Brasil: contaminação tóxica da soja transgênica

Idioma Portugués
País Brasil

Além dos temores sobre sua essência constata-se mais veneno que na outra

Agora um novo perigo ameaça o consumidor humano e animal da soja transgênica. É a excessiva contaminação por agrotóxicos. O alerta é feito pelas análises laboratoriais da Universidade Federal do Paraná, revelando que a soja geneticamente modificada tem mais possibilidade de estar contaminada por resíduos agrotóxicos do que a convencional.

Das 23 amostras enviadas para análise, pela Secretaria da Agricultura, 17 apresentaram resíduo de glifosato e de seu ácido amino-medilfosfônico. Esse agrotóxico não era aplicado na soja pós-emergente (a planta desenvolvida), porque proibido em face da alta toxidade mas tornado legal pela aprovação da Lei da Biossegurança.

Uma das amostras apresentou resíduo de veneno acima do permitido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, e o temor de pesquisadores é que a contaminação seja ainda maior do que se imagina. O departamento de fiscalização do receituário agronômico da Secretaria adverte o consumidor brasileiro que a contaminação pode estar no leite de soja e também nos seus derivados.

Ocorre que antes da lei liberadora apressadamente aprovada pelo Congresso Nacional o glifosato só era permitido na fase pré-emergente, ou seja, antes de a planta se desenvolver. Com a modificação genética, o veneno só passou a atingir as ervas daninhas e não prejudicou a soja. O alerta da Universidade é insuspeito, por partir de renomada instituição, e tem a ver diretamente com a saúde das pessoas e dos animais e também com os interesses da venda externa, porque importantes compradores poderão bloquear a soja brasileira transgênica ou suspeita e atente-se que o Paraná é grande produtor.

O problema maior, porém, é mesmo a segurança alimentar, não apenas dos brasileiros mas de toda a comunidade mundial que vier a consumir esse alimento contaminado. Há que prestar atenção em dois problemas: este agora anunciado e o primeiramente levantado, o de que a transgenia ainda não é uma garantia comprovada como alimento.

Se a biotecnologia desenvolveu a nova planta, a ciência-mãe ainda não se pronunciou sobre a constituição essencial desses novos grãos. Sabe-se que a resposta científica não é tão simples e poderá demandar anos de observação, talvez uma geração inteira, por não saber-se o resultado, ao longo do tempo, da presença do produto no organismo do consumidor.

O produtor brasileiro embarcou nessa corrente, sob o aceno de redução dos custos de produção. Se o produto modificado em sua essência é a maior preocupação, a nova revelação a da excessiva contaminação agrotóxica e cujas consequências são conhecidas torna a soja transgênica ainda mais amedrontadora. O agronegócio pode estar cometendo uma imprudência.

Folha de Londrina, Brasil, 17-7-05

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