Brasil: Maggi quer desmatar para alimentar

Idioma Portugués
País Brasil

O governador de Mato Grosso, Blairo Maggi (PR), conhecido como “rei da soja”, defendeu na semana passada o direito ao desmatamento. Aproveitando-se da problemática em voga sobre a crise global de alimentos, Maggi apontou que desmatar é um mecanismo "inevitável" para enfrentar a alta dos preços e o desabastecimento. A afirmação foi feita logo após a entrega à Assembléia Legislativa da proposta do Zoneamento Sócio-Econômico-Ecológico do Estado

O Zoneamento define critérios para exploração agrícola do território mato-grossense, A proposta apresentada vem se adequar a nova escala de zoneamento definida em plano federal (de 1:250.000), o que, em teoria, ampliaria a proteção contra o desmate.

Segundo Ariovaldo Umbelino, do Departamento de Geografia da USP (Universidade de São Paulo), o instrumento é bom se respeitado. “Não se cumpre zoneamento nenhum se o governo não fiscalizar se está [o zoneamento] sendo respeitado ou não”, observa.

A depender do governo do estado do Mato Grosso, será difícil emplacar qualquer fiscalização. Blairo Maggi já avaliou que é preciso encontrar uma "posição intermediária" que assegure o aumento da produção agrícola. Ele justificou que "com o agravamento da crise de alimentos, chegará a hora em que será inevitável discutir se vamos preservar o ambiente do jeito que está ou se vamos produzir mais comida. E não há como produzir mais comida sem fazer a ocupação de novas áreas e a retirada de árvores”.

Maggi não dá o ponto sem o nó. Além de governador, ele é também dono do grupo Maggi, maior produtor privado de soja do mundo. O grupo é proprietário de 135,7 mil hectares (aproximadamente 1,3 milhões de m²) de área plantada de soja, responsável por quase 20% da produção do estado e pelo processamento de mais de 2 milhões de toneladas do grão, que em sua maior parte é destinada a alimentar animais na Europa e Ásia. Maggi também teve um papel chave em estabelecer a infra-estrutura de transporte que abre ainda mais o Amazonas para o desenvolvimento e o desmatamento.

O governador diz que o novo zoneamento é uma tentativa de vencer o "preconceito" em relação a Mato Grosso, referindo-se a notoriedade do estado como um dos mais devastados pela ambição produtivista do atual modelo agrícola.

É difícil acompanhar a súbta mudança de posição do governador. Há poucos anos, em 2003, quando o jornal New York Times evidenciou que a destruição da Floresta Amazônica tinha aumentado para dois quintos da mata original, Blairo Maggi respondeu: "para mim, 40 por cento de aumento no desmatamento não significa nada, não sinto a menor culpa pelo que estamos fazendo aqui. Nós estamos falando de uma área maior do que a Europa que nem sequer foi tocada, portanto não há nada para se preocupar."

Baliro Maggi foi um dos responsáveis pela criação de estradas que cruzam o coração da Amazônia, que incluem a estrada BR-163, que vai da capital do estado Cuiabá até o porto de Santarém. A pavimentação da BR-163 é parte de um projeto público privado entre o governo brasileiro, Maggi e os gigantes norte americanos do agronegócio Cargill, Bunge, ADM e outros que querem uma maneira barata de exportar a soja. Segundo o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazonia (IPAM) esta estrada de 1.600 km corta 10 milhões de hectares de mata na região, abrindo a área para mais colonização.

MST - Brasil, Internet, 28-4-08

Comentarios