Brasil: Movimento Quilombola paralisa atividades da Aracruz Celulose no norte do Espírito Santo, por 4 dias

Idioma Portugués
País Brasil

No último dia 20/03, 450 negras e negros de diversas comunidades quilombolas do território Sapê do Norte no Espírito Santo ocuparam uma área em São Domingos de Itauninhas, no município de São Mateus, paralisando todas as atividades de corte e transporte de madeiras de eucaliptos da Aracruz Celulose, por 4 dias e 3 noites, em mais 547 hectares

Segundo informações da própria empresa, ficaram paralisadas: 31 máquinas harvesters, 15 forwarders e 35 carretas, deixando de produzir e de ser transportados cinco mil m³ de madeiras por dia.

Carros da polícia militar chamada pela empresa estiveram no local no segundo dia e diante da grande multidão de quilombolas não reagiu e foi embora.

Segundo lideranças quilombolas, a manifestação, que pegou a empresa de surpresa, é uma resposta das famílias quilombolas à atitude da empresa que descumpriu o pacto estabelecido com Prefeituras, Ministério Público Federal, Fundação Cultural Palmares e associações dos quilombolas, de acesso dos quilombolas ao facho – resíduos de eucaliptos com menos de sete centímetros de espessura. Utilizando-se de equipamentos modernos que trituram totalmente o facho a Aracruz, com justificativas de melhoramentos tecnológicos em benefício de seus negócios, sustenta os fabricantes destas máquinas européias enquanto atrofia o sustento dos quilombolas.

Hoje, é difícil mensurar a dimensão do estrago e da dívida social, ambiental, cultural e econômica da Aracruz Celulose com comunidades quilombolas do Sapê do Norte, que invadiu expulsando milhares de famílias de seus territórios, destruindo o seu modo de vida; destruiu milhares de hectares de mata atlântica; secou dezenas de rios e contaminou dezenas de outros rios com grandes quantidades de agrotóxicos aspergidos diariamente sobre a grande monocultura do eucalipto e, ainda, mantém uma milícia armada vigiando as famílias 24 horas por dia.

Hoje, das cerca de 1.500 famílias quilombolas (32 comunidades) que permanecem resistindo em pequenos fragmentos de terra em meio às grandes monoculturas, sobretudo, do eucalipto, mais de 1000 quilombolas lutam pelo acesso do facho, porque a renda através da produção de carvão se tornou sua única fonte para sobrevivência. Mas, o objetivo maior da luta destas comunidades está voltado para a reconquista de seu território, cujos direitos foi perdido para a Aracruz Celulose, principalmente por manobras políticas realizadas pelos próprios governantes.

No final da tarde do dia 23/03, o movimento liberou a área de campo e acampou em frente à sede do centro operacional da empresa, próximo a BR 101 norte, no municio de Conceição da Barra, impedindo a entrada e saída das carretas e dos funcionários.

Pouco depois chegou um oficial de justiça com um mandado de re-integração de posse da área de campo. Os quilombolas não receberam o mandado porque a re-integração se referia à área que já havia sido desocupada. Às 15 hs encerraram o movimento após o encaminhamento da realização de uma assembléia para o dia seguinte, sem nenhuma solução satisfatória ainda.

Fuente: Rede Alerta Contra o Deserto Verde

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