organizações populares, universidades e alguns órgãos governamentais.

Alexandre Henrique Pires, coordenador do Centro Sabiá, ressalta que a insegurança alimentar no Brasil está se agravando desde o ano de 2016, com a redução de recursos para programas e políticas sociais ligadas ao tema. Um dos exemplo citados é a desconstrução da Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PNAPO), que faz falta em qualquer momento, sendo ou não tempo de coronavírus.

“Estamos vivendo com o coronavírus, que está agravando essa crise econômica e aumentando o número de pessoas em situação fome e insegurança alimentar. Nós do movimento agroecológico estamos mostrando a partir de várias experiências espalhadas pelo Brasil que é possível a agroecologia oferecer abastecimento alimentar para a população em situação de fome e insegurança alimentar com o fornecimento de alimentos produzidos de forma agroecológico, sem uso de venenos, e no regime da agricultura familiar”, ressalta.

Uma das propostas apresentadas pelo movimento agroecológico para o momento é um plano emergencial do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) para todo o país. Está no ar uma campanha para pressionar o governo federal no combate à fome e na valorização da agricultura familiar neste período de pandemia. Para saber mais, basta acessar o site da organização.

Fuente: Em Pratos Limpos

Temas: Agronegocio, Sistema alimentario mundial

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