Brasil: jornada de lutas

Idioma Portugués
País Brasil

Durante esta semana, militantes de diversas organizações sociais protagonizam, em todo Brasil, diversos protestos, tanto no campo, como na cidade. Trancamento de estradas, ferrovias, ocupações de hidrelétricas e empresas de energia elétrica fazem parte da Jornada Nacional e Lutas, organizada pela Via Campesina – entidade que reúne movimentos sociais de quatro continentes - e pela Assembléia Popular - movimentos de trabalhadores rurais e urbanos

Segundo os próprios movimentos, as ações têm como objetivos denunciar os problemas causados por grandes empresas, especialmente as estrangeiras, beneficiadas pelo modelo do agronegócio e pela economia neoliberal.

Para entender melhor as razões da jornada, a Radioagência NP entrevistou a integrante da Via Campesina, Micilene Gorete, e o membro da Assembléia Popular, Frederico Santana. Entre os temas, eles destacam os objetivos dos protestos contra a expansão da cana e do eucalipto e as manifestações contra a transposição do Rio São Francisco.

Radioagência NP – Por que realizar uma Jornada Nacional contra o modelo econômico do Brasil?

Micilene Gorete - A Jornada Nacional tem esse caráter de temas que estão ligados ao modelo de desenvolvimento fortalecido hoje em nosso país. A nível nacional, o que dá unidade, é a luta contra o modelo do agronegócio. Em torno disso está a questão do aumento do preço dos alimentos que está ligada ao avanço da produção dos agrocombustíveis. Outro tema que deu unidade nacional foi a questão da venda das terras para empresas transnacionais, usadas para a produção das grandes monoculturas, nisso está a soja, o eucalipto e a cana-de-açúcar. Outro tema foi a questão da transposição do Rio São Francisco.

RNP - Qual o problema da transposição?

Frederico Santana - A transposição do Rio São Francisco repete uma fórmula da indústria da seca que perdura nos 500 anos no Brasil. Não há um interesse concreto em se acabar com a seca. 70% das águas da transposição serão destinadas para a produção do agronegócio. Ou seja, os empresários que possuem terras na região, terão acesso a essa transposição para produzir alimentos para exportação. Como produção de uva, caranguejo e camarão. E os custos para a transposição são gigantescos se comparados a um conjunto de outras iniciativas que já demonstraram que seria possível atender muito mais famílias rurais e mesmo o meio urbano.

RNP - E o que justifica a ocupação de barragens e empresas de energia elétrica?

MG – Infelizmente, as barragens sempre representaram a expulsão dos camponeses das terras para poder expandir o modelo que apenas está a serviço de poucos. Isso representa que os bens naturais do nosso país cada vez mais estão sendo privatizados e o preço da energia vai aumentando para a população em geral.

RNP - Quais os exemplos podem ser citados?

FS - A Vale do Rio Doce acaba de assinar um acordo em que consegue o acesso a energia durante 25 anos por R$ 3,3 o quilowatt, ao passo que a tarifa residencial de Minas Gerais está em R$ 62. O que a mobilização está tentado fazer é publicizar que foi aprovado uma lei que obriga as concessionárias de energia a darem isenção do pagamento da tarifa para famílias que consumam em média 220 quilowatt.

RNP - Pela cobertura da grande mídia, parece que todas as ações são de autoria do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). E eles criticam a postura muito “política” do Movimento. O que você acha?

FS - A jornada é muito mais ampla que o MST, não só os movimentos organizados na Via Campesina estão envolvidos, existem muitos movimentos urbanos. Os movimentos perceberam que não dá para ficar brigando pelo seu pedaço de terra em si ou pela moradia no seu bairro. O que os movimentos estão percebendo é que o modelo de desenvolvimento é que precisa ser alterado, porque do contrário, não vai acontecer a reforma agrária, a reforma urbana, não vai acontecer o acesso a condições de saúde adequada, de educação. Nesse sentido, eles conseguem transpor de uma pauta que é exclusivamente econômica, demonstrando que o problema é político. Mas os movimentos continuam sendo movimentos sociais e não partidos.

Radioagência NP, Internet, 11-6-08

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