ONU aprova projeto de criação de um IPCC da biodiversidade

Por AFP
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Os defensores da biodiversidade terão em breve a sua disposição um instrumento tão poderoso para avaliar o desaparecimento das espécies animais e vegetais que o Painel Intergovernamental para Mudanças Climática, o IPCC, vencedor do Prêmio Nobel da Paz 2007

Um passo à frente decisivo rumo à criação desse IPCC da biodiversidade foi dado nesta quinta-feira, em Bonn, onde foi realizada a conferência dos países membros da Convenção da ONU para a Diversidade Biológica (CDB).

"Decidiu-se convocar uma reunião intergovernamental para novembro com o objetivo de concluir e lançar esse mecanismo", declarou à AFP Didier Babin, que dirige o projeto há três anos.

Essa decisão que foi adotada em grupo de trabalho, deverá ser retificada na sexta-feira em sessão plenária pela conferência.

"Estamos nos trilhos. É necessária uma validação política de alto nível", afirmou ele, acrescentando que a reunião de novembro, cujo local ainda não foi escolhido, poderá ser realizada em nível ministerial.

A idéia é instaurar uma rede de especialistas que possa desempenhar pela biodiversidade o mesmo papel de interação entre os cientistas e políticos que os especialistas do IPCC para o aquecimento global.

A biodiversidade é um desafio maior, tanto para a redução da pobreza, para o aprovisionamento de água potável, para o fim dos conflitos ligados à utilização e à apropriação de recursos renováveis, quanto para a saúde.

Mas devido à complexidade dessas questões, a comunidade científica que estuda esse tema está muito fragmentada, e suas idéias não chegam aos ouvidos dos líderes políticos.

"A informação científica sobre a biodiversidade está muito dispersa. É preciso estabelecer relatórios que tenham impacto", considerou Didier Babin.

Para Abdul Zakri, que co-presidiu a Avaliação do Milênio dos Ecossistemas do Planeta de 20O1 a 2005, "o IPCC é verdadeiramente um modelo muito forte no qual é preciso se inspirar para realizar avaliações sobre a biodiversidade".

Os três pontos fortes do grupo de especialistas sobre o clima devem ser a "credibilidade científica", a "pertinência" e a "legitimidade política".

A erosão da biodiversidade é tão grave quanto as mudanças climáticas, mas a problemática suscitada carece de visibilidade.

"Não é um proceso claro como o do aquecimento global, com o derretimento das geleiras do Árctico e da neve do Kilimanjaro", explicou à AFP Abdul Zakri, hoje diretor do Instituto para os Estudos Avançados das Nações Unidas no Japão.

Se o clima representa um desafio mundial, comum ao conjunto da humanidade, a biodiversidade também abrange os desafios nacionais de maneira mais direta, como a proteção dos mangues, a pesca predatória, o desmatamento.

"Com isso, alguns países tendem a proteger de maneria egoísta sua soberania", ressaltou Abdul Zakri.

Portanto, "temos muito a aprender sobre o planeta", acrescentou.

Um IPCC da biodiversidade permitiria "organizar melhor as informações básicas e fazer alguns temas emergirem", considerou Didier Babin.

Por exemplo, "se pudéssemos dispor de um relatório completo sobre o impacto dos biocombustíveis sobre a biodiversidade há um ano, conseguiríamos avançar muito mais rápido nessa questão em Bonn", afirmou Babin.

A idéia da criação de um IPCC da biodiversidade foi mencionada em janeiro 2005 em Paris, durante uma confêrencia internacional, por iniciativa do presidente Jacques Chirac.

AFP, Internet, 29-5-08

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