Brasil: "A terra não é só para trabalhar, é para produzir alimentos saudáveis", diz Stedile

Idioma Portugués
País Brasil

O dirigente do MST fala sobre as feiras agroecológicas organizadas pelo movimento em diversas cidades do país.A experiência de feiras agroecológicas organizadas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) tem se espalhado pelo país. Uma grande diversidade de alimentos produzidos sem uso de agrotóxicos em assentamentos e acampamentos da reforma agrária são disponibilizados para a população com preços justos.

Para o movimento, mais do que partilhar os frutos da luta no campo, as feiras são uma oportunidade de dialogar com a sociedade.

Além da venda de produtos, esses espaços se transformam ambientes de trocas culturais entre o campo e a cidade, com apresentações artísticas, mostras de artesanato, oferta de produtos culinários, entre outras atividades. Um marco dessas experiências é a Feira Nacional da Reforma Agrária que ocorreu em São Paulo em maio deste ano.

Em entrevista para o Brasil de Fato Pernambuco, João Pedro Stedile, dirigente nacional do MST, falou sobre essa proposta.

Brasil de Fato: João Pedro, como a reforma agrária popular, defendida pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), contribui para o desenvolvimento da agroecologia?

João Pedro Stedile: Durante muito tempo talvez todo o século 20, da qual o MST, inclusive, foi influenciado, a visão que nós tínhamos de reforma agrária era uma visão idealista, que bastava repartir o latifúndio, repartir a terra, que os camponeses, então, resolveriam os seus problemas. Porém, o que nós aprendemos nos últimos anos e, sobretudo, na última década, que a missão agora dos camponeses não é apenas ter terra para trabalhar com a sua família. A missão que nós temos que ter é: conquistando a terra, que é fundamental e necessária, o que fazer com a terra. A terra não é só para trabalhar, a terra é para produzir alimentos saudáveis para toda a população. A forma de nós produzirmos alimentos saudáveis sem veneno é adotando as técnicas de agroecologia, que é um conhecimento científico, que procura orientar como você pode produzir alimentos sem usar veneno em equilíbrio com a natureza.

Brasil de Fato: O MST tem expandido a cada ano a experiência de feiras agroecológicas em diversas cidades do país. Por que o movimento tem apostado nessa estratégia?

João Pedro Stedile: Felizmente, tanto estimulado pelo MST, como por outros movimentos, e pela sociedade em geral, que entendeu a mensagem, nós hoje temos no Brasil inteiro a multiplicação de feiras que os assentados têm feitos nas cidades para oferecer os alimentos saudáveis e, ao mesmo tempo, dialogar com a sociedade. Eu acho que isso é a melhor maneira de nós fazermos propaganda da reforma agrária popular. E é por isso que a reforma agrária, então, adquiriu esse adjetivo de reforma agrária popular. Porque agora, a luta pela terra não é só para resolver o problema dos camponeses. Agora, a luta pela terra é para você resolver o problema de alimentar todo o povo, então a reforma agrária deixou de ser camponesa, para ser uma reforma agrária popular. A população sabe se ela depender só do supermercado e do agronegócio, ela vai se envenenada. Então a população está descobrindo que a forma de ela ter um alimento mais saudável é ir nessas feiras da reforma agrária, nessas feiras de agroecologia, e poder comprar alimentos baratos e sem o uso de agrotóxicos.

- Edição por Camila Maciel.

- Foto por Rica Retamal.

Fonte: Brasil de Fato

Temas: Tierra, territorio y bienes comunes

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