Brasil: Descaso da Samarco e do governo decepciona ribeirinhos na foz do Rio Doce no Espírito Santo

Por MAB
Idioma Portugués
País Brasil

“Ficamos na expectativa, não de perder a esperança, mas de buscar fortalecer as pessoas da comunidade para que não desistam dela”, explica Alessandro Pescador, morador de Regência.

A lama da Samarco/Vale/BHP-Billiton percorreu aproximadamente 800 Km, de Mariana-MG até a foz do Rio Doce em Regência, no litoral do Espírito Santo. Deixou um rastro de destruição, mortes e muita tristeza por onde passou. Às vésperas de completar um ano do maior crime ambiental do Brasil, muita coisa ainda não foi feita. Muitas pessoas ainda vivem inseguras com o futuro de suas famílias. O Rio Doce já não é mais lugar de sobrevivência e diversão. É um leito triste e, pelo que parece, já esquecido por alguns.

No município de Linhares-ES, os distritos de Regência e Povoação foram diretamente atingidos, pois estão à margem do Rio Doce de um lado e à suas frentes a imensidão do oceano. Segundo vários pescadores e moradores, a lama contaminada está impregnada no fundo do rio e nos dias de ventania as águas agitadas fazem com que o barro solte novamente. Eles afirmam que em determinadas épocas do ano, o rio ficava sujo devido a grandes chuvas na região mais alta do rio, porém em pouco tempo voltava ao normal. Coisa que não acontece mais há um ano. A água ficou turva e a maioria das pessoas não tem coragem de tomar banho ou comer peixes do Rio Doce, com medo da contaminação. Os relato são sempre quase os mesmos e sempre com emoção.

“Ficamos na expectativa, não de perder a esperança, mas de buscar fortalecer as pessoas da comunidade para que não desistam dela”, explica Alessandro Pescador, morador de Regência e funcionário do Projeto Tamar, de preservação ambiental. De acordo com ele, muitas pessoas foram no rio e no mar dar um último mergulho antes da lama chegar na vila. Pois não sabem se tudo voltará ao normal. Ele sempre teve contato, desde a infância, com o Rio Doce, por ser favorável à uma boa condição de vida, mesmo de forma simples. “Nós como moradores da comunidade temos a esperança de que nós possamos acolher as pessoas novamente tenhamos dias melhores”, finaliza Pescador.

Em Regência, há muitos caminhões pipa com água potável circulando o dia todo. Já em Povoação é o contrário, porém foram feitos alguns poços artesianos. O problema é que estão próximos a fossas e do Rio Doce contaminado. Isto obriga os ribeirinhos, inclusive em Regência, a comprarem água mineral, o que provoca um custo a mais no seu dia-a-dia.

Em Povoação há muitas reclamações pela falta de atenção do Estado e da Samarco. Inclusive por não saberem dos resultados de tantas coletas do solo e da água que foram feitas para análises de qualidade. “Não tem ninguém da Samarco aqui mais. Às vezes marcam uma reunião e desaparecem. Agora contrataram uma empresa (Synergia Socioambiental) para não ter mais contato com a gente”, desabafa o pescador Adinaldo, 39 anos.

Para Adinaldo a chegada da lama foi um desastre, pois tiravam do rio o sustento de suas famílias e hoje estão proibidos de pescar. “Nesta época do ano, aqui era cheio de gente que vinha tomar banho de rio e hoje não tem ninguém, pois quando a lama chegou tínhamos medo de colocar a mão na água, pois não sabíamos o que havia nela”, relata.

É autorizada a reprodução desta matéria e fotos, desde que o texto não seja alterado e com os devidos créditos. O Terra Sem Males – Jornalismo Independente faz parte de uma expedição que começou no dia 19/10 em Regência-ES e terminará no dia 05/11 em Mariana-MG, buscando informações sobre o maior crime ambiental do Brasil, que continua impune.

- Fotos por Joka Madruga/Terra Sem Males.

Fonte: Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB)

Temas: Minería, Tierra, territorio y bienes comunes

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