“Antes eu vivia da pesca, hoje de ajuda da família”, denuncia atingido pela Samarco

Por MAB
Idioma Portugués
País Brasil

José Araújo Silva, 60 anos, também conhecido como Brilhoso, veio de Degredo, distrito de Linhares, no Espírito Santo, para conhecer a realidade dos atingidos pela Samarco que moram em Mariana e região. Ele ouve atento as denúncias, os relatos, vê as lágrimas de homens e mulheres que choram a destruição das comunidades, a poluição dos rios, os impactos profundos e crescentes provocados pelo rompimento da Barragem de Fundão, ocorrida há 10 meses.

Mas, ele também tem uma história para contar. Trabalhador terceirizado em diversas empresas por este país, José nasceu em Sergipe, mas veio para o Espírito Santo há mais de 15 anos e constitui família nas terras capixabas. Hoje, tem 4 filhos: Angélica, 16 anos, Alice, 13, Amanda, 9 e Davi de 3 anos e 5 meses.

Para manter a família, José pescava cerca de 50kg de peixe por dia no Rio Doce: em média, 6kg de pintado, 8k de dourado, 12kg de traíra, 15 kg de cumatâ, entre outros, como tilápia, rubalo, etc. “Eu tinha uma renda certa todos os meses e uma atividade que me fazia viver com dignidade, mas aí veio a Samarco e destruiu tudo que eu tinha”, conta Brilhoso.

A casa de José Araújo não foi atingida pela lama da Samarco como em Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo, mas como as águas do Rio Doce estão sujas e contaminadas os peixes desapareceram e os clientes, temerosos pela saúde, não compram mais.

“É meu sogro e minha sogra que estão me ajudando a cuidar dos meus filhos. Quando eu vou pra cidade de bicicleta, a menina pede: ‘pai, traz uma argolinha pra mim!’, mas como? Se você procurar 15 centavos na minha casa não vai encontrar. É chocante, é chocante!, desabafa José. Para a Samarco, José é somente um número de protocolo. Ela ouviu o atingido, fez promessas e desapareceu.

Este e outros centenas de dramas familiares e comunitários estão sendo denunciados e discutidos no “Encontro das Lideranças da Bacia do Rio Doce” realizado em Paracatu de Baixo e Bento Rodrigues, na cidade de Mariana, nestes dias 3 e 4 de setembro e que está reunido mais de 400 pessoas, incluindo atingidos por barragens de outros estados que vieram prestar solidariedade.

É o esforço do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) para unificar e organizar a luta dos atingidos em toda o território atingido pelo maior crime ambiental da história do Brasil.

Para José Brilhoso, este momento é muito importante. “Somente juntando o povo, reunindo pescadores, garimpeiros e agricultores vamos conseguir ter nossas vidas de volta”, afirma animado.

O “Encontro das Lideranças” termina neste domingo (04) com uma Grande Marcha em direção a Bento Rodrigues que irá denunciar a negação dos direitos dos atingidos com o projeto do dique S4 que pretende alagar a comunidade e destruir um sítio histórico e cultural muito importante para a região, além de destruir memória histórica do crime.

Também é uma preparação para o Encontro do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) que será realizado entre 3 e 5 de novembro de 2016 em Mariana para denunciar um ano de impunidade da Samarco\Vale\BHP.

Fuente: MAB

Temas: Minería

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