Mais evidências da letalidade do glifosato para vertebrados

Por AS-PTA
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O Departamento de Herpetologia da Sociedade Científica Arazandi, no País Basco, analisou os efeitos doherbicida glifosato (ingrediente ativo do Roundup, da Monsanto, usado nas lavouras transgênicas RoudupReady - RR), sobre espécies de anfíbios que ocorrem na Europeus.

Os resultados não deixam margem paradúvidas: doses menores do que as recomendadas pelos fabricantes produzem uma mortalidade absoluta paraas 10 espécies estudadas.

O glifosato é um dos herbicidas mais empregados no mundo e a Organização Mundial de Saúde o classifica como levemente tóxico para humanos. No Brasil, várias das formulações registradas a base de glifosato têm classificação toxicológica IV (Pouco Tóxico), e a maioria delas tem classificação ambiental III, numa escala de I a IV em que I representa o maior perigo para o meio ambiente e IV o menor. Existe, entretanto, uma crescente controvérsia a respeito da segurança do produto tanto para a saúde como para o meio ambiente.

Em 2010, a revista Chemical Research in Toxicology, da Sociedade Americana de Química (ACS, na siglaem inglês), publicou a pesquisa de Andrés Carrasco, chefe do Laboratório de Embriologia Molecular daUniversidade de Buenos Aires (UBA), intitulada “Herbicidas a base de glifosato produzem efeitosteratogênicos em vertebrados interferindo no metabolismo do ácido retinoico”. Durante 30 meses ospesquisadores estudaram o efeito do glifosato em embriões de anfíbios e os resultados demonstraramdeformações produzidas pelo veneno em concentrações até 5 mil vezes menores do que as do produtocomercial (500 vezes menores do que as utilizadas na agricultura).

No novo estudo realizado ao longo de três anos no País Basco os resultados ecotoxicológicos mostram que as doses recomendadas por distintos fabricantes superam amplamente as concentrações toleradas pelas espécies analisadas.

Os estudos mostraram também que em doses menores que as letais, que não produzem mortalidade no curto prazo, no longo prazo podem também afetar a biologia e o comportamento dos anfíbios, bem como seu crescimento, estado de saúde ou capacidade de escapar de predadores.

Em sua nota à imprensa, a Sociedade Científica Arazandi afirma que “não resta a menor dúvida de que oglifosato afeta negativamente os ecossistemas naturais, sobretudo os meios aquáticos, onde tende aacumular-se. Nestes ambientes seu efeito é multiplicado, já que o produto afeta toda a cadeia trófica, tantonos níveis basais, eliminando o fitoplâncton que nutre muitos organismos, como animais maiores, comopeixes e anfíbios”.

Outro estudo recente, publicado este mês na revista científica Ecological Applications, também aponta que oglifosato é capaz de provocar deformidades em anfíbios.

Rick Relyea, professor de ciências biológicas e diretor do laboratório de ecologia da Universidade dePittsburgh, nos EUA, que há duas décadas estuda ecologia e ecotoxicologia, conduziu uma vasta pesquisasobre a toxicidade do Roundup a anfíbios (alguns de seus estudos foram criticados pela Monsanto, e as respostas do pesquisador estão publicadas em sua página, no site da Universidade). Em seu último estudo, Relyea colocou grandes tanques de água ao ar livre contendo muitos dos componentes de áreas úmidasnaturais. Alguns tanques continham predadores presos em gaiolas, que produzem substâncias químicas quenaturalmente induzem mudanças na morfologia dos girinos (como caudas maiores para melhor escapar dospredadores). Depois de colocar os girinos em cada tanque, o pesquisador os expôs a uma gama deconcentrações de Roundup.

Os dados mostraram que exposição a doses sub-letais do herbicida causou o crescimento anormal das caudas dos girinos. “Não foi uma surpresa ver que o cheiro de predadores na água induziu o aumento do tamanho das caudas dos girinos”, declarou Relyea. “Isso é uma resposta adaptativa normal. O que nos chocou foi que o Roundup induziu as mesmas mudanças. Mais ainda, a combinação de predadores e Roundup levou o tamanho das caudas a ficar duas vezes maior”.

Segundo Relyea, este é o primeiro estudo a mostrar que um agrotóxico é capaz de induzir mudanças morfológicas em um vertebrado animal.

“Predadores provocam mudanças no formato das caudas de girinos ao alterar seus hormônios relacionados ao stress”, disse Relyea. “As mesmas mudanças de formato verificadas em função da exposição ao Roundup sugerem que o herbicida pode interferir nos hormônios dos girinos e, potencialmente, de muitos outros animais.”

Segundo Relyea, “A descoberta é importante porque anfíbios servem não somente como um barômetro dasaúde dos ecossistemas, mas também como um indicador dos perigos potenciais para outras espécies nacadeia alimentar, incluindo os humanos”.

No Brasil o uso do glifosato aumentou exponencialmente após a introdução das lavouras transgênicas.Segundo dados divulgados pela Anvisa, o uso do glifosato no Brasil entre 2003 e 2009 saltou de 57,6 mil para300 mil toneladas.

O produto também está entre os 14 ingredientes ativos que a Anvisa colocou em reavaliação toxicológica em 2008. Nesses processos de reavaliação, caso a análise das novas evidências científicas confirmem a insegurança do produto, os órgãos registrantes podem determinar a alteração da classe toxicológica, impor restrições de uso ou de comercialização, ou até mesmo cancelar o registro. Mas a reavaliação do glifosato até hoje não foi concluída.

Com informações de:

- “El glifosato: letal para los anfibios del País Vasco” – Baserri Bizia, 01/02/2012.

- Roundup causes deformities in a vertebrate – GMWatch, 04/04/2012.

- New Study Is First to Show That Pesticides Can Induce Morphological Changes in Vertebrate Animals, SaysPitt Researcher – University of Pittsburgh News, 30/03/2012.

Fuente: ASP-TA

Temas: Agrotóxicos

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