Mercado em frentes variadas: programas desenvolvidos na Cotrimaio garantem venda de soja convencional, certificada e orgânica

Por Jorge Correa

Os sojicultores ligados à Cooperativa Tritícola de Três de Maio (Cotrimaio)
encontram mercado em várias frentes. Os programas desenvolvidos pelo grupo
garantem a venda da soja convencional, não-transgênica (certificada) e
orgânica. A cooperativa, com 6,4 mil associados, deverá receber na atual
safra 120 mil toneladas da oleaginosa. Dessas, 36 mil toneladas sairão de
lavouras com certificação e controle de rastreabilidade, garantindo a
condição de não-transgênica.

O produto começou a ser colhido na semana passada em 20 mil hectares
cultivados por 1,4 mil agricultores que aderiram ao programa. Cinco mil
toneladas estão vendidas para a Olvebra, que pagará 10% acima do valor de
mercado. No primeiro momento, o associado receberá 2%, mas há promessa de
um percentual de 5%. A empresa norte-americana Genetic ID foi contratada
para fazer auditoria e desde segunda-feira está apta a conferir o certificado.

Segundo o gerente de grãos da Cotrimaio, Francisco Degaspari, esse é um
mercado com grande retorno no futuro. A cooperativa reservou outras mil
toneladas de soja convencional para produzir farelo destinado às criações
de suínos e de gado leiteiro. Dirigentes do grupo mantiveram ontem, em
Santa Rosa, negociações com eventuais compradores da França, interessados
na primeira soja comprovadamente não-transgênica do Brasil.

Quem percorrer os 300 hectares da lavoura de soja de Léo Marasca, em
Esquina Araújo, município de Independência, não notará qualquer diferença,
mas assegura que o grão é "totalmente não-transgênico". A garantia de um
produto diferenciado veio desde a época em que o sojicultor escolheu a
semente e passou pelo período de plantio. Em cada etapa, de novembro a
abril, Marasca era acompanhado por agrônomos da Unitec, uma cooperativa de
técnicos contratada pela Cotrimaio. No final deste processo, denominado de
rastreabilidade, tem a lavoura certificada e em condições de exportar. É um
selo de garantia.

A expectativa de Marasca é de um rendimento de 2,4 mil quilos por hectare.
Choveu mais do que em 1999, quando a estiagem dizimou as lavouras da
região, e o agricultor só colheu 1,9 mil quilos por hectare.

Safra sem agrotóxicos

Outros 136 produtores ligados à Cotrimaio estão plantando soja orgânica,
cultivada sem agrotóxicos em 650 hectares espalhados por 12 municípios. A
expectativa é de colher mil toneladas neste ano de conversão - é preciso
esperar 12 meses para o solo perder resquícios de veneno.

Os ganhos são maiores. A Olvebra comprou toda a produção de 2000 a um preço
10% superior ao da soja convencional. Mas, segundo Francisco Degaspari,
experiências do Paraná mostram que o mercado paga um valor 50% superior.
Essa poderá ser a cotação quando passar a fase da conversão.

Toda a soja que será colhida por Albino Dudar, de Esquina Bela Vista, em
Três de Maio, é orgânica e está vendida.

- Estou contente porque ganharei mais para cultivar um produto com menos
custos e insumos naturais - comemora Dudar.

ZERO HORA, Porto Alegre, 7/4/2000

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