Jorge Dotti Cesa: "Aumento do uso de agrotóxicos está se tornando insustentável"

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Em entrevista ao Brasil de Fato, o engenheiro agrônomo Jorge Dotti Cesa fala sobre consumo de agrotóxicos e soberania alimentar.

Aumento do uso de agrotóxicos está se tornando insustentável, diz engenheiro agrônomo:

Em entrevista, o engenheiro agronômo e diretor de Comunicação e Imprensa do Sindicato dos Engenheiros Agrônomos de Santa Catarina, Jorge Dotti Cesa, explica o que é segurança alimentar, comenta sobre as políticas públicas em agricultura e sobre o projeto dos trangênicos.

Ele acredita que o projeto de retirar a marca “T” das embalagens dos produtos é um retrocesso. “Afinal, se os transgênicos não fazem mal a saúde, por que tanta preocupação em omitir a informação de que determinado alimento foi produzido com o uso de transgenia?”, questiona.

Confira a entrevista:

- Na prática, o que são alimentos seguros? De que forma o cidadão e a cidadã podem ter certeza da segurança dos alimentos que estão consumindo?

- Alimentos seguros, na prática, são aqueles que apresentam uma determinada qualidade, que não cause danos à saúde do consumidor. Na atual dinâmica do mundo consumista, fica muito difícil para o cidadão comum ter esta garantia de forma 100% segura. Os próprios limites de tolerância de resíduos de determinadas substâncias químicas são muitas vezes questionados por estudos diferentes. O uso indiscriminado de agrotóxicos é hoje, com certeza, o principal problema.

- No Brasil, há preocupação com o aumento do uso de agrotóxicos nos alimentos. Qual a sua avaliação sobre esse aumento?

- É o principal desafio atual. Precisamos produzir para alimentar nove bilhões de pessoas no mundo. Não resta dúvida de que, no modelo atual de produção, a tecnologia e o uso de agrotóxicos são necessários para garantir produtividade e volume de produção, mas temos que racionalizar e fortalecer outras formas de produção, com menor uso ou até sem uso, como no caso da produção orgânica e agroecológica. À custa do discurso de que é necessário usar agrotóxicos, a situação foi se tornando insustentável.

- Está em construção no país a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica. Quais os principais desafios?

- Como muita coisa no Brasil, as políticas públicas têm muitos pontos positivos. Falta a sua efetividade em maior escala e adoção por parte de diversos órgãos federais e estaduais de instrumentos de efetivo apoio para essas formas de produção mais seguras e sustentáveis. Já tivemos muitos avanços, mas ainda tímidos frente ao potencial e à importância da produção agroecológica e orgânica.

- Principalmente nos supermercados, os alimentos orgânicos são identificados com selo e são bem mais caros ao consumidor. Por que existe esse impacto no valor dos alimentos orgânicos?

- Os selos são a garantia de que o produto é orgânico, permitindo também a rastreabilidade e a identificação do responsável técnico pela produção. Tudo isso gera custo. Em muitos casos, a produção orgânica dá mais trabalho para ser produzida. Como a oferta ainda é menor que a procura, muitos supermercados exageram nas suas margens de lucro. Em feiras locais ou pequenos armazéns especializados em orgânicos, os preços são bem menores. Além do selo de certificação, existe também o processo participativo de certificação, em que os próprios produtores e até consumidores de pequenas feiras fazem uma autofiscalização da produção.

- Recentemente, a Câmara Federal aprovou uma proposta que retira a necessidade da rotulagem dos alimentos transgênicos. Quais os impactos dessa medida?

- Esta medida é um exemplo vivo da força do poder econômico das multinacionais. A informação no rótulo do que está sendo consumido é um direito do consumidor (artigo 6º do CDC). A rotulagem com a letra “T” foi uma conquista neste sentido. Agora tivemos um retrocesso na Câmara Federal. Afinal, se os transgênicos não fazem mal a saúde, por que tanta preocupação em omitir a informação de que determinado alimento foi produzido com o uso de transgenia? Precisamos pressionar o Senado para reverter isto.

Fonte: Brasil de Fato

Temas: Agrotóxicos, Sistema alimentario mundial, Transgénicos

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