Agência ambiental dos EUA eleva limite permitido de resíduos de glifosato

Por AS-PTA
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Com pouco alarde, a Agência de Proteção Ambiental dos EUA determinou um aumento nos limites máximos de resíduos do herbicida glifosato (cujo produto formulado mais famoso é o Roundup, da Monsanto) em diversas espécies cultivadas.

Para a soja e outras oleaginosas o limite permitido dobrou, passando de 20 para 40 ppm (partes por milhão). Outras culturas incluindo frutas, tubérculos e legumes também tiveram os limites aumentados. Batata-doce e cenoura, por exemplo, tiveram seus limites aumentados em 15 e 25 vezes, respectivamente (de 0,2 ppm para 3 ppm e 5 ppm).

 

Uma consulta pública a respeito da mudança foi aberta. Embora o prazo para o envio de comentários fosse 01 de julho de 2013, a nova norma já estava em vigor desde 01 de maio. Foram recebidos mais de 10.800 comentários contra o aumento nos limites, mas que certamente não mudarão em nada a decisão que já estava tomada.

 

A mudança da norma foi resultado de uma petição da Monsanto apresentada no início de 2012. Os órgãos regulatórios do país não realizaram estudos independentes para avaliar se níveis mais altos de glifosato são perigosos para os seres humanos ou para o meio ambiente – como de praxe, basearam-se apenas em testes e dados fornecidos pela própria Monsanto.

 

Enquanto a Monsanto e os órgãos regulatórios “garantem” a segurança do glifosato, diversas pesquisas independentes têm cada vez mais encontrado evidências da existência de graves riscos relacionados ao produto.

 

Mas uma questão fundamental a ser colocada é: por que é preciso aumentar os limites permitidos de resíduos na produção agrícola?

 

O glifosato é o herbicida mais utilizado no mundo. É um produto de amplo espectro, ou seja, mata todos os tipos de mato. E seu uso foi exponencialmente aumentado após a difusão das lavouras transgênicas tolerantes a ele – para quem não se lembra, ao plantarem essas sementes modificadas, os agricultores podem pulverizar o agrotóxico por cima da lavoura, até mesmo de avião; o mato morre com o veneno, mas a lavoura transgênica resiste.

 

Esse sistema de manejo em si é responsável pelo aumento nos níveis de resíduos nas lavouras: ao contrário das plantas comuns, que não podem ser banhadas diretamente com o veneno, as plantas transgênicas tolerantes ao produto recebem várias aplicações diretas do agrotóxico.

 

Não por acaso, no Brasil, por exemplo, quando a soja transgênica foi liberada, o limite máximo de resíduos de glifosato permitido em soja aumentou em 50 vezes (de 0,2 ppm para 10 ppm). Quando foi autorizado o milho transgênico tolerante ao veneno, o limite de resíduos na cultura foi ampliado em 10 vezes (de 0,1 ppm para 1 ppm).

 

Mas o fenômeno do gradativo aumento na dosagem do veneno necessária para controlar o mato está relacionado ao desenvolvimento de resistência ao produto nas espécies de mato que se pretende combater: quanto mais repetidamente se usa um produto, mais rapidamente ele vai perdendo a eficácia.

 

Como era previsto, já são várias as espécies de mato que, assim como as plantas transgênicas, resistem ao glifosato e vêm provocando grandes prejuízos aos agricultores.

 

Buscando compensar a perda de eficácia do agrotóxico, os agricultores tendem a aumentar as doses aplicadas. Quando essa medida já não basta, eles começam a combinar o glifosato com outros herbicidas ainda mais fortes, aplicando coquetéis químicos altamente tóxicos.

 

É justamente em função da perda de eficácia do glifosato que as empresas agora estão tentando obter autorização para a comercialização de sementes transgênicas tolerantes ao herbicida 2,4-D – famoso por ter sido um dos componentes do “agente laranja”, utilizado na Guerra do Vietnã, e classificado pela Anvisa na “pior” categoria: Classe I - Extremamente Tóxico (faixa vermelha).

 

Mas o grande problema nessa história é que tanto nós seres humanos como o meio ambiente estamos ficando expostos a doses cada vez maiores de venenos (e a venenos cada vez mais tóxicos), e não há nenhum indício de que nós estejamos ficando também “mais tolerantes” a essa contaminação.

 

Com informações de:

 

EPA raises levels of glyphosate residue allowed in food – Washingon Times,05/07/2013.

 

EPA Raised Residue Limits of Monsanto’s Glyphosate Herbicide – The Cornucopia Institute, 26/06/2013.

 

Monsanto's Minions: US EPA Hikes Glyphosate Limits in Food and Feed Once Again – Organic Consumers Association, 03/05/2013.

 

Veja também a nova norma da EPA que aumenta os limites de resíduos de glifosato: Pesticide Tolerances: Glyphosate

 

Fuente: AS-PTA

Temas: Agrotóxicos

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