Brasil: Gabriela Vuolo - Coordenadora da Campanha de Anti-Transgênicos do Movimento Ambientalista

Idioma Portugués
País Brasil

São Paulo, 15 de agosto de 2007 - O Greenpeace vê falhas internas na Comissão Nacional de Biossegurança (CTNBIO) que podem representar um risco à saúde humana e ao meio ambiente. Em entrevista à Gazeta Mercantil, a coordenadora da campanha de anti-transgênicos do movimento ambientalista, Gabriela Vuolo, 26 anos, defende uma norma padronizada para a liberação comercial de organismos geneticamente modificados (OGMs)

Entrevista concedida à repórter Viviane Monteiro

"Os produtos que são aprovados são analisados caso a caso, não existe uma regra mínima padrão. Os documentos apresentados pelas empresas são diferentes um dos outros, são individuais", afirma Gabriela, com formação em Relações Internacionais.

Segundo ela, o milho "Liberty Link", da alemã Bayer, cuja liberação comercial está suspensa por ordem judicial, ainda deve enfrentar resistência do Conselho Nacional de Biossegurança (CNBs) que reúne 11 ministérios por não possuir o estudo de impacto ambiental, previsto no artigo 225 da Constituinte Brasileira. O Greenpeace possui 27,1 mil colaboradores. A receita do movimento no Brasil no ano passado foi de R$ 11,6 milhões, 7% mais que um ano atrás. As contribuições recebidas pelo Greenpeace Internacional representou 72,4% desse montante, o equivalente a 8,451 milhões. As contribuições dos colaboradores foram de R$ 3,045 milhões, 26,1% do total.

Gazeta Mercantil - Amanhã será realizada uma audiência pública em Brasília para a liberação de novas variedades de algodão geneticamente modificado. O movimento pretende fazer algum protesto?

Gabriela Vuolo – Não faremos nenhum protesto, mas vamos acompanhar o evento.

GZM - O Greenpeace pretende continuar participando das reuniões de deliberações comerciais da CTNBio?

Gabriela Vuolo – Sim, apesar de não termos o direito de voz, vamos continuar presentes. Desde sempre sabíamos que não podíamos falar nada nas reuniões, mas pedimos para participar dos eventos até porque a Lei de Biossegurança permite a presença do público. E o que é discutido lá dentro é muito grave. E se as sessões do Senado e da Câmara são abertas, por que as da CTNbio também não podem ser? A transparência é muito importante.

GZM - Alguns cientistas acusam o Greenpeace de receber recursos de multinacionais fabricantes de defensivos agrícolas, que também fabricam transgênicos, para não deixar a CTNBio aprovar outros OGMs no Brasil. Isso para perderem o mercado das sementes convencionais no Brasil, já que quase todos países hoje plantam transgênicos.

Gabriela Vuolo – Isso não é verdade, pois as principais fontes de recursos do Greenpeace são as pessoas físicas. E qual seria o interesse das empresas de barrar os transgênicos sendo que elas são as principais interessadas no assunto? Além disso, os defensivos são usados mesmo nos produtos transgênicos.

GZM - Quantos colaboradores o Greenpeace possui e quanto é a sua receita?

Gabriela Vuolo – Temos 27,1 mil colaboradores e a receita no ano passado foi de R$ 11,679 milhões.

GZM - O Greenpeace sempre faz críticas à liberação de produtos transgênicos no Brasil. Existem falhas na CTNBio?

Gabriela Vuolo – A CTNBio não possui uma norma interna padrão para tratar da liberação comercial dos OGMs. A comissão não criou normas para liberar produtos transgênicos. Os produtos aprovados são analisados caso a caso, não existe uma regra padrão. Todo produto transgênico liberado comercialmente precisa passar por um estudo de impacto ambiental, pois isso consta no artigo 225 da Constituinte Brasileira, que está acima de qualquer lei. A Lei de Biossegurança está de acordo com isso. Ao contrário, na CTNbio não existe uma regra mínima padrão. O milho da Bayer, por exemplo, não tem nenhum estudo de impacto ambiental.
Além da falta de uma regra padrão, não existe regra para preservar a natureza. O produto transgênico pode provocar desequilíbrio ecológico agrícola, pois a planta transgênica não é seletiva. Ao ser resistente a ervas daninhas, ela pode matar outras espécies, como pequenos mamíferos, borboletas e aves.
Existe ainda o risco da polinização cruzada. Qualquer organismo geneticamente modificado tem alto risco de contaminação por conta do pólen. Se colocar a semente transgênica muito próxima à convencioanal pode haver contaminação pela polinização cruzada. Faltam ainda estudos conclusivos para a segurança da saúde humana.

GZM - O estudo de impacto ambiental é exigido em outros países produtores de transgênicos, como Estados Unidos, Argentina e Canadá? Tem como mensurar os prejuízos ecológicos provocado pelos transgênicos no mundo?

Gabriela Vuolo – Sabemos que existe o risco do desequílibrio ecológico, mas como ainda não existe estudo de impacto ambiental no mundo, isso não foi feito no Brasil.

GZM - Existem estudos no mundo, em países como os Estados Unidos, onde quase 100% da soja já é transgênica, que mostrem o impacto dos OGMs à saúde?

Gabriela Vuolo – Nesses países não existe a Lei de Rotulagem, por isso não tem como mensurar isso. Mas estudos prévios científicos mostram que estão sendo liberados algo sem saber se é seguro à saúde.

GZM – Porque nos Estados Unidos, o maior produtor de OGMs, não existe campanha contra os produtos transgênicos?

Gabriela Vuolo – Isso precisa ser perguntado ao pessoal (do Greenpeace) de lá.

GZM - O que pode acontecer ainda com o milho da Bayer, que segundo as suas informações, não passou pelo estudo de impacto ambiental?

Gabriela Vuolo – Ele pode ainda ser barrado no Conselho Nacional de Biosssegurança (CNBs).

Gazeta Mercantil, Brasil, 21-08-07

 

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