Brasil: mulheres protestam contra milho transgênico

Idioma Portugués
País Brasil

Grávidas e mães alertam para os riscos do consumo do alimento geneticamente modificado e sugerem sua substituição na dieta para preservar a saúde dos bebês

Mulheres camponesas e urbanas protestaram contra a liberação do milho transgênico na quinta-feira (20), durante a reunião da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) que deu sinal verde para a comercialização da variedade Bt 11 da transnacional Syngenta.

Com camisas e cartazes que levavam os dizeres "Meu filho não é cobaia", as manifestantes denunciaram a Comissão por não se preocupar com a segurança alimentar do País, ao permitir que variedades de milho transgênico sejam consumidos por humanos sem dados e estudos conclusivos que comprovem que esse alimento não faz mal à saúde. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o próprio Ministério da Saúde também questionam a decisão da CTNBio.

As manifestantes citaram estudos da nutricionista e mestre em agroecossistemas da Universidade Federal de Santa Catarina (Ufsc), Elaine de Azevedo, que alertam para os riscos do consumo do milho transgênico, prejudiciais a gestantes, lactantes e bebês. De acordo com elas, há estudos que comprovam que o consumo de milho transgênico causou problemas em filhotes de ratos e frangos que consumiram esse milho, como taxas de mortalidade, mudança na composição do sangue, alterações nos rins e testículos. Além disso, as altas doses do herbicida utilizado no milho transgênico podem ser absorvidas no intestino, passar pelo leite das mães que amamentam e causar reações tóxicas no bebê e nas próprias mães.

Outra preocupação é com as alergias que esses alimentos modificados podem causar em crianças. As bactérias inseridas no milho transgênico podem combinar com as bactérias da flora intestinal e produzir alergias. Essa disfunção em bebês pode causar choque anafilático e até morte.

A própria transnacional Bayer, uma das empresas que produz milho geneticamente modificado, orienta um baixo consumo de milho como fator de prevenção de riscos. "O milho é a base da alimentação do povo latino-americano. Está em óleos, enlatados, farinha, fubá, pamonhas, bolos, mingaus e vários outros alimentos. Como será a ação do milho transgênico entre a população que ingere maior quantidade do que a indicada como segura por esses cientistas? Para completar, a rotulagem não está sendo cumprida. As ações da CTNBio os tornam responsáveis pelos danos à nossa biodiversidade e à saúde do povo brasileiro", afirma a integrante da Via Campesina Brasil, Paula Pereira.

Segundo ela, não se pode confiar em pesquisas que não foram feitas por instituições independentes, usadas como referência na CTNBio, realizadas por pesquisadores de empresas que têm interesse na difusão destes grãos modificados. Diante de tantas dúvidas e da falta de responsabilidade da maioria dos cientistas que compõem a CTNBio, as mulheres presentes na manifestação recomendaram que as gestantes evitem o óleo de milho se tiverem dúvidas sobre sua origem. Pedem usem o óleo de palma, girassol e oliva e, como substituto do milho, usem aveia, trigo, arroz integral (na forma de farinha, flocos e grãos). Elas ainda recomendam o uso de produtos oriundos da agricultura familiar agroecológica, livre de transgênicos.

Mayrá Lima, de Brasília (DF)

Brasil de Fato, 20-09-07

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