Na Índia, a tribo dos Dongria Kondh vive o roteiro do filme ‘Avatar’ mas não caminha para um final feliz

Idioma Portugués
País Asia

A tribo dos Dongria Kondh vive longe dos estúdios de Hollywood. Seus 8.000 membros moram em pequenas casas de barro, cobertas por folhas de palmeira, sem eletricidade ou televisão, reclusos em uma montanha da região de Orissa, nos confins do leste da Índia. Sua história, entretanto, é muito parecida com o roteiro de “Avatar”, o filme dirigido pelo americano James Cameron, e que a cada semana bate recordes nas bilheterias do mundo

O povo autóctone, que uma gigante mineradora quer expulsar de sua terra “sagrada”, pediu ajuda a James Cameron.

A reportagem é de Julien Bouissou, publicada pelo Le Monde, traduzida pelo portal Uol e reproduzida por EcoDebate, 14-02-2010.

Assim como a tribo dos Na’vi que, no filme, tenta desesperadamente impedir os humanos de explorarem as reservas de minérios de sua terra sagrada, os Dongria Kondh são ameaçados de expropriação por uma companhia britânica, Vedanta Resources, que quer explorar a bauxita de sua montanha.

“O drama de Avatar – tirando os lêmures coloridos, os cavalos de tromba longa e os guerreiros andróides – se passa hoje sobre as colinas de Niyamgiri em Orissa”, explica Stephen Corry, diretor da ONG Survival International, que defende os povos indígenas. .

Na segunda-feira (8), a ONG publicou na “Variety”, uma revista americana dedicada à indústria do entretenimento, um apelo a James Cameron para que este ajude a pequena tribo do leste da Índia. “Avatar é uma ficção… bem real. Na Índia, a tribo dos Dongria Kondh luta para defender sua terra. (…) Nós vimos seu filme. Agora, veja o nosso”, pede-lhe a ONG.

Em Orissa, as colinas de Niyamgiri são veneradas como templos pois abrigariam, segundo as crenças dos Dongria Kondh, o espírito do deus Niyam Raja. Todos os dias, os habitantes fazem preces diante de pequenas estatuetas de madeira colocadas ao longo dos caminhos de terra, com oferendas de frutas ou animais sacrificados aos seus pés.

Para a gigante mineradora britânica Vedanta Resources, que pertence a Anil Agarwal, um bilionário indiano, essas colinas abrigam sobretudo uma jazida de bauxita de uma qualidade excepcional. Uma usina já foi construída aos pés das colinas para transformar a bauxita em alumínio. Mas ela continua esperando pela abertura da mina para funcionar a 100% de sua capacidade. Cento e vinte famílias da tribo dos Dongria Kondh, que aceitaram ser empregadas, agora vivem em casas de cimento.

A Vedanta Resources lhes prometeu infraestrutura médica, escolas e terras para se dedicarem à agricultura. São muitas as crianças da tribo que sofrem desnutrição, e nem 5% da população sabe ler ou escrever.

Destruição das florestas

Mas segundo um relatório publicado na terça-feira (9) pela ONG Anistia Internacional, a usina inaugurada pela Vedanta Resources em 2006 já teria começado a poluir os cursos de água, ameaçando a saúde dos habitantes. “Nós tínhamos o costume de nos banhar no rio. Mas agora tenho medo de levar meus filhos até lá. Meus dois filhos estão se queixando de coceira”, declarou uma das moradoras aos autores do relatório.

As ONGs locais também temem a destruição das densas florestas que servem de “despensa” para os Dongria Kondh. Os habitantes vivem da colheita e buscam plantas medicinais na espessa vegetação que os cerca. O instituto indiano da fauna e da flora alerta contra os danos irreversíveis ao meio ambiente que a perfuração de uma mina poderia causar.

Na sexta-feira (5), a Igreja da Inglaterra anunciou que se retiraria do capital da Vedanta Resources – onde sua participação era de US$ 6 milhões (R$ 11 milhões) – alegando que a empresa não respondia às suas expectativas em matéria de “respeito aos direitos humanos”. Dois anos antes, foi o Fundo Soberano norueguês que se dissociou de seu capital pelos mesmos motivos.

As ONGs locais denunciam as ameaças e intimidações sofridas pelos membros da tribo para deixarem suas terras. Apesar dessas críticas, a empresa lembrou, na terça-feira (9), que investiria US$ 10 milhões na proteção da colina, e que “estimularia a economia das comunidades locais” graças à abertura da mina. O projeto, que recebeu a aprovação da Suprema Corte indiana em agosto de 2008, deverá começar dentro de alguns meses. A tribo dos Dongria Kondh parece mais próxima da extinção que do final feliz de “Avatar”.

Instituto Humanista Unisinos, Internet, 15-2-10

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