Brasil: Paraná amplia debate sobre os riscos dos transgênicos

Idioma Portugués
País Brasil

"Manter a soberania sobre a multiplicidade das sementes desenvolvidas pelos produtores brasileiros"

O governador Roberto Requião afirmou nesta quarta-feira (16), durante o encerramento do 1º Encontro Técnico de Soja Pura do Paraná, que manter a soberania sobre a multiplicidade das sementes desenvolvidas pelos produtores brasileiros é fundamental para a independência do Estado e do país.

"A soja transgênica representa a dominação dos nossos agricultores. Nossa reação contra ela no Paraná não é apenas contra o monopólio da Monsanto mas também para que possamos, progressivamente, evidenciar aos consumidores a qualidade do que é produzido e exportado pelos produtores paranaense", explicou.

O governador também lembrou que a soja transgênica produzida pelos agricultores dos Estados Unidos vem, sistematicamente, perdendo espaço no mercado internacional, em especial nos países da Europa. "Eles exportavam 16 milhões de toneladas e hoje não ultrapassam 9 milhões. Nós vamos crescer nesse vácuo deixado pelo americanos porque temos qualidade".

Requião também lembrou que a produtividade da soja convencional cultivada no Estado é maior que a da geneticamente modificada. "Se a produtividade da soja transgênica fosse realmente fantástica, poderíamos até pensar em plantá-la, mas a produtividade paranaense é uma vez e meia maior que a americana e duas vezes superior à do Rio Grande do Sul", comparou.

Painéis ? O 1º Encontro Técnico de Soja Pura do Paraná, organizado pelo governo do Estado, foi aberto pelo vice-governador e secretário da Agricultura e do Abastecimento, Orlando Pessuti. O objetivo foi ampliar os debates, junto aos técnicos das Secretarias de Estado, sobre os riscos da soja transgênica.

Pessuti destacou que a postura de precaução adotada pelo governo do Paraná. "Estamos apontado, de forma incansável, os riscos que agricultores estão correndo diante de possibilidade de um lucro econômico imediato, sem antes questionar e obter respostas mais seguras quanto aos possíveis danos que a soja transgênica pode trazer ao meio ambiente e para a saúde humana", lembrou.

Também participaram do encontro o procurador de Justiça Saint-Clair Honorato Santos; o secretário do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Luiz Eduardo Cheida; o delegado do Ministério da Agricultura no Paraná Valmir Kovaleski de Souza; o professor Miguel Pedro Guerra, da UFSC; o representante da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Silvio Valle; a advogada e consultora Andréa Lazzarini; o professor e economista Victor Pelaez Alvarez, da UFPR; e o economista Jean Marc Von der Werd.

Pesquisas - Segundo o professor Miguel Guerra, quando a soja transgênica foi introduzida no Brasil, há menos de uma década, trouxe junto um conceito não oficial de que o produto era adaptado às condições ambientais e de que seu manejo seria mais econômico. "Porém, ao longo dos anos, o herbicida indicado para o controle de pragas e doenças da soja geneticamente modificada passou a apresentar cada vez menos resistência", afirmou. "É uma constatação que vem comprovar a falta de pesquisa e de experimentos sérios sobre o assunto".

O pesquisador Silvio Valle, da Fiocruz, uma das mais respeitadas instituições de pesquisas no Brasil e no exterior, também alertou sobre a falta de segurança nas pesquisas realizadas com a soja transgênica em outros países. Citou o caso de estudos realizados por laboratórios privados norte-americanos e que deixam muitas dúvidas.

Já o professor Victor Pelaes Alvarez destacou o impacto negativo do cultivo da soja transgênica e o aumento no uso de herbicidas. Ele apresentou diversos trabalhos científicos que mostram as vantagens da soja convencional.

Destacou a possibilidade de o Paraná utilizar a soja convencional e orgânica como vantagem competitiva no mercado, por se tratar de um produto diferenciado.

O economista Jean Marc Von der Werd, da Assessoria e Serviço a Projetos em Agricultura Alternativa, questionou a percepção dos agricultores quanto às vantagens ou desvantagens de se plantar transgênicos. Disse que a única fórmula para convencer o produtor é mostrar os efeitos do ponto de vista econômicos e riscos para o bolso dele.

Biossegurança - A advogada e consultora Andréa Lazzarini Salazar defendeu a rotulagem dos produtos transgênicos, afirmando que é um direito do consumidor e necessário para a questão da saúde publica. Também criticou a comissão técnica de Biossegurança, ao afirmar que ela é a primeira a não querer investigações científicas sobre o tema.

"Infelizmente, Medidas Provisórias driblam a Justiça Federal para permitir o plantio de soja transgênica no país", afirmou. Andréa também defendeu um maior espaço na imprensa para um debate democrático sobre as vantagens ou não da transgenia.

"Em 1999, 70% das matérias relacionadas sobre o assunto continham posicionamento crítico. Em 2002, apenas 20%. Hoje, menos de 10% manifestam algum posicionamento. Felizmente, o governo do Paraná dá um exemplo ao país ao colocar o assunto de forma mais abrangente", concluiu.

Agência Estadual de Notícias, México, 17-2-05

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