Revista Agriculturas - Sementes da diversidade: a identidade e o futuro da agricultura familiar

Por LEISA
Idioma Español

"Frente à iminente perda de soberania alimentar em âmbito nacional, o Estado vem procurando reagir a esse avassalador controle corporativo sobre as sementes. As experiências divulgadas nesta edição são inspiradoras de políticas públicas voltadas a restaurar o protagonismo de agricultores(as) e suas comunidades no manejo da agrobiodiversidade." (Revista Agriculturas: experiências em agroecologia v.11, n.1)

No momento em que sociedades arcaicas de diferentes regiões do planeta passaram a cooperar com a Natureza no processo de evolução biológica de suas espécies alimentícias, amplos horizontes se abriram para o salto civilizatório que resultou na formação das sociedades complexas. Na prática, esse processo cooperativo se inicia com a influência da seleção cultural nas dinâmicas de seleção natural responsáveis pela diversificação das formas de vida no planeta. Mesmo sem dominar os princípios da genética, nossos antepassados longínquos revelaram-se exímios domesticadores de espécies silvestres. De forma intuitiva, ao destinarem para a reprodução exemplares de plantas e animais portadores de características fenotípicas que valorizavam, eles deram novos sentidos aos processos evolutivos de espécies que atualmente integram a maior parte de nosso cardápio alimentar. Dessa forma, uma imensurável agrobiodiversidade foi desenvolvida, conformando o patrimônio universal que hoje é compreendido como um bem comum da Humanidade.

 

 

Paradoxalmente, sequer uma nova espécie de importância alimentar foi identificada e domesticada nos últimos dois séculos, a despeito do conhecimento científico acumulado no campo do melhoramento genético nesse período. Pelo contrário, o que se assiste é a acelerada e perigosa redução da diversidade de espécies alimentares. Além disso, os modernos métodos de melhoramento são responsáveis pelo estreitamento da base genética das espécies que permanecem sendo cultivadas e criadas em grande escala. Essa reversão na história da criação da agrobiodiversidade é explicada pela mudança dos atores e dos fatores responsáveis pelo manejo dos recursos genéticos apóso advento da agricultura industrial. O melhoramento genético passou a ser encarado como uma atividade profissional, realizada em centros de pesquisa com condições ambientais controladas e supostamente reprodutíveis nos campos dos agricultores por meio do emprego de agroquímicos, motomecanização e irrigação intensiva. Dessa forma, a pressão de seleção natural deixou de ser um elemento relevante no desenvolvimento dos novos genótipos e os critérios da seleção cultural foram limitados ao objetivo de maximizar as produtividades das lavouras e criações. Os recursos genéticos assim desenvolvidos, passaram a ser amplamente disseminados por políticas públicas, gerando dependência dos agricultores aos mercados de insumos produtivos e provocando massivos processos de erosão genética.

 

 

Pela terceira vez, desde o seu lançamento em 2004, a Revista Agriculturas aborda essa problemática central para as estratégias de construção da Agroecologia. Nesses dez anos, testemunhamos mudanças no contexto da agricultura brasileira que acentuam os desafios relacionados à conservação da agrobiodiversidade. A liberação oficial do plantio de transgênicos veio associada à explosão no consumo dos agrotóxicos e à forte concentração do mercado de sementes em um número cada vez mais limitado de empresas transnacionais. Frente à iminente perda de soberania alimentar em âmbito nacional, o Estado vem procurando reagir a esse avassalador controle corporativo sobre as sementes. As experiências divulgadas nesta edição são inspiradoras de políticas públicas voltadas a restaurar o protagonismo de agricultores(as) e suas comunidades no manejo da agrobiodiversidade. Realizadas em vários contextos socioambientais, elas demonstram como e porque o manejo da agrobiodiversidade deve ser promovido por ações coletivas geograficamente referenciadas em territórios rurais e fundamentadas no princípio da conservação simbiótica entre os recursos genéticos locais e as culturas rurais.

 

 

O editor

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Temas: Semillas

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