Cuscuz sem transgênico: conheça a cooperativa que desafia a lógica do agronegócio

Idioma Portugués
País Brasil

Do Norte a Sul do país, não há quem não goste dos produtos derivados do milho. Cuscuz, mingau, fubá, canjica… O grão de fato está presente nos mais diferentes pratos na culinária tradicional do Brasil, considerado o maior exportador de milho do mundo.

Foto: SDR/BA

No entanto, com a larga presença do agronegócio no país, o consumo de milhos transgênicos, aqueles que possuem o material genético modificado e com alta carga de agrotóxicos, é um risco à saúde da população.

É justamente contra essa ameaça que em Irecê (BA) um grupo de trabalhadores e agricultores mostra diariamente que é possível nadar contra essa corrente. Foi lá que a Cooperativa Agropecuária Mista Regional de Irecê (Copirecê) surgiu em 1970, com o propósito de ampliar a produção de alimentos livres de veneno na região da Chapada Diamantina.

Ao passar das décadas, o projeto se consolidou e, atualmente, 599 cooperados integram a cadeia produtiva.

Zene Vieira, engenheira agrônoma da Copirecê, explica que os agricultores são acompanhados desde o início do processo de plantio, recebendo o auxílio e a capacitação adequada para o cultivo.

“Hoje nós estamos com cem agricultores com assistência técnica direta. A nossa meta é chegar, até dezembro, de 180 a 200 agricultores engajados, com dedicação para o plantio desse milho não transgênico”, afirma.

Ela se orgulha ao citar o carro-chefe da Copirecê: O flocão de milho, matéria-prima do cuscuz. A estimativa é que, por mês, a cooperativa produza 80 toneladas do produto.

“Aqui no Nordeste como um todo, temos o milho como um alimento sagrado, vamos dizer assim, nas nossas refeições. Além de ser um alimento mais barato do que os outros. E é algo tradicionalmente cultural o consumo do cuscuz. Acreditamos que podemos produzir e oferecer um alimento saudável para estar todo dia na nossa casa”, defende Zene.

A integrante da cooperativa complementa que é também a preocupação com a saúde que impacta a venda do produto final nas prateleiras.

“Temos um consumidor que quer consumir um produto mais saudável e conseguimos escoar essa produção dos nossos agricultores familiares, muito na linha da alimentação saudável. [É deixar] Essa história de estar consumindo aquele alimento com o T gigante na embalagem, sendo que podemos e temos a alternativa de consumir um alimento mais natural que conseguirmos, é o intuito. É o que incentivamos”.

Comercialização

Vamary de Jesus, representante comercial da Copirecê, reforça que após serem beneficiados, os produtos de milho ganham um maior valor agregado que é repassado a cada agricultor na ponta da produção, garantindo a sustentabilidade econômica no campo.

“Costumo dizer que cooperar não é só lutar por um por CNPJ que representa vários CPF’s. É lutar pelo bem comum, isso envolve desde o cooperado até o produto chegar a mesa de um cliente”, afirma.

Atualmente, o Flocão de milho e demais produtos da Copirecê são escoados por meio de  parceiros varejistas e atacadistas, com destaque para centro um centro de distribuição em Salvador, responsável pela entrega nos estados nordestinos, e outro em São Paulo, com envios para unidades da federação do Sul e do Sudeste.

Os produtos também podem ser encontrados nas unidades do Armazém do Campo de todo país, lojas de comercialização dos produtos da reforma agrária do  Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

Protagonismo feminino

Mesmo que impactando a produção, a pandemia do coronavírus não afasta os trabalhadores da cooperativa de seguirem em direção a novos horizontes. Segundo Zene Vieira, a formação de núcleos produtivos de milho só por mulheres é uma semente que já começou a germinar. A ideia é dar espaço e protagonismo para as agricultoras em meio ao ambiente masculinizado do campo.

Os planos envolvem capacitações específicas e outras atividades como discussões relacionadas ao gênero feminino que possam fomentar o reconhecimento das próprias trabalhadoras.

“Nas áreas de produção de milho onde temos mulheres a frente, temos um diferencial. A produção é melhor. Existe uma dedicação para aquele plantio, para o cuidado com a roça de milho. Faz muita diferença. São mais atentas, recebem mais orientações, estão mais abertas às novas tecnologias. Isso é muito bacana”, destaca a engenheira agrônoma.

Edição: Lucas Weber

Fuente: Em Pratos Limpos

Temas: Agricultura campesina y prácticas tradicionales, Soberanía alimentaria, Transgénicos