A emissão de gases de efeito estufa se acelera e bate recordes em 2010

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“É urgente que essa negociação concretize novas medidas. Se a emissão de gases de efeito estufa se detivesse hoje, seus efeitos continuariam aumentando a temperatura por mais 20 anos”, detalha Javier Martín-Vide.

Mais e cada vez mais rapidamente. A emissão dos chamados gases de efeito estufa, que provocam o aquecimento global, continuou disparando no não passado devido à atividade humana e bateu recordes que garantem o aumento da temperatura média do planeta “durante décadas”, advertiu nesta segunda-feira o relatório anual da Agência da ONU para o clima. O dado incide sobre a necessidade de reduzir este tipo de gases na atmosfera a apenas uma semana do início, na África do Sul, da reunião internacional da ONU sobre mudanças climáticas para negociar como agir depois do Protocolo de Kyoto, que expira no final de 2012. “É urgente que essa negociação concretize novas medidas. Se a emissão de gases de efeito estufa se detivesse hoje, seus efeitos continuariam aumentando a temperatura por mais 20 anos”, detalha Javier Martín-Vide, professor de Geografia Física da Universidade de Barcelona e especialista em mudanças climáticas.

A reportagem é de Ferran Balsells e está publicada no jornal espanhol El País, 22-11-2011. A tradução é do Cepat.

Este contínuo aumento de emissão de gases de efeito estufa deixa o planeta diante de um cenário incerto: os cientistas já consideram uma quimera conter o aquecimento abaixo de dois graus centígrados, umbral a partir do qual a ONU considera que o fenômeno provocaria efeitos irreversíveis. Quais? “Ninguém sabe com exatidão, mas não serão positivos”, adverte Martín-Vide. Para além do retrocesso dos glaciares, do aumento das inundações pelo aumento do nível dos oceanos e da perda de biodiversidade, não se pode prever como a Terra irá reagir a um aumento considerável e prolongado da temperatura.

“Os sistemas naturais não são lineares: costumam sofrer mudanças bruscas imprevisíveis. Pode haver um momento, não sabemos qual, a partir do qual os gases de efeito estufa comecem a gerar efeitos incontroláveis e irreversíveis. O problema é que cientificamente não podemos determinar esse ponto, mas estamos nos aproximando”, detalha Gerardo Benito, pesquisador do SCIC especialista em fenômenos climáticos extremos. No momento, a atividade humana já está contribuindo para o aumento do número de dias com calores extremos, segundo um estudo da ONU do qual Benito participou e que foi publicado na semana passada. “Há um consenso global em que estamos indo na direção equivocada. É importante que os Governos cheguem a acordos sobre outro tipo de políticas para evitar incertezas e riscos”, assinala Benito.

Por enquanto, a única coisa clara é que o aquecimento global persistirá, caso não se pactuarem novas medidas em Durban. Em 2010, com o Protocolo de Kyoto ainda em vigor, a emissão de gases de efeito estufa aumentou 1,4% em relação ao ano anterior. Trata-se do maior aumento registrado nos últimos sete anos devido, basicamente, à recuperação da atividade industrial após a crise econômica global e ao uso generalizado de combustíveis fósseis, como o petróleo e o carvão.

“Sabemos a que se deve, mas mudar o modelo energético e econômico é difícil e está sendo muito lento”, resume Martín-Vide. Este modelo se caracteriza pela emissão de gases como o dióxido de carbono (CO2), principal substância que representa 64% do efeito estufa e precisamente aquele que continua aumentando com maior rapidez.

Em 2010, a presença de CO2 aumentou 0,59% em relação ao ano anterior: 2,3 moléculas de gás por cada milhão de moléculas de ar (ppm). Isso representa um ritmo ainda maior que o crescimento médio da última década (2 ppm por ano) e muito superior à média dos anos 1990 (1,5 ppm). Os outros gases considerados mais nocivos, o metano e o dióxido de nitrogênio, também aumentaram, embora com menor intensidade, respectivamente 0,28% e 0,25% em relação a 2009.

“Se Kyoto expirar e não se encontrar nenhum outro protocolo substitutivo, a situação será ainda mais grave”, avisa Martín-Vide. Durante as últimas reuniões antes de Durban, apenas a União Europeia se comprometeu a adotar novas políticas para conter a mudança climática. Os países mais poluidores, basicamente a China e os Estados Unidos – o único dos grandes emissores de CO2 que não ratificou o Protocolo de Kyoto –, mostraram-se partidários de priorizar a necessidade de crescimento econômico em vez de políticas contra o aquecimento. “É um erro: muitas atividades econômicas podem naufragar devido ao efeito do aquecimento global”, precisa Benito.

“E seria preferível não comprovar qual é o limite de aquecimento que o planeta é capaz de suportar”, acrescenta Martín-Vide.

Fuente: Instituto Humanitas Unisinos

Temas: Crisis climática

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