Brasil é vaiado durante a CDB, ao defender que “princípio da precaução não deve ser aplicado aos Agrocombustíveis”

Idioma Portugués
País Brasil

O Brasil, como já havia sido anunciado à sociedade civil, decidiu aceitar discutir, no âmbito da Convenção sobre Diversidade Biológica, o tema dos impactos dos agrocombustíveis à biodiversidade. No entanto, sua primeira intervenção sobre o assunto não poderia ter sido pior.

Bonn, 20.05.08. O Governo Brasileiro afirmou que a produção de Etanol no Brasil é sustentável do ponto de vista ambiental e gera “1 milhão de empregos diretos, e pelo menos 4 milhões de indiretos”, e que no contexto da crise alimentar atual, “o etanol gera empregos e renda para que estes trabalhadores possam comprar alimentos”. Além disso, a fala do Brasil teve outras afirmações questionáveis, como de que ´o cultivo de agrocombustíveis promove a recuperação de áreas degradadas´. Logo após, no auge da inconsistência das afirmações, defendeu que “o princípio da precaução não deve ser aplicado à produção de agrocombustíveis”. Neste momento, ouviu-se uma sonora e espontânea vaia do plenário.

Cabe lembrar que o princípio da precaução é um dos pilares da Convenção sobre Diversidade Biológica, e está totalmente incorporado à legislação nacional. No âmbito internacional, o Brasil sempre foi um de seus maiores defensores.

O Governo brasileiro parece acreditar que consegue jogar para baixo do tapete os danos ambientais e sociais causados pela monocultura de cana no Brasil. E pior: quer tornar a CDB mais um palco para fazer marketing do etanol. Quando fala de “geração de trabalho e renda” associado ao corte de cana o governo deveria ter mencionado também as mortes por sobre-trabalho, os casos de trabalho escravo e as condições precárias do trabalho migrante e sazonal, além dos acidentes de trabalho e enfermidades.

A diplomacia brasileira parece ter perdido completamente a sensibilidade política para entender o ambiente em que as negociações estão ocorrendo: crise alimentar global, críticas à agricultura industrial feitas pela própria ONU e denuncias crescentes no Brasil sobre os danos ambientais e sociais das monoculturas. Se continuar assim, é melhor que se acostumem às vaias.

Enviado por: rb.gro.tsm@laregs

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