Brasil: foram liberadas duas variedades de milho transgênico e uma de algodão geneticamente modificadas para resistir aos agrotóxicos

Ontem a CTNBio garantiu a alegria das multinacionais Monsanto e Syngenta. Foram liberadas duas variedades de milho transgênico e uma de algodão. As três são geneticamente modificadas para resistir aos agrotóxicos à base de glifosato. Também foi liberada uma vacina transgênica para suínos.

O Ibama registrou aumento de 95% do consumo desses venenos em cinco anos de uso da soja transgênica da Monsanto -- o que, por outro lado, também não está acabando com a necessidade de recorrer a outros velhos agrotóxicos. Onde está a revolução biotecnológica e seus novos produtos, mais nutritivos, saborosos e produtivos? Enquanto alguns seguem esperando o trem, o que se viu até aqui nesses dez anos de uso das sementes transgênicas foi a ampliação do mercado de herbicidas para as empresas que manipularam as sementes para este fim.

Segura de que a liberação estava a caminho, no início do mês, a Monsanto já anunciava, de acordo com o jornal DCI, que investiria 150 milhões de dólares na sua fábrica de glifosato em Camaçari, na Bahia. Segundo a empresa, a unidade de Camaçari custou 550 milhões de reais. Em 2000, com aprovação da Sudene, o Fundo de Investimento do Nordeste - Finor, investiu mais de 60% de todo o seu orçamento para o ano na fábrica da Monsanto, ou seja, mais de 285 milhões de reais. Depois, em 2003, mais dinheiro público foi colocado na fábrica da Monsanto. Dessa vez via BNDES, que concedeu 40 milhões de dólares à empresa americana. Mas os transgênicos não estão aí para reduzir o uso de venenos?

A reunião da CTNBio deste mês, como de costume, teve duas etapas: primeiro o encontro setorial e depois a sessão plenária. Os membros da CTNBio na reunião setorial vegetal/ambiental eram 12. Os representantes das empresas assistindo a reunião pareciam em maior número. É uma pena que os repórteres que escrevem sobre o tema em geral não assistem à reunião e colhem suas informações de poucas fontes selecionadas. Se estivessem lá, teriam visto que quando a sala encheu e faltaram lugares para dois representantes das empresas que chegaram, assessores da CTNBio de forma tão rápida quanto gentil cederam a eles seus lugares e foram sentar-se alhures. Mas isso não daria notícia.

Teriam visto também a dificuldade encontrada pelo membro da CTNBio, representante do Ministério do Desenvolvimento Agrário, doutor pela UFSC, para poder ler seu parecer sobre uma das variedades de milho que estava em análise. Quatro dos membros da CTNBio se revezaram para interromper a leitura do voto e pedir que ele concluísse. Interessante, não, uma comissão técnica ter tão pouco interesse e paciência para ouvir um colega apresentar a justificativa técnica de seu voto? Aluízio Borém, da Universidade Federal de Viçosa, por mais de uma vez interrompeu a leitura do voto do MDA. Em sua última intervenção sugeriu que o colega parasse de ler e fosse direto à última frase do parecer.

Conhece a ONG Pró-Terra? Talvez já nem esteja mais por aí. Mas sabe um de seus parceiros? A Monsanto. O coordenador da ONG? Aluízio Borém. Sim, o mesmo que desfilou pelo Congresso trajando jaleco branco em defesa de mudanças na lei para conferir amplos poderes para a CTNBio liberar os transgênicos.

Por que o MDA votou contra? Resumindo, porque o documento da Syngenta informa que seu milho transgênico é seguro, e que as comprovações estariam no apêndice 8 da documentação apresentada. Acontece que o apêndice 8 foi retirado do processo e nem os relatores tiveram acesso a ele. Porque os ratos de laboratório que comeram o milho transgênico e apresentaram "defeitos" foram retirados das análises. Quer saber mais? Peça a transcrição da gravação da reunião para a CTNBio. Lá você também verá que boa parte da defesa da segurança alimentar do algodão transgênico da Monsanto foi feita usando-se dados da soja. Também verá que para a CTNBio, que é uma comissão técnica, vale mapa sem escala e sem legenda.

Votação em plenário: 16 a favor e 4 contra (MDA, Ministério da Saúde, representantes da sociedade civil das áreas ambiental e da saúde). Mas antes da votação, o presidente da CTNBio parecia querer se certificar de que o sumiço do dito apêndice 8 em nada prejudicaria a análise técnica da comissão. O professor Borém foi o primeiro a falar, e assegurou que mesmo sem ter acesso àqueles dados dá para saber que o milho é seguro. A confirmação científica veio na voz do representante do Itamaraty, professor da UFPE e empresário da biotecnologia, Paulo Paes de Andrade, que disse que a segurança vem do fato de esse milho já ter sido liberado em outros países.

Quem abriu os jornais hoje não encontrou nenhuma dessas informações.

BOLETIM POR UM BRASIL LIVRE DE TRANSGÊNICOS

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