Brasil: construção de hidrelétricas em Rondônia causará impacto ambiental "jamais visto", diz ambientalista

Idioma Portugués
País Brasil

"O rio Amazonas também sofrerá impactos, porque o Madeira é seu maior tributário em termos de sedimentos"

Os lagos formados pelas barragens das usinas hidrelétricas de Jirau e do Santo Antônio, que serão construídas ao longo do rio Madeira, em Rondônia, deverão ser maiores do que o sugerido nos estudos de impactos ambientais realizados por técnicos da Furnas Centrais Elétricas e da Construtora Norberto Odebrechet. A declaração é do doutor em Planejamente Energético pela Unicamp - Universidade Estadual de Campinas e professor da Unir - Universidade Federal de Rondônia, Artur de Souza Moret. "Os impactos ambientais dessas obras terão uma dimensão jamais vista na Amazônia."

Os estudos foram entregues nesta segunda-feira (30) ao Ibama - Instituto Nacional do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Segundo Moret, o princípio fundamental da construção das duas hidrelétricas é viabilizar a hidrovia que permitirá escoar a soja do Mato Grosso para a Bolívia e o Peru. "Mas naquele trecho do rio Madeira há muitas cachoeiras. Então ou haverá a construção de novas barragens ou as duas barragens serão mais altas, com uma área de inundação maior. Ambas as opções são ruins", avaliou.

O rio Madeira carrega muito sedimento, porque ainda está em formação. Por isso, segundo Moret, o trecho do rio anterior às barragens ficará assoreado. "O rio Amazonas também sofrerá impactos, porque o Madeira é seu maior tributário em termos de sedimentos", afirmou ele. Outro perigo apontado por Moret é o de fazer vir à tona o mercúrio depositado no fundo do Madeira, fruto de atividades de garimpo. "Isso sem falar na cidade de Porto Velho, que terá sua população aumentada em pelo menos 50%, sem que haja infra-estrutura para receber esses novos moradores", completou. Porto Velho tem hoje 380 mil habitantes, segundo estimativa do IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

Ivaneide Cardozo, conselheira da associação Canindé, uma entidade ambientalista de Porto Velho, alertou para o fato de que há duas unidades de conservação, de proteção integral, próximas à área de influência das duas hidrelétricas: a Estação Ecológica Moji Canava e a Estação Ecológica Serra dos Dois Irmãos. Ela lembrou também que as barragens inundarão sítios arqueológicos indígenas e parte da estrada de ferro Madeira-Mamoré. Mas, para Ivaneide, os maiores impactos da construção serão sociais. "A população ribeirinha que vive do peixe, ao ser removida, viverá do quê? Os empreendedores falam em geração de empregos, mas quem será realmente beneficiado? As grandes obras usam mão-de-obra barata e só mantêm contratados os profissionais mais qualificados."

As obras das usinas do Jirau e de Santo Antônio deverão começar em junho e durar de oito a dez anos. Elas serão construídas ao longo do rio Madeira e distarão 130 quilômetros e seis quilômetros, respectivamente, de Porto Velho. As duas hidrelétricas terão potencial para produzir 6,3 mil megawatts de energia elétrica, o suficiente para tirar Rondônia e Acre da dependência da energia térmica, cuja matriz prioritário nos dois estados é o diesel. Ambas estão inseridas em um contexto que envolve dois outros grandes projetos, formando um complexo de quatro usinas e uma malha hidroviária de 4.200 quilômetros. (Thais Brianezi/ Agência Brasil)

Ambiente Brasil, Internet, 30-5-05

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