A salvação de uma cultura

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Os atuais organismos consumiram milhões e milhões de anos de interação com a seleção natural para chegarem ao presente nível de adaptação. Parece, para mim, que o fato mais esquecido pelos estudiosos da transformação molecular é que eles deixaram de estudar junto a biologia molecular... a disciplina de evolução

Esta matéria é uma estocada indireta muito contundente nos trabalhos da Embrapa com o feijão e mamão transgênicos resistentes a vírus, que segundo o autor simplesmente não prestam para a agricultura. Só prestariam então, suponho eu, para levantar dinheiro para a Embrapa, como no já esquecido caso do feijão transgenicado com a castanha-do-Pará, proporcionando ao feijão um amino ácido já presente no arroz. Esquecido hoje, mas deu Ibope por um tempo.No olhar deste economista, a crítica tem tudo para levantar uma boa polêmica científica. Se os pesquisadores da Embrapa não morderem a isca do geneticista da UnB, já sabem....David Hathaway
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A salvação de uma cultura, artigo de Nagib Nassar

Os atuais organismos consumiram milhões e milhões de anos de interação com a seleção natural para chegarem ao presente nível de adaptaçãoNa semana passada a revista “Crop Biotech”, que atua na área de biotecnologia e agricultura, publicou uma noticia sobre desenvolvimento de um clone da mandioca resistente à doença do mosaico africano.

A doença normalmente é hospedada e transferida de uma planta a outra por uma inseto, a mosca branca.

A revista não mencionou nada sobre o comportamento e performance desse clone sob condições naturais do campo. A revista, que é uma declarada publicação de uma multinacional atua na área de transgênicos, adicionou que a produção desse clone foi possível graças à inserção de uma parte de DNA e RNA do próprio vírus do mosaico em células da mandioca.

Adicionou ainda o que considerou uma obra importante que a partir de agora não há necessidade de usar maciça quantidade de inseticidas para combater o inseto hospedeiro do vírus do mosaico.

Não é verdade o que a revista disse. Uma resistência sólida ao mosaico foi encontrado oitenta anos atrás numa das espécies silvestres de mandiocas nativas do Ceara, que é a Manihot glaziovii. Quem descobriu isso foram dois cientistas ingleses; Storey e Nocols que trabalharam na Tanzânia, no leste da África, na década de 20.

Eles transferiram com sucesso gene da resistência de M. glaziovii a mandioca por uma simples hibridação manual. O híbrido produzido foi resistente e produtivo e salvou todo o leste da África do mosaico.

Na década de 70 (1975, 1976, 1977), providenciei híbridos da mandioca com a referida espécie ao Centro Internacional da Agricultura Tropical (IITA) na Nigéria.

Esses híbridos quando desenvolvidos pelo melhorista do IITA (S. K. Hahn) permitem a produção de variedades da mandioca resistente ao mosaico e produtivas. Estas variedades foram adotadas pelos agricultores nigerianos em todo o país.

Elas cobrem agora uma área de cerca de 4 milhões de hectares e levaram a Nigéria a ser o maior produtor mundial. (Veja Acknowledgement do IITA na seção News do www.geneconserve.pro.br)

É bom inserir parte do DNA e RNA do vírus do mosaico em células da mandioca, mas o que é importante é ver como as plantas se comportam sob condições naturais e como reagem ao desafio da seleção natural.

Inserir parte de DNA e RNA de um certo vírus em células de uma cultura não é novidade. Já foi feito em várias culturas; as últimas foram o mamão e o feijão, mas nenhum das culturas tratadas teve sucesso por uma razão. A nova estrutura genética é eliminada rapidamente pela seleção natural.

Os atuais organismos consumiram milhões e milhões de anos de interação com a seleção natural para chegarem ao presente nível de adaptação. Parece, para mim, que o fato mais esquecido pelos estudiosos da transformação molecular é que eles deixaram de estudar junto a biologia molecular... a disciplina de evolução.

Nagib Nassar é professor titular de Genética na UnB ( www.geneconserve.pro.br ). Artigo enviado pelo autor ao JC e-mail 2828, de 08 de Agosto de 2005.

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