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Segundo a Avaliação Ecossistêmica do Milênio, conduzida desde 2001 a pedido da ONU, 60% de todos os ecossistemas estão degradados ou sendo usados de modo não sustentável

Agência FAPESP - A situação, que já era ruim, continua a piorar com velocidade assustadora. Cerca de 60% de todos os ecossistemas do planeta estão degradados ou sendo usados de modo não sustentável. Se nada for feito, as conseqüências do uso irresponsável poderão levar a um cenário desolador em 50 anos.

Se tais afirmações parecem dramáticas, é porque elas realmente o são. Ainda mais por serem conclusões de um estudo sem igual, realizado por 1.360 especialistas em 95 países: a Avaliação Ecossistêmica do Milênio (AEM).

Lançado em 2001, a partir de solicitação feita no ano anterior pelo secretário-geral da Organização das Nações Unidas, Kofi Annan, o projeto tem como objetivo avaliar as conseqüências que as mudanças nos ecossistemas trazem para o bem-estar humano e as bases científicas das ações necessárias para melhorar a preservação e o uso sustentável desses ecossistemas e sua contribuição ao bem-estar humano.

Os resultados da iniciativa serão lançados nesta quarta-feira (30/3) simultaneamente em diversos países. Na sexta-feira (1º/4), será realizado no auditório do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), em São Paulo, um seminário para discutir os resultados da AEM, que contará com a presença de especialistas do Brasil e de outros países que participaram do estudo.

“Dentre os problemas mais sérios identificados por esta avaliação estão: as condições drásticas de várias espécies de peixes; a alta vulnerabilidade de 2 bilhões de pessoas vivendo em regiões secas de perder serviços providos pelos ecossistemas, como o acesso à água; e a crescente ameaça aos ecossistemas das mudanças climáticas e poluição de seus nutrientes”, diz uma das principais mensagens do relatório que está sendo divulgado, intitulado Vivendo além dos nossos meios o capital natural e o bem-estar humano.

“No último meio século nós alteramos as estruturas dos ecossistemas globais em uma velocidade mais rápida do que em qualquer outro período da história”, afirmou um dos coordenadores da AEM, o norte-americano Harold Mooney, da Universidade de Stanford, em comunicado da instituição. Segundo o cientista, o motivo principal das alterações foi responder à crescente demanda por água, alimentos, madeira, fibras e combustíveis.

Outra comparação levantada pelo estudo é que mais terra foi convertida à agricultura desde 1945 do que nos séculos 18 e 19 juntos. A degradação resultante desses e de outros fatores contribuiu para a perda irreversível da vida no planeta, onde de 10% a 30% das espécies de mamíferos, aves e anfíbios correm risco de extinção.

Em setembro, os responsáveis pela AEM divulgarão cinco relatórios técnicos, com um total de mais de 2,5 mil páginas com as relações entre os ecossistemas globais e o bem-estar humano. Até o primeiro trimestre de 2006, deverão ser divulgados 33 estudos relacionados a diferentes regiões do planeta.

Outras conclusões do relatório da AEM:

A perda dos serviços providos pelos ecossistemas constitui uma grande barreira às Metas de Desenvolvimento do Milênio de reduzir a pobreza, a fome e as doenças.
As pressões sobre os ecossistemas aumentarão em uma escala global nas próximas décadas se a atitude e as ações humanas não mudarem.

Medidas de preservação de recursos naturais têm maior chance de sucesso se tomadas sob a responsabilidade das comunidades, que compartilhariam os benefícios de suas decisões.

A tecnologia e conhecimento de que dispomos hoje podem reduzir consideravelmente o impacto humano nos ecossistemas, mas sua utilização em todo o seu potencial permanecerá reduzida enquanto os serviços oferecidos pelos ecossistemas continuarem a ser percebidos como “grátis” e ilimitados e não receberem seu devido valor. Esforços coordenados de todos os setores governamentais, empresariais e institucionais serão necessários para uma melhor proteção do capital natural. A produtividade dos ecossistemas depende das escolhas corretas no tocante a políticas de investimentos, comércio, subsídios, impostos e regulamentação.

Mais informações:

Avaliação Ecossistêmica do Milênio
Seminário internacional sobre a AEM

Agência FAPESP, Internet, 30-3-05

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