Brasil: transgênicos: "Quantos jornais noticiaram manobra da CTNBio para fugir do debate científico?"

Para a CTNBio o debate de conteúdo é inconveniente. Mais fácil é taxar os outros de ideológicos e se afirmar como cientista

Car@s Amig@s,

Em entrevista recente o presidente da CTNBio deixou claro que a audiência pública sobre o milho transgênico realizada no dia 20 de março foi para cumprir tabela, já que a decisão de liberar o milho da Bayer “já está muito cristalizada”.

Primeiro os membros da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança - CTNBio votaram contra a realização da audiência. Depois foram obrigados pela Justiça a realizá-la. Aí discutiram internamente se não seria possível primeiro liberar o milho para depois convocar a audiência. Porém, como a própria assessoria jurídica da Ciência e Tecnologia, ministério que abriga a CTNBio, disse que a proposta não “colaria”, o jeito foi convocar a audiência.

A pressa é grande, e foi necessário contrariar a lógica do caso-a-caso que rege a legislação nacional de biossegurança, e incluir na pauta outros 6 pedidos de liberação de variedades de milho transgênico que ainda nem foram analisados pela CTNBio, quando o certo seria discuti-los caso-a-caso.

Não satisfeita com a deformação da audiência pública, a CTNBio eximiu-se do debate e não prestou esclarecimentos sobre os procedimentos adotados para analisar os pedidos que recebe e para avaliar os riscos do milho transgênico. Walter Colli, presidente da CTNBio, determinou que os membros da CTNBio poderiam no máximo fazer perguntas aos palestrantes. Nem os pareceristas do processo de liberação do milho da Bayer tiveram direito à palavra.

O problema é que a maioria dos membros da CTNBio está convencida de que os transgênicos não apresentam riscos. Basta ver a afirmação do doutor Colli quando ele “diz que o milho transgênico não altera a biodiversidade. “Altera [a biodiversidade] se constrói uma hidrelétrica. Mas uma planta geneticamente modificada, que não cruza com o meio ambiente no entorno?”.

Para evitar que essa crença pudesse ser abalada e para poder continuar taxando de ideológica toda e qualquer crítica aos transgênicos, Colli barrou a participação na audiência de todos os cientistas com posições críticas aos transgênicos que se inscreveram para falar.

Para a CTNBio o debate de conteúdo é inconveniente. Mais fácil é taxar os outros de ideológicos e se afirmar como cientista.

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) foi à audiência, questionou os critérios usados para a seleção dos palestrantes e pediu que fosse aberto espaço para o contraditório. O presidente da CTNBio, depois de tirar uma foto do senador com sua própria câmera, disse que se esforçaria para atender seu pedido. Nada feito.

Quantos jornais noticiaram essa manobra da CTNBio para fugir do debate científico?

Para Colli, o milho transgênico deve ser liberado, uma vez que, para ele, o agricultor vai se beneficiar ao plantar uma semente, “a melhor possível”, “Que não precisa carpir, usar roçadeira, gastar energia, com uma espiga maior, que dá mais por hectare”. Essas declarações são totalmente incabíveis para o presidente de uma comissão encarregada de avaliar o risco dos transgênicos.

As organizações que participaram da audiência pública já solicitaram que a CTNBio retire de pauta o milho da Bayer até que todas as questões levantadas durante a audiência sejam devidamente respondidas.

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A entrevista do professor Walter Colli foi concedida ao jornal Valor Econômico e publicada na edição de 26 de março de 2007.

Boletim Número 338 - 30 de março de 2007 de la Campanha Por um Brasil Livre de Transgênicos
E-mail: rb.gro.atpsa@socinegsnartedervil

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