Países traçam perfil do agronegócio na América Latina

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Apesar das economias e das culturas dos países latino-americanos serem distintas, o efeito destruidor que o agronegócio gera é comum a todos eles. Argentinos, brasileiros, paraguaios, uruguaios e bolivianos traçaram um perfil deste modelo em seus países, a fim de encontrar as semelhanças e, assim, criar um plano de resistencia em conjunto

Raquel Casiraghi / MST / Minga Informativa. A constatação ganha coro: é necessário construir um novo modelo economico e agrícola rapidamente, antes que os povos se tornem totalmente dependentes e o meio ambiente seja degradado.

Na Argentina, o agronegócio chegou no ano de 1990, auge da globalização e momento em que o governo adotou o modelo como política de Estado alegando desenvolver a agricultura e a economia do país. A soja foi o produto de expansão do modelo, com a adesão rápida dos argentinos pelo grao transgenico RR (Roundup Ready), de propriedade da Monsanto. Atualmente, dos 17 milhões de hectares de sementes geneticamente modificadas plantadas no país, 15,5 milhões são de soja transgenica. Destas, 45% são do tipo RR, de patente da multinacional estadunidense.

O engenheiro agronomo Adolfo Boy relata que, somente entre os anos de 1990 a 2001, o agronegócio fez desaparecer mais de 100 mil pequenas empresas agropecuárias dos setores de leite, frutas, hortaliças e graos. “O lucro com as comodities, principalmente com a soja, foram utilizados para pagarem as dívidas externas da Argentina com o FMI [Fundo Monetário Internacional] e alguma coisa com gastos sociais internos. Ao mesmo tempo, o campo esvaziou e as grandes cidades cresceram rapidamente, gerando empobrecimento dos povos nos dois locais”, afirma. O efeito de um modelo agrícola exportador baseado na soja foi avassalador para a alimentação e a economia do país. A Argentina, que chegou a ser a maior produtora de mel do mundo, hoje têm voltadas para a venda externa, além do cereal, a produção de carne, frutas e hortalicas – produtos que são escassos para a população, cuja base alimentar é soja e massas. “Precisamos combater o agronegócio logo”, defende.

No Brasil, a produção do agronegócio é mais variada, mas não menos destrutiva. Além da soja, o país é um dos maiores exportadores de carne bovina e de frango, de tabaco e de calcados de couro. Este modelo representa 33% do PIB (Produto Interno Bruto), sendo que a venda da soja é responsável por 42% do faturamento. Camila Moreno, integrante da ONG Terra de Direitos, explica que as multinacionais, os latifundiários e a bancada ruralista (grupo de parlamentares do Congresso brasileiro ligados ao agronegócio) são os principais defensores e articuladores do modelo. Grupos que contrastam com os movimentos sociais camponeses, os quais historicamente resistem, desde a década de 1950, com a agricultura familiar. “Estes modelos não são complementares. No Brasil, provou-se que a existencia do agronegócio depende do desaparecimento da agricultura familiar”, analisa Camila.

A agricultura familiar no Brasil planta quase a totalidade dos alimentos consumidos pela população. Além de se voltar somente para a exportação, o agronegócio ainda conseguiu colocar em crise a cadeia familiar do leite, um dos produtos básicos da alimentação do país. Camila conta que, com o apoio de governos neoliberais, multinacionais da rede de supermercados se expandiram e ganharam espaço para negociar preços de produtos agrícolas diretamente com os grandes produtores. O preço do leite pago ao produtor caiu drasticamente, o que afetou a agricultura familiar, que produz em menor quantidade do que o agronegócio. O modelo gerou alta concentração de terras nas mãos de grandes agricultores.

A soja também é personagem principal do agronegócio no Paraguai e na Bolivia. Atualmente, a economia paraguaia é totalmente dependente da exportação do cereal, cuja produção gira em torno de 5 milhões de toneladas, tornando o país sexto produtor mundial do grão. No entanto, o Paraguai compra do Brasil e da Argentina 60% dos alimentos consumidos pela população. Outra grande conseqüencia deixada pelo modelo é a contaminação do solo, de rios e sobretudo das pessoas pelos agrotoxicos – químicos que, em sua maioria, são contrabandeados do Brasil. O uso destes aumentou com o plantio da soja transgenica no país, intoxicando principalmente crianças, que sofrem de problemas pulmonares e de pele.

Na Bolivia, são os sojicultores brasileiros, aliados às multinacionais, que lideram o avanço do agronegócio atualmente. A pesquisadora Sorka Copa Romero relata que, como os brasileiros não podem pedir a liberação da soja transgenica no país por serem estrangeiros, empresas como a Monsanto reivindicam junto ao governo boliviano a liberação do plantio. “Multinacionais e latifundiários estao juntos no agronegócio”, afirma. As terras bolivianas são controladas por apenas 100 famílias, as quais possuem fortes laços com políticos.

Celulose – Destoando dos outros países, o agronegócio no Uruguai iniciou com o plantio industrial de pinus e de eucalipto para a produção de celulose. Incentivado e financiado pelo Banco Mundial na década de 70, o governo uruguaio recebeu diversos empreendimentos de multinacionais. “Com o florestamento, 35 mil camponeses deixaram o campo nos últimos 30 anos, gerando desemprego para cerca de 80 mil pessoas”, analisa Alberto Villareal, do grupo ambientalista Redes. Hoje, a monocultura das árvores cresce na média de 70 mil hectares por ano.

No agronegócio uruguaio, a soja surgiu somente nos anos 2000. “Em 2004, a soja já cobria 300 mil hectares do território do Uruguai, sendo que em 2000 eram apenas 14 mil hectares. A monocultura do grão chegou tarde em relação aos outros países, mas não menos destruidor.

Fonte: Comunidad Web de Movimientos Sociales, 25-6-06

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