Huoarani contra a exploração petrolífera no Parque Yasuni

Idioma Portugués
País Ecuador

Pedido de adesão ao documento político dos Huoarani contra a exploração petrolífera no Parque Yasuni, Ecuador, "pela nossa vida e pela possibilidade de um futuro sustentável para as nossas crianças e para todos os seres da terra"

Caros/as companheiros/as,

Todos/as devem ter acompanhado as notícias dos últimos dias sobre o protesto dos indígenas Huaorani contra a atuação da Petrobrás no Equador que resultou no rompimento do acordo que haviam feito com a empresa e em uma marcha com a presença de mais de 100 indígenas em Quito para a entrega de um documento ao presidente do Equador.

Estamos, a partir do Brasil, apoiando essas ações, pois como sociedade civil organizada acreditamos que devemos estar atentos à atuação das companhias brasileiras fora do país no que se refere ao respeito aos direitos dos cidadãos ao meio ambiente, e fortalecer demandas como a construida pelos movimentos sociais no Equador.

Estamos divulgando a carta política que os huaorani entregaram hoje ao presidente Alfredo Palacio e pedindo às entidades da sociedade civil que a endossem.

As adesões devem ser enviadas para rb.gro.esaf@tsusrb
Obrigada!

Julianna Malerba
Projeto Brasil Sustentável e Democrático/FASE
Rede Brasileira de Justiça Ambiental
www.justicaambiental.org.br

NA FLORESTA TEM DIREITOS! JUSTIÇA AMBIENTAL NA AMAZÔNIA.

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Carta aberta do povo Huaorani ao governo de Alfredo Palacio, para os povos do Equador e do mundo, pela autodeterminação dos Huaorani e contra a Petrobras no Bloco 31

As comunidades da nação Huaorani rejeitam o acordo entre o ex-presidente da Organização da Nacionalidade Huaorani da Amazônia Equatoriana (ONHAE), Armando Boya, com a Petrobras, porque as comunidades não foram consultadas e o acordo não representa o que nós queremos para o nosso futuro. Nenhum líder da ONHAE tem o direito de firmar nada com ninguém sem o consentimento livre, anterior e informado de nossas comunidades.

Nós não queremos mais companhias de petróleo em nossos territórios ou no Parque Nacional Yasuni. Não queremos mais o dinheiro dessas empresas.

Nosso território se estendia desde o rio Curaray até o rio Napo. Nós o perdemos depois da chegada dos missionários, que trabalharam em conjunto com a indústria do petróleo. Agora, o pequeno espaço que foi deixado para nós tem sido dividido e contaminado pelos mesmos produtores de petróleo.

Hoje, a área ocupada pela Petrobras é o único lugar que nos resta. Não temos mais nada. Por esse motivo, não a queremos em nosso território. O que vai acontecer quando nossos filhos crescerem? Onde eles vão viver quando forem mais velhos? Nossos rios são tranqüilos e nas florestas encontramos comida, remédios e outras coisas de que precisamos. O que vai acontecer quando as companhias de petróleo terminarem de destruir o que ainda temos?

Nos acordos que assinamos com outras indústrias, como a Repsol-YPF, as coisas foram mal para nós. Todo o nosso dinheiro é gerenciado por companhias, como Entrix, que estão enriquecendo. Eles usam nossos fundos para nos dividir, criando e mantendo um sistema de dependência que coloca as vidas dos Huaorani em perigo.

Há 15 anos nos reunimos como um povo, mas as indústrias chegaram para nos dividir. Agora os Huaorani estão deixando suas terras para trabalhar para as companhias. E cada vez nos tornamos mais pobres. Os Huaorani compram bebidas alcoólicas com o dinheiro que ganham das petroleiras, e estão se mudando para Puyo. Outros têm ido viver na Estrada Maxus; eles já não vivem como vivíamos antes. Eles compram armas e vendem animais, e por causa disso não há mais macacos, não há mais comida. Eles saem para beber coca-cola e cerveja. Nossas florestas vão ficando vazias, e dessa maneira nossa nação está sendo morta.

Tudo isso é culpa das companhias de petróleo.

As comunidades Tagaeri e Taromenani estão em perigo. Há dois anos, membros dessa comunidade foram assassinados. A indústria do petróleo está criando um estado de violência entre nossas comunidades e com as comunidades vizinhas, e isso tem de ser evitado.

Outros povos estão chegando ao nosso território através das estradas do petróleo. Eles cortam árvores para vender, e também caçam animais da floresta. Não há ninguém para controlar isto. Nós somos muito poucos. Precisamos do respeito deles para que não desapareçamos. Devemos nos unir com nossos irmãos indígenas da Amazônia. Não temos que lutar com outros povos. Só unidos seremos capazes de nos defender, mas precisamos deter a vinda de mais gente para o nosso território.

Quanto dinheiro a Repsol-YPF está gastando em nome dos Huaorani? O que vai acontecer quando os acordos acabarem? Nós não queremos renová-los. Eles não nos beneficiam nem um pouco.

Os profissionais de relacionamento entram em nossas comunidades sem nossa permissão. Eles criam muito conflito com as comunidades. Eles são quem nos entrega para as petroleiras. Isso aconteceu com Milton Ortega. Ele não deve mais entrar nas terras dos Huaorani.

Agora nós sabemos o que as petroleiras fazem quando entram em nossas terras. Elas poluem, como a Texaco e outras companhias têm feito, e são seguidas pelas madeireiras. Não podemos continuar desta maneira.

Precisamos que as comunidades definam o modo como querem viver. Queremos que as decisões que tomamos em nossas comunidades sejam tomadas de maneira mais participativa, a partir das bases, em que há presença dos velhos, as pessoas mais sábias da nossa nação. Eles respeitam o meio ambiente e os nossos costumes. Nossos direitos são coletivos. Quando decisões afetam as vidas dos Huaorani, elas precisam ser tomadas coletivamente.

No Parque Nacional Yasuni, há muitos estrangeiros que vêm com as estações científicas. Há biólogos, antropólogos e outros cientistas, e não nos trazem o menor benefício. Antes, nosso território nos pertencia. Agora, é um parque nacional e território Huaorani, totalmente dividido em blocos. Nós não entendemos tudo isso. Queremos administrar nosso território. Queremos continuar a viver como Huaorani.

Em maio deste ano, dois líderes Huaorani compareceram às reuniões do Fórum Permanente de Questões Indígenas da Organização das Nações Unidas. Lá, demos a entender ao mundo os nossos problemas com as companhias de petróleo e conhecemos o sofrimento de outros povos, povos que estão desaparecendo. Não queremos segui-los.

Com isto, requeremos:

1- Que o governo do Equador institua imediatamente moratória de dez anos da exploração de petróleo em territórios indígenas.
2- Que o governo do Equador, o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial se reúnam com os povos indígenas do Equador para discutir a moratória e o cancelamento de parte da dívida externa do Equador.
3- Que Lula, o presidente do Brasil, tire a Petrobras do Parque Nacional Yasuni e do território Huaorani.
4- Que uma delegação do governo equatoriano venha verificar o que as companhias de petróleo têm feito no Parque Nacional Yasuni e no território Huaorani, de modo que possam ver por si mesmos a poluição e o impacto que isso tem tido em nosso território.
5- Que o Estado do Equador cumpra suas obrigações com o povo Huaorani quanto a educação, saúde e outras necessidades básicas, de modo a romper nossa dependência das empresas petroleiras.
6- Que o governo do Equador convide um Relator Especial das Nações Unidas para os Direitos Humanos e Liberdades Fundamentais dos Povos Indígenas a visitar o Equador, para que ele possa entender a vida dos povos indígenas como é vivida atualmente.
7- Que o governo do Equador dê proteção especial para os territórios das comunidades Tagaeri e Taromenani.
8- Que o governo do Equador apóie o povo Huaorani para obter reparações pelos danos ambientais e sociais causadas pela Texaco e outras petroleiras.
9- Que o governo do Equador abra uma auditoria da Entrix e outras organizações que recebem dinheiro em nome dos Huaorani.
10- Que Milton Ortega e outros profissionais de relacionamento deixem nosso território.
11- Que o governo do Equador encontre formas alternativas de energia para substituir o petróleo, que não destrua as vidas das pessoas e do meio ambiente.

Convidamos todas as nações indígenas do Equador, da Amazônia e do mundo a se unirem a nós. Também convidamos ecologistas, ONGs, entidades e pessoas de todo o mundo a se juntarem a nós nesta luta pela nossa vida e pela possibilidade de um futuro sustentável para as nossas crianças e para todos os seres da terra.

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