India: o fracasso das sementes de algodão Bt

Quais medidas serão adotadas para compensar os prejuízos sofridos pelos agricultores? Quais novos mecanismos de monitoramento serão colocados em prática para se obter maiores informações sobre o comportamento do algodão Bt? Como será prevenida a falsificação de dados em benefício das empresas?

BOLETIM 256 - POR UM BRASIL LIVRE DE TRANSGÊNICOS

O GEAC (Comitê de Aprovação de Engenharia Genética, em inglês) é o correspondente indiano à nossa CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança), e Mahyco é a subsidiária da Monsanto na Índia (Maharashtra Hybrid Seeds Company Monsanto Biotech India).

O governo sustenta sua decisão baseado em estudos oficiais e no fato de que a companhia forneceu sementes de baixa qualidade e se negou a indenizar os agricultores prejudicados. "Não permitiremos que firmas como a Mahyco vendam suas sementes de algodão Bt em nenhuma parte do estado", disse o ministro chefe de Andhra Pradesh ao The Hindu (04/06), um dos principais jornais do país.

Mas as medidas adotadas em função dos resultados desastrosos das lavouras de algodão modificado nos últimos três anos vão além. Experimentos a campo da Mahyco também foram proibidos. O governo do estado também criticou fortemente a decisão do GEAC de aprovar o cultivo de novas variedades no país sem que os estados fossem consultados e sem levar em consideração o desempenho do algodão transgênico em anos anteriores.

Estudos científicos independentes conduzidos por pesquisadores e por organizações da sociedade civil na Índia constataram o fracasso das sementes Bt. Um dos estudos acompanhou o desempenho das lavouras de algodão modificado entre 2002 e 2005 e mostrou que:

* A produtividade das sementes Bt é 30% menor para a média desses três anos.

* Não houve redução no uso de inseticidas. As lavouras Bt receberam em média 7% mais pesticidas que as não-transgênicas.

* Os rendimentos não aumentaram. Nos três ciclos avaliados, agricultores que não usaram sementes Bt lucraram 60% mais.

* Não houve redução dos custos de produção. As sementes Bollgard da Mahyco-Monsanto são 3 ou 4 vezes mais caras e essa diferença não foi compensada pelo barateamento de outras etapas de condução das lavouras.

* Um tipo de podridão de raízes se espalhou pelas lavouras de algodão Bt, prejudicando cultivos subseqüentes na mesma área.

Dados levantados por pesquisadores do Projeto Indiano para Melhoramento do Algodão (AICCIP, na sigla em inglês) reforçam os estudos independentes e da sociedade civil. Os técnicos governamentais especialistas em algodão afirmam que os agricultores que aplicaram técnicas de manejo integrado de pragas no algodoeiro reduziram pela metade suas despesas com inseticidas.

Nesse contexto, a organização indiana Centro para a Agricultura Sustentável parabeniza a atitude do governo de Andhra Pradesh, mas avalia que outras iniciativas mais consistentes podem ainda ser adotadas e se pergunta: quais medidas serão adotadas para compensar os prejuízos sofridos pelos agricultores? Quais novos mecanismos de monitoramento serão colocados em prática para se obter maiores informações sobre o comportamento do algodão Bt? Como será prevenida a falsificação de dados em benefício das empresas, como ocorreu no passado?

Como por aqui o governo consentiu que o princípio da precaução fosse deixado de lado para evitar qualquer tipo de percalço à produção e exportação de commodities agrícolas, teremos que guardar essas e outras questões para o momento em que o fracasso da Índia, infelizmente, aqui se repetir.

Leia mais sobre esse caso em:
http://www.gmwatch.org
http://flonnet.com/fl2212stories/20050617003010200.htm
http://www.ddsindia.com/

Campanha Por um Brasil Livre de Transgênicos
Boletim N° 256
E-mail: rb.gro.atpsa@socinegsnartedervil

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