Revista Agriculturas: Paisagens Camponesas, v.11, n.3

Por AS-PTA
Idioma Portugués
País Brasil

Esta edição da revista Agriculturas mostra como a leitura das paisagens tem sido um importante instrumento para a percepção-compreensão das trajetórias de construção e de disputas da Agroecologia nos territórios. Ao expressarem as memórias de ações orientadas por racionalidades contrastantes, as paisagens refletem projetos de desenvolvimento díspares e atribuem substância geoexistencial e histórica aos atores que lutam localmente para reconstruir maiores níveis de autonomia frente às forças políticas e econômicas que tentam reduzir o território a um cenário para extração de riquezas.

Uma publicação da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia, em parceria com a Fundação ILEIA – Holanda.

Editorial

As aceleradas transformações na conformação dos territórios rurais são uma das características mais evidentes da globalização neoliberal, doutrina político-econômica que se impôs a partir dos anos 1990 em âmbito mundial. Sendo impulsionadas pela liberalização dos mercados internacionais e fortemente condicionadas por interesses econômicos de corporações transnacionais, essas transformações convertem os espaços rurais em áreas destinadas à produção especializada de commodities agrícolas e à extração de riquezas minerais. Por outro lado, alimentos e outros gêneros de consumo básico, antes produzidos em âmbito local/regional, passaram a ser importados.

 

A domesticação uniformizante das paisagens é a expressão mais visível da imposição dessa racionalidade econômica empresarial sobre o mundo rural. Enormes extensões de terra ocupadas por monótonas monoculturas de soja, de cana, de eucalipto, de café, de pastagens e outras produções para exportação, assim como grandes projetos de infraestrutura destinados a viabilizar o novo ciclo de extrativismo predatório tomam conta da paisagem rural, em detrimento da rica biodiversidade de nossos biomas e de sua correspondente sociodiversidade. Lado a lado com esse cenário de destruição ecológica, grandes áreas são reservadas à preservação ambiental, expropriando direitos das comunidades rurais e dos povos que históricamente atuaram como guardiões dos bens naturais que agora se pretende resguardar pela força da lei. Os efeitos dessas tendencias de ocupação dos espaços agrários são evidentes: concentração da riqueza e dos meios de produção; degradação ambiental sem precedentes; acentuação dos agravos à saúde coletiva; esvaziamento demográfico do meio rural e urbanização descontrolada; aumento da vulnerabilidade da agricultura às oscilações climáticas e dos mercados, etc. Em suma: uma sociedade mais injusta, violenta e insustentável.

 

No entanto, esse processo avassalador imposto de cima para baixo não ocorre sem resistência local. A multiplicação de conflitos socioambientais em todas as regiões do Brasil é uma evidência das reações das populações dos territórios afetados pela racionalidade econômica dos grandes negócios (a sistematização de uma mostra desses conflitos pode ser encontrada aqui). Grande parte dessas reações consiste também em iniciativas coletivas que se fundam em outras racionalidades para a construção dos territórios rurais. Como são ancoradas no princípio da coprodução entre a sociedade e a natureza, são racionalidades avessas aos padrões de organização econômica que induzem à homogeneização das paisagens e à consequente uniformização rotinizante da vida social no mundo rural.

 

Esta edição da revista Agriculturas: experiências em agroecología mostra como a leitura das paisagens tem sido um importante instrumento para a percepção-compreensão das trajetórias de construção e de disputas da Agroecologia nos territórios. Ao expressarem as memórias de ações orientadas por racionalidades contrastantes, as paisagens refletem projetos de desenvolvimento díspares e atribuem substância geoexistencial e histórica aos atores que lutam localmente para reconstruir maiores níveis de autonomia frente às forças políticas e econômicas que tentam reduzir o território a um cenário para extração de riquezas.

 

O editor

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Temas: Agroecología, Tierra, territorio y bienes comunes

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