Mais herbicidas nos EUA

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Os agricultores dos Estados Unidos estão tratando suas lavouras com uma gama cada vez maior de herbicidas, o que vem ajudando alguns a colher vitórias na guerra contra ervas daninhas poderosas, mas gerando novos custos e preocupações ambientais.

Por mais de dez anos, os agricultores vêm lutando contra ervas daninhas que desenvolveram resistência ao glifosato, o herbicida predominante no mercado, vendido pela Monsanto Co. MON +2.36% sob a marca Roundup. Agora, eles têm obtido sucesso aplicando grandes quantidades de outros herbicidas, inclusive alguns mais antigos.

Cerca de 17 milhões de hectares de soja plantados nos EUA em 2012 foram tratados com herbicidas sem glifosato, o dobro do aplicado em 2006 e equivalente a 57% do total de hectares de soja, de acordo com um relatório do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA, na sigla em inglês).

Os agricultores estão recorrendo cada vez mais a alguns herbicidas considerados mais fortes do que o glifosato. Em 2012, eles usaram mais de 2.700 toneladas de 2,4-D, quase quatro vezes mais que em 2005, segundo dados do USDA. O uso do herbicida dicamba mais que dobrou no mesmo período, para 39,5 toneladas.

A tendência tem sido uma benção para as empresas que vendem herbicidas, incluindo Dow Chemical Co., DOW +1.38% BASF SE, BAS.XE -1.12% Bayer AG, BAYN.XE -0.31% DuPont Co., DD +0.80% Syngenta AG SYNN.VX -0.24% e a própria Monsanto, que também oferece produtos alternativos ao Roundup. Elas estão desenvolvendo e buscando a aprovação dos reguladores para novas formulações de antigos produtos químicos, concebidas para serem menos nocivas ao meio ambiente e usadas com sementes resistentes ao herbicida correspondente.

Graças a esse arsenal ampliado, alguns agricultores dizem agora que estão ganhando terreno na guerra contra as superervas daninhas.

"A maioria [dos produtores] sente que está vencendo ou empatando", diz Bob Scott, professor de ciência aplicada a ervas daninhas da Universidade de Arkansas. "Eles não estão perdendo."

Mas esse sucesso custa caro. As despesas com herbicidas de alguns agricultores dobraram ou triplicaram desde que essas ervas daninhas resistentes se proliferaram, num momento em que os preços do milho estão 38% mais baixos que o pico de 2012 e os preços da soja recuaram 16%.

Os produtores americanos de soja gastaram, em média, US$ 62 por hectare em produtos químicos para a proteção de culturas em 2012, um aumento ajustado pela inflação de 51% em relação a 2006, segundo o USDA. Os produtos químicos representaram por volta de 12% dos custos operacionais dos produtores de soja em 2012. Os agricultores americanos gastaram US$ 13,7 bilhões este ano em produtos químicos agrícolas, um recorde que supera em quase 70% o total de 2002.

A Monsanto, que é sediada no Missouri, revolucionou o negócio de pesticidas quando começou a vender sementes geneticamente modificadas, em meados da década de 90. Algumas sementes foram alteradas para resistir à aplicação de glifosato, que mata as plantas daninhas ao impedir que produzam proteína.

Os agricultores abraçaram o Roundup, da Monsanto, um herbicida capaz de destruir muitas ervas daninhas sem afetar as culturas. Entre os produtores de soja americanos, o glifosato elevou o uso de herbicidas de 15% em 1996 para 89% em 2006. Naquela época, cerca de 67% dos campos de soja dos EUA contavam unicamente com o glifosato para controlar ervas daninhas. Em 2012, o uso de glifosato como herbicida na cultura da soja caiu para 83% do total, segundo o USDA, com cerca de 42% de hectares da soja americana sendo tratados unicamente com glifosato.

A Monsanto vende US$ 4,5 bilhões ao ano em químicos para pragas, principalmente o Roundup, dizem analistas, e bilhões de dólares em sementes de milho e soja geneticamente modificadas para sobreviver ao tratamento.

Há décadas os cientistas vêm observando ervas daninhas resistentes a herbicidas, mas a aplicação de Roundup nas mesmas lavouras, ano após ano, acelerou o desenvolvimento da imunidade em algumas dessas plantas, dizem pesquisadores.

O uso mais amplo de herbicidas está revivendo as preocupações sobre seus efeitos. Duas das principais alternativas ao Roundup, ambas desenvolvidas décadas atrás, são o dicamba, que mata a planta ao estimular um crescimento incontrolável que supera a capacidade da erva de produzir nutrientes, e o 2,4-D, que afeta as células que transportam água e nutrientes.

Grupos de defesa do meio ambiente e ativistas do setor agrícola temem que o aumento da utilização de produtos químicos mais fortes possa causar doenças nas pessoas e destruir culturas mais delicadas, como a de uvas, que estejam nas proximidades. A Monsanto e a Dow afirmam que os produtos são seguros à saúde se usados corretamente, e que novas fórmulas oferecem menos riscos de afetar outras lavouras que suas versões antigas.

O glifosato é considerado o tipo mais brando. Estudos mostram que o herbicida adere fortemente ao solo e representa baixos riscos à saúde humana.

A Monsanto está buscando a aprovação federal para uma nova versão do dicamba e para sementes de soja e algodão capazes de resistir ao herbicida. A Dow planeja lançar uma nova versão do 2,4-D, juntamente com sementes de milho e soja resistentes ao químico. As empresas afirmam que os produtos são seguros.

Enquanto isso, alguns produtores estão voltando a um método caro, mas comprovado, de combater ervas daninhas: a enxada.

A capina manual, que pode custar aos agricultores americanos até US$ 370 por hectare, voltou a ser usada em partes dos EUA.

No ano passado, Heath Whitmore, que cultiva arroz e soja no Arkansas, passou uma semana inteira capinando ervas daninhas que sobreviveram aos produtos químicos. "Isso é o que meu pai e meu avô costumavam fazer", diz. "Estamos voltando para isso."

Fuente: The Wall Street Journal

Temas: Agrotóxicos

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