Brasil: Sem Terra ocupam latifúndio no interior de São Paulo

Idioma Portugués
País Brasil

Cerca de 300 famílias ocuparam o latifúndio Santa Maria, de propriedade do Grupo Atalla, que já foi autuada por trabalho escravo e degradante em suas áreas.

Na madrugada do último sábado (12), cerca de 300 famílias da regional de Promissão ocuparam o latifúndio Santa Maria, de propriedade do Grupo Atalla em Pirajuí.

As famílias Sem Terra já entraram na fazenda, que encontra arrendada para plantio de cana de açúcar, plantando alimentos como sinal de permanência e reivindicação para que a área seja destinada para fins de Reforma Agrária.

O Grupo Atalla possui diversas empresas em outros ramos, entre elas a Central Paulista de Açúcar e Álcool em Jaú-SP e a Central de açúcar e álcool em Porecatu, Paraná, ambas com filiais em todo o estado; O Grupo também tem a Ciplan Cimentos Planalto que opera no ramo de cimentos e construção civil no Distrito Federal e a Central Paulista de Inseminação Artificial (Haras Atalla), onde desde 1970, com o objetivo de melhorar a genética de raça de touros para leilão, produz cerca de 36 mil doses de sêmen ampoladas por semana.

No site da ANAC (Agencia Nacional de Aviação Civil), na lista de aeródromos particulares, aparece o heliporto particular da família na Fazenda Santa Maria.

Desde o ano de 2008, o MST já ocupou 14 fazendas do Grupo no Paraná, somando um total de 25 mil ha. Isso, segundo dados da própria empresa que reclama do governo do estado por este não cumprir com a reintegração de posse no estado, mesmo apos liminar judicial.

O grande problema para o Grupo é que ao juntar as unidades da Usina Central do Paraná a produção de cana para moagem em safra normal é de 2 milhões de toneladas, o que resulta em 4 milhões de sacas de açúcar e 50 milhões de litros de etanol. Porém, para cumprir com essa meta é preciso 5 mil trabalhadores boias frias. A maioria deles fez greve contra a empresa, que já foi autuada por trabalho escravo e degradante e ainda assim foi apoiada por diversos setores populares da região de Porecatu. E em resposta à greve, o grupo de segurança foi trocado por jagunços para conter o processo de luta dos trabalhadores.

Por conta das ocupações e permanência do MST nessas áreas, parou-se parte da produção. Apenas 1200 pessoas continuaram trabalhando. Recentemente o grupo Atalla anunciou o investimento de R$ 100 milhões "para recuperação de canaviais degradados, destruídos pelo MST".

Diante do não cumprimento dos despejos, o Grupo Atalla exigiu uma indenização de R$ 18,4 milhões do governo por danos e pelo não cumprimento da reintegração de posse em suas áreas desde 2008.

Na Fazenda Variante, área de 1.406,50 ha, ocupada pelo MST, havia trabalho escravo já autuado pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) e pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Além disso, de acordo dados do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), o Grupo possui uma área grilada no estado do Acre, chamada Fazenda Califórnia, com 427.390 ha., no município de Feijó.

Histórico do Grupo Atalla:

As usinas de açúcar e álcool do Grupo Atalla foram ao auge nos anos 70. Jorge Wolney Atalla - proprietário da Fazenda Santa Maria, foi o presidente de honra da Copersucar, maior exportadora brasileira de açúcar e etanol no mercado mundial. Atualmente, a Companhia é responsável pela exportação de 55% da produção de açúcar e 60% da produção de álcool produzidos no país.

Jorge Wolney Atalla também foi um dos criadores do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) para desenvolver variedades genéticas mais produtivas, que inicialmente, tinha como controlador único a Copersucar e hoje estão entre seus principais acionistas empresas como o Grupo Raízen, Odebrecht, São Martinho, Bunge, Tereos, Coruripe e Santa Terezinha.

O atual proprietário do Grupo Atalla é Jorge Wolney Atalla Jr, mas seu pai que faleceu em 2009, era engenheiro formado nos EUA com especialização em petróleo. Trabalhou na refinaria de Cubatão durante o governo Geisel (seu amigo).

O Grupo Atalla foi um dos financiadores da Operação Bandeirantes (OBAN) em São Paulo. A OBAN foi o maior esquema de caça aos militantes de esquerda, tortura, assassinato e desaparecimento durante a ditadura civil-militar e era comandado pelo Exército.

Não por acaso, os governos militares concederam empréstimo de cerca de 300 milhões de dólares para o Grupo Atalla. Com prazo á perder de vista, os quais nunca foram devolvidos aos cofres públicos.

Foi também presidente da Cruz Vermelha em São Paulo e seu filho Jorge Wolney Atalla Junior continua como presidente da Instituição. A participação de Emerson Fitipaldi na Formula 1 era financiada pelo Grupo Atalla, através da Coopersucar. O salario de Fitipaldi na época era de250 mil dólares.

Cenário atual:

As usinas em falência foram arrendadas, em parte para Cosan que é o maior grupo usineiro do país, e também para Usina Equipav (um complexo de usinas, mineradoras, construtora, entre outros negócios).

Segundo informações de Sindicatos da região, quando arrendou para o Grupo Cosan, - desde novembro de 2007 para cá -, o Grupo Atalla demitiu mais de 3 mil trabalhadores no estado de São Paulo, sem acertar os direitos trabalhistas. Existem 700 ações judiciais movidas por trabalhadores contra o Grupo que tramita em duas Varas do Trabalho em Jaú.

Entre os trabalhadores lesados estão: cortadores de cana, trabalhadores da indústria química e alimentação (produção de açúcar e álcool), motoristas de transporte de cana e vigilantes.

As demissões em massa se deram por conta do acordo de arrendamento entre o Grupo Atalla e o Grupo Cosan. A Cosan pagou antecipado por cinco anos de arrendamento, mesmo assim não foi pago os trabalhadores por parte da Atalla.

Sindicatos de Trabalhadores Rurais de Jaú, Mineiros do Tietê, Igaraçu e Barra Bonita denunciaram a empresa para o MPT. Também Sindicatos dos Trabalhadores da Indústria da Alimentação e Sindicato das Empresas de Transporte fizeram denúncias.

Situação Judicial:

Segundo informações do Jornal da Cidade/Bauru e Jornal do Comercio do Jaú, a Justiça do Trabalho de Jaú bloqueou contas bancarias do Grupo Atalla para pagamentos de rescisões de contrato de mais de 800 trabalhadores demitidos, atendendo liminar em ação civil publica da Procuradoria Regional do Trabalho de Bauru, da 15 ° Região.

Em 2008, a liminar foi concedida pelo Juiz José Roberto Tomazzi, da 1° Vara do Trabalho da Comarca de Jaú.

De acordo o procurador do Trabalho, Luís Henrique Rafael, aproximadamente R$ 2,5 milhões foram bloqueados das contas bancárias de empresas do Grupo. Após Justiça determinar o bloqueio dos ativos financeiros do Grupo, esse valor foi repassado para uma conta judicial e esta à disposição da Justiça do Trabalho.

Fonte: MST - Brasil

Temas: Tierra, territorio y bienes comunes

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