Brasil: Mais de duas mil famílias perderão suas casas e plantações no Pará

Idioma Portugués
País Brasil

A operação atende aos pedidos dos fazendeiros da região que nos últimos meses vem exigindo do Governo do Estado e do Juiz da Vara Agrária de Marabá, o cumprimento das liminares e o despejo das famílias.

Cerca de oito mil pessoas entre homens, mulheres e crianças, estão sendo expulsas de suas casas e tendo suas plantações destruídas em uma mega operação de despejo que iniciou em Marabá, Pará, no início da semana passada. Por ordem do Governo do Estado, 115 policiais do Batalhão de Choque da Polícia Militar, permanecerão na região por tempo indeterminado, para cumprir liminares em 20 fazendas localizadas nos municípios próximos de Marabá. As liminares foram expedidas pelo juízo da Vara Agrária de Marabá e pelo Tribunal de Justiça do estado.

A operação atende aos pedidos dos fazendeiros da região que nos últimos meses vem exigindo do Governo do Estado e do Juiz da Vara Agrária de Marabá, o cumprimento das liminares e o despejo das famílias.

Três das fazendas (Cedro, Maria Bonita e Fortaleza) em que as famílias serão despejadas pertencem ao grupo Santa Bárbara, do Banqueiro Daniel Dantas. Essas três fazendas estão ocupadas desde 2009 por 850 famílias ligadas ao MST. Na fazenda Maria Bonita 212 dessas famílias já estão na posse da terra há quatro anos. Cada uma reside em seu lote, tem sua casa com energia instalada e uma vasta produção de alimentos. Há seis anos que o Grupo Santa Bárbara fechou um acordo de venda dessas fazendas para o Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra). O processo está na fase final para pagamento. A Santa Bárbara não exerce atividade em nenhuma dessas fazendas. A pergunta que os movimentos fazem é: se o Incra está comprando os imóveis, porque o justiça vai mandar despejar essas famílias?

A Fazenda Fortaleza, com áreas de 2.900 hectares, é resultado de uma fraude grosseira, na verdade, conforme informações do próprio INCRA, a área a sua totalidade é composta de terra pública federal, devidamente arrecada e matriculada em nome da União. Criminosamente, foi utilizado um título “voador”, expedido pelo Estado do Pará, para outra área, a mais de 150 km do local, localizada no município de Água Azul do Norte.

A Santa Bárbara comprou os três imóveis da família Mutran. São antigos castanhais que foram destruídos e sua finalidade desviada para a formação de pastagem e criação de gado. As liminares foram conseguidas no ano de 2010 num processo nebuloso, envolvendo uma juíza de Marabá. Em pleno funcionamento da Vara Agrária, a juíza recebeu os pedidos de reintegração de posse em um plantão de fim de semana. Ignorou todos os procedimentos obrigatórios da Vara Agrária e deferiu as liminares no mesmo dia. Na segunda feira seguinte, a juíza titular da Vara Agrária cassou todas as liminares e marcou audiência para ouvir as partes e os órgãos de terra. O grupo Santa Bárbara recorreu da decisão e o Tribunal confirmou a decisão da juíza do plantão. Há 7 anos que essas liminares se arrastam e agora o juiz da Vara Agrária determinou o seu cumprimento.

Outro imóvel ocupado por 200 famílias do MST é a Fazenda Santa Tereza. Um antigo castanhal, estruído e transformado em pastagem pela família Mutran. O último comprador do aforamento foi o empresário Rafael Saldanha. Mesmo sabendo dos crimes ambientais praticados no interior do imóvel e de uma decisão da Vara Agrária de Marabá que confirmava a propriedade do castanhal como sendo do Estado do Pará, o ITERPA, numa operação definida pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Estado do Pará como fraudulenta, titulou definitivamente o imóvel em nome do Empresário. De posse do título, o empresário requereu o despejo das famílias.

Apenas nas fazendas Maria Bonita e Santa Tereza, são 255 crianças que atualmente estão matriculadas e frequentando a sala de aula no local. O despejo das famílias significará a perda do ano letivo para todas elas.

As outras áreas onde as famílias já estão sendo despejadas envolvem grupos menores e são ligadas
outros movimentos sociais. Algumas delas incidem em terras públicas e as famílias já residem e produzem no local há nãos, mesmo assim, estão sendo despejadas. Os despejos ocorrem no momento em que inicia o período chuvoso e as famílias já estão plantando suas roças. Despejadas, as famílias não terão para onde ir. A situação é de desespero e indignação.

Para proteger o interesse de uma meia dúzia de latifundiários, o Estado e o Poder Judiciário dá as costas para mais de duas mil famílias que só querem terra para morar e produzir.

Fonte e foto: MST - Brasil

Temas: Criminalización de la protesta social / Derechos humanos, Tierra, territorio y bienes comunes

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