Brasil: Encontro Norte Mineiro de Agrobiodiversidade

Idioma Portugués
País Brasil

A troca de plantas medicinais, de sementes, de experiências, a valorização da cultura local, o resgate da agrobiodiversidade, a defesa dos povos do cerrado e da caatinga foram alguns dos objetivos do "I Encontro Norte Mineiro da Agrobiodiversidade: valorizando seus guardiões”, realizado em Porteirinha, dos dias 27 a 30 de abril

Valdivina Ferreira Caetana vai voltar para sua comunidade, em Manga, com algumas novidades dentro do embornal: arnica, carquejo, unha de ouro. Ela aprendeu com um raizero em Porteirinha que a arnica “é pra dor de mulher”, o carquejo para dor de garganta e a unha de ouro para combater a bronquite. Em uma oficina com a irmã Mônica, na Acebev (Associação Casa de Ervas Barranco da Esperança e Vida), Valdivina aprendeu ainda massagens para quem tem problema de coluna e receitas contra queimação no estômago. Ela, que não trabalhava com plantas medicinais, diz, orgulhosa: “Lá onde a gente mora às vezes tem essas plantas e a gente nem conhece. Agora acho que já posso levar esse conhecimento pra lá e muito bem salvar uma pessoa da dor, né?”

A troca de plantas medicinais, de sementes, de experiências, a valorização da cultura local, o resgate da agrobiodiversidade, a defesa dos povos do cerrado e da caatinga foram alguns dos objetivos do "I Encontro Norte Mineiro da Agrobiodiversidade: valorizando seus guardiões”, realizado em Porteirinha, dos dias 27 a 30 de abril, além de refletirem a força da luta e da união de representantes de diversas cidades, acampamentos, assentamentos, movimentos, entidades, comunidades rurais, quilombolas e indígenas do Norte de Minas Gerais.

“Achei bom no encontro foi a resistência do pessoal, que às vezes tem muita gente na mesma luta da gente. A gente vê que tem tanta coisa boa, que o povo estava perdendo e agora está resgatando: a cultura, a semente, os costumes, a união, a coragem”, afirma Cristovino Ferreira Andrade, do assentamento Americana, em Grão Mogol.

Organização

O I Encontro Norte Mineiro de Agrobioversidade foi organizado em três grandes momentos. Nos dias 28 e parte do dia 29, foram realizadas sete oficinas e visitas de intercâmbios, para discutir temas que afetam diretamente as comunidades. O segundo momento foi no dia 29 à tarde, em que foram socializados os apontamentos das oficinas, além de debater politicamente o tema do encontro. A partir dos anúncios e denúncias deste debate, foi elaborada a “Carta de Porteirinha”, (leia a carta na íntegra clicando ao lado) contendo as principais discussões do encontro. No dia 30, os participantes saíram em alvorada pela cidade convidando a todos para participar da feira livre, que acontece todo sábado em Porteirinha, mas que nesta manhã ganhou o colorido, a batucada, a dança, as sementes e a presença forte dos povos do Norte.

O “Encontro Norte Mineiro da Agrobiodiversidade: valorizando seus guardiões” foi realizado pela Prefeitura Municipal de Porteirinha, ACEBEV, Cáritas Brasileira Regional Minas Gerais, Cáritas Diocesana de Janaúba, STR de Porteirinha, CAA, MST Regional Norte de Minas, NASCer, ICA – UFMG, Programa Biodiversidade Brasil Itália/ Embrapa.
O encontro também faz parte do Programa de Segurança Alimentar e Nutricional em Acampamentos e pré-Assentamentos de Reforma Agrária de Minas Gerais, o PSA.

Executado pela Cáritas Brasileira Regional Minas Gerais e viabilizado pelo governo estadual, através do programa Minas Sem Fome, e federal – através do Fome Zero – o PSA trabalha, atualmente, com cerca de sete mil famílias em 114 acampamentos e pré-assentamentos do estado e está realizando feiras em sete regiões de Minas Gerais (confira na agenda). Dos dias 13 a 15 de junho será realizado o seminário de avaliação do Programa, culminando, no dia 15 de junho, com a Festa Estadual da Biodiversidade, que irá unir e apresentar todas as experiências aprofundadas nas feiras.

Oficinas e visitas de intercâmbio

Foram realizadas sete ofinas no encontro, com visitas práticas a experiências desenvolvidas na região. O índio xacriabá Domigos Gonçalves participou da oficina "Do Rio Mosquito ao São Francisco: a revitalização que queremos", e visitou o pomar agroflorestal da propriedade de Elton, na comunidade Curral Velho. "A visita foi muito importante, porque através dos encontros e das conversas a gente aprende muito, como a recuperação de um rio, reflorestamento e o assoreamento dos rios, que a gente vai evitar e outras coisas, como a produção de sementes e a criação de abelhas", conta.

José Carlos de Almenara Neto, o Véio, do acampamento Brejo dos Crioulos, participou da oficina "Populações tradicionais e luta pela terra" e diz: "A gente aprende o seguinte: a tradição dos índios é diferente da gente, quilombola, mas a ligação é antiga, coligado, tudo junto, tudo unido. Os geraizeiros também, a história deles cabe na nossa história também. Tudo é a cultura que tem no Brasil".

Valdivina garante que aprendeu muito na oficina que participou "Alimentação Sertaneja e Saúde Popular", na Acebev. Assim como seu Cristovino, que apresentou a experiência do seu acampamento na oficina "Desertificação e monocultura do eucalipto: a contraposição dos gerais".

As outras oficinas foram: "Estratégias para a inserção sócio-econômica e cultural de um assentamento", realizada no assentamento Tapera, em Riacho dos Machados; "Agricultura Sustentável e Segurança Alimentar: desafios para os guardiões da (agro)biodiversidade" e "Horticultura e agricultura familiar diversificada".

"O encontro foi maravilhoso porque conseguiu reunir muita gente que tinha que se reconhecer, tinha que se ver, os geraizeiros se encontrar com os quilombolas, se encontrar com os Xacriabá, encontrar com os catingueiros. As visitas também foram muito importantes. Temos que continuar com a experiência de fazer visitas de intercâmbio, para as pessoas se conhecerem, falar de suas dificuldades e também para reconhecer que a luta é uma só", afirma Sérgio Antônio Félix Júnior, do Núcleo de Agricultura Sustentável do Cerrado, o NASCer.

AGENDA

- 07 e 08/05: Feira de troca de sementes, mudas e plantas medicinais do Noroeste de Minas
- 06 a 08/05: Feira de troca de sementes, mudas e plantas medicinais do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba
- 10 e 11/06: Feira de troca de sementes, mudas e plantas medicinais da Grande BH e Zona da Mata
- 13 a 15/06: Seminário final do PSA

Boletim Eletrônico Especial Cáritas Regional Minas Gerais 05-05-05

Cáritas Brasileira Regional Minas Gerais - (31) 3412-8743
Rua Fornaciari, 129 Bairro Caiçara - gro.arielisarbsatirac@gmoacacinumoc

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