Brasil: monocultura é danosa e leva à submissão dos produtores, afirma agricultor

Experiências mal-sucedidas com monocultura, como é o conhecido caso da Aracruz Celulose, já serve de alerta aos produtores do campo brasileiro

Recentemente, a empresa “Brasil Ecodiesel”, de extração de biodiesel a partir da mamona, anunciou que o município de Rosário do Sul (RS), será a nova sede da fábrica. Para isso, a empresa terá ajuda do próprio governo federal no incentivo à plantação exclusiva da mamona. Pequenos agricultores da região, no entanto, indicam a necessidade de um modelo mais participativo, que estimule trabalhos cooperativados e cultivos diversificados.

Para Áureo Scherer, do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), todos os tipos de monoculturas são danosas aos camponeses e ao meio ambiente, além de levar os produtores à submissão com relação às multinacionais.

“Porque não dá pra ficar preso e submetido à uma única cultura. Temos vários exemplos, como a questão da monocultura da soja que trouxe uma quebradeira, uma falência generalizada no campo brasileiro, porque o preço da soja está muito abaixo de seu preço de produção. A monocultura da madeira, como a que envolve a Aracruz, na região sul. Por isso nós achamos que esse não é o caminho adequado, não é o mais apropriado para este momento. Além do mais, por estar também controlado por determinadas empresas multinacionais. Temos que construir nossa autonomia, que é isso que estamos construindo na região das Palmeiras das Missões (RS)”.

Segundo Scherer, os pequenos agricultores da região de Palmeira das Missões estão implementando uma refinaria de biodiesel, a partir da extração de vários tipos diferentes de sementes. A proposta é evitar a monocultura da mamona, já que o biodiesel pode ser extraído também do girassol, do pinhão-manso, entre outros.

De São Paulo, da Agência Notícias do Planalto, Clara Meireles

Debate sobre a importância dos povos indígenas e africanos na construção cultural do Brasil
As escolas públicas e privadas ensinam que o Brasil é fruto da miscigenação entre brancos, índios e negros. Entretanto, os povos indígenas e africanos, que formaram e construíram o país, ficam relegados ao passado. Esta foi a análise que permeou os debate: Construções Étnicas: Identidade e Diversidade Cultural, que aconteceu nesta quinta-feira (06), no teatro do Sesc Vila Mariana, em São Paulo (SP). A atividade faz parte do Seminário Cultura Viva na Teia, que integra a programação da Teia Cultural, uma série de atividades organizadas pelo Ministério da Cultura, na capital paulista.

Segundo a professora de Antropologia da USP, Maria Lúcia Montes, a população negra está fadada à escravidão na história do Brasil.. O mesmo acontece com os povos indígenas. Sempre tratados de forma genérica, as discussões não respeitam a diversidade dos 220 povos indígenas do país. Para reverter este quadro, Maria Lúcia citou a criação do Museu Afro Brasil, localizado no parque do Ibirapuera, em São Paulo. De acordo com a professora, identidade é fruto de uma construção social, por isso a importância de pensar à sério a questão da diversidade. Segundo ela, não haveria cultura brasileira se não fossem os povos indígenas e africanos.

Beth de Oxum, do Centro Cultural Coco de Umbigada de Recife (PE), denunciou que as igrejas evangélicas, que se alastram cada vez mais nos canais de televisão, negam e degradam a cultura popular brasileira, e que isso deve ser discutido pela sociedade. Ela contou que o trabalho que desenvolve reúne crianças da comunidade para que elas tenham acesso à riqueza cultural brasileira, que não aparece no rádio e na TV. Segundo Beth, a mídia está ocultando nossa cultura.
A Teia Cultural acontece até domingo, 9 de abril, no Pavilhão da Bienal no Parque do Ibirapuera (SP), com atividades de música, teatro, artes plásticas e visuais, oficinas e debates.

De São Paulo, da Agência Notícias do Planalto, Joana Martines

Para MPA, agricultura camponesa é sinal de nação autônoma

O governo federal anunciou nesta quinta-feira (06) a prorrogação do pagamento das dívidas dos agricultores para mais um ano, e apoio à comercialização de produtos do setor. Para o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), as medidas garantem apenas um curto período de solução. O endividamento continua sem mudança estrutural. Segundo Áureo Scherer, da direção do MPA, as mobilizações devem continuar, já que o problema ainda não foi solucionado.

“Esta situação que hoje já é extremamente grave vai ser muito pior, porque nós estamos rolando de um ano para o outro, a solução de um problema. O montante da dívida também se amplia de ano para ano. O MPA defende, primeiro: o alongamento do pagamento das dívidas por mais 20 anos.

Segundo: um credito de reestruturação das pequenas propriedades, onde tenhamos à disposição recursos subsidiados na questão do custeio, principalmente, e exclusivamente para a produção de alimentos. Ou seja, milho, feijão, arroz, aipim, entre outras culturas.”

Segundo o MPA, o governo deve entender que a agricultura camponesa é prioridade para o desenvolvimento de uma nação autônoma e independente. Os pequenos agricultores se dizem vigilantes para implementação de políticas concretas de fortalecimento da produção camponesa.

De São Paulo, da Agência Notícias do Planalto, Clara Meireles

Povos consideram descaso com indígenas recusa do Presidente em recebê-los

O encerramento do 3º Terra Livre nesta quinta-feira (06), não foi tão comemorado com esperavam as mais de 550 lideranças indígenas, dos 86 povos representados no evento. O acampamento que integra as atividades do Abril Indígena, estava montado desde terça-feira (04), na Esplanada dos Ministérios, em Brasília (DF). Debatendo por três dias, a situação dos Povos Indígenas no Brasil e abordando problemas sofridos pelas tribos, como a violência e a saúde indígena, os integrantes do acampamento não conseguiram ser recebidos pelo Presidente Lula.

Os indígenas repudiaram a recusa do poder executivo em recebê-los, pois nesta semana reuniram-se com o Presidente da Câmara dos Deputados, Aldo Rebello (PcdoB), que sugeriu, inclusive, aos parlamentares a criação de uma comissão permanente no Congresso para tratar da temática indígena. O Presidente do Senado Federal, Renan Calheiros (PMDB), também se reuniu com as lideranças e recebeu a carta de reivindicações formuladas durante o evento.

Segundo as lideranças, a reunião com o Presidente, já estava agendada, o horário foi transferido e posteriormente a reunião cancelada sem qualquer justificativa. A Comissão que esperava pelo encontro ainda foi barrada na porta do Palácio do Planalto, diante da informação de que o Presidente só receberia três representantes por falta de tempo e espaço. O Fórum em Defesa dos Direitos Indígenas e a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (FDDI), afirmou que esta atitude demonstra descaso do governo federal com as temáticas indígenas, justamente o poder responsável por sua elaboração.

De Brasília, da Agência Notícias do Planalto, Gisele Barbieri

Quase metade dos professores de SP sofre de estresse

Segundo constatou a pesquisa da Associação dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), 46% dos professores da rede pública de educação paulista sofrem de estresse. A violência física e as ameaças verbais dentro das escolas são os maiores motivos do problema.

Segundo o sindicato, 25% dos profissionais de ensino também têm depressão.

Professores da rede estadual de Ribeirão Preto (SP) estão introduzindo jogos e brincadeiras nos intervalos das aulas para tentar reverter um pouco do problema. Para a educadora da Universidade de São Paulo (USP) Cecília Hanna Mate, as tentativas dos professores paulistas são paliativas, mas não deixam de ser positivas.

“Ao fazer os jogos e brincadeiras nos intervalos, ele vai, teoricamente, descontrair e isso pode ser uma possibilidade dele recobrar a energia. Ir pra sala de aula mais bem humorado, mais leve. Isso pode aproximar mais as pessoas, criar uma rede de solidariedade, quem sabe, vai quebrar certas armaduras. É um paliativo, mas acho que atualmente estamos vivendo numa luta diária. Perante todas as desilusões que vivemos, temos que tornar nosso dia-a-dia politicamente melhor”
Segundo a professora da USP, os principais motivos desse tipo de estresse e depressão dos profissionais são decorrentes do excesso da carga de trabalho, da desvalorização econômica da categoria e da escolha que muitos fazem sem identificação suficiente com a carreira.

De São Paulo, da Agência Notícias do Planalto, Clara Meireles

Agricultores do RS desaprovam estimulo à monocultora de mamona

O estado do Rio Grande do Sul tem se integrado cada vez mais à produção do biodiesel, e já chama atenção de investidores do setor. A empresa “Brasil Ecodiesel” anunciou que o município gaúcho de Rosário do Sul será a nova sede da fábrica. No entanto, o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) acredita que a instalação da empresa na cidade irá causar uma maior dependência dos camponeses com relação à indústria, e prejudicar a subsistência das famílias.

Para o Movimento, o objetivo da "Brasil Ecodiesel" ao instalar a fábrica é garantir produtores de matéria prima que trabalhem com o sistema de monocultura. Os pequenos agricultores, no entanto, defendem um modelo mais participativo, e que estimule trabalhos cooperativados e cultivo diversificados.

O MPA acredita que a "Ecodiesel", que deve investir cerca de R$ 20 milhões em Rosário do Sul, não está interessada no desenvolvimento da região, já que a empresa não busca mecanismos de sócio-cooperação com os produtores.

De São Paulo, da Agência Notícias do Planalto, Clara Meireles

Cultura em debate: Dramaturgia sob o ponto de vista da cultura popular

Entrevista - Artistas clássicos sempre buscaram sua base no universo da cultura popular. É com essa convicção que o diretor de teatro Ednaldo Freire e o dramaturgo Luís Alberto de Abreu criaram, em 1993, o “Projeto de Comédia Popular Brasileira”. O principal objetivo da iniciativa foi o resgate e a investigação de expressões artísticas que simbolizem, de fato, a cultura popular brasileira. Ednaldo Freire, que além de diretor é também ator e cenógrafo, considera o teatro de grupo, que é concebido e executado de forma coletiva, como uma opção de vida. Sua busca pelas temáticas populares e pela arte coletivizada impulsionou o nascimento da Fraternal Cia de Artes e Malas-artes, em 1993, grupo teatral do qual participa. Criada há mais de 10 anos a partir das experiências de alguns trabalhadores de uma empresa da cidade de São Paulo, a Fraternal tem como princípio a busca constante por temas, gêneros e formas da tradição popular.

Agência Notícias do Planalto: Qual é o papel político do teatro na construção da resistência cultural de um povo?

Ednaldo Freire: O papel do teatro é político por natureza, na medida que ele é uma arte coletiva. Além de ser produzido coletivamente através de seus trabalhadores de teatro, que são os atores, é uma arte que reflete a sociedade. É uma arte eminentemente política, porque é uma arte do encontro, do debate.

ANP: Como o senhor se interessou pelo teatro?

EF: Sou da geração do Arena e do Oficina. Comecei a fazer teatro durante o movimento estudantil ainda, mais especificamente no meio secundarista. Fazia teatro amador numa região do Grande ABC, região de grande efervescência política, dos movimentos operários. Era uma época onde misturávamos muita a militância estudantil com a arte. Éramos bastante jovens e sonhávamos em mudar o mundo, tínhamos muita motivação pra isso, na medida em que a gente vivia os anos duros da ditadura. Era uma época em que o Arena estava em pleno desenvolvimento, tínhamos também o núcleo 2 [do Arena], com Edson Santana e Celso Frateschi, que trabalhava com teatro jornal. A censura exercia sua face mais cruel sobre a imprensa e sobre a arte, então, as noticias eram praticamente censuradas. Tínhamos que interpretar as notícias nas entrelinhas, e no mesmo dia teatralizar para um debate. O trabalho que o Arena fazia era basicamente isso.

ANP: E nessa época o senhor começou a fazer teatro?

EF: Nós tentamos trabalhar um pouco nessa linha do teatro jornal, um teatro sempre preocupado com uma linha mais política. Mas nós percebíamos que tínhamos muito o que aprender ainda como teatro, e a grande vontade que tínhamos era falar para a grande massa, e para isso você tinha que usar uma forma de comunicação que fosse referência para eles. Foi daí que veio o interesse pela linguagem popular do teatro, o interesse de entrar na cultura popular a fundo pra tentar usar como linguagem de comunicação estética.

ANP: Qual a inspiração do tipo de teatro que o senhor faz hoje?

EF: Continuo fazendo um teatro de inspiração popular. Lógico que não fazemos teatro popular, porque isso só seria possível se o povo realmente fizesse, mas a gente faz um teatro onde a gente busca as referências na cultura popular ainda hoje.

ANP: Por que a opção pelo teatro e pela cultura popular?

EF: Quando a gente fala em cultura popular ou teatro popular, estamos admitindo que existe um teatro que não é popular e uma cultura que não é popular. Estamos admitindo que existe uma estratificação dentro da arte. Mas, na verdade, isso é um fenômeno anterior a Revolução Industrial, porque antes era uma cultura só, onde as classes conviviam de forma celebrativa. De repente, essa estratificação social foi se impondo também no teatro, criando o teatro para as diversas camadas. Mas o teatro que eu milito e que eu gosto é esse mais coletivizado. Popular neste sentido: coletivo pra quem faz e pra quem vê. Onde a gente trabalhe os grandes temas sociais ou humanos de uma maneira celebrativa, em que todos de alguma maneira possam se interar, ou ter alguma referência.

ANP: O senhor acredita que esse papel de resistência política é mais forte na comédia?

EF: A comédia é tida como gênero inferior, e isso é uma constatação histórica, que vem desde Aristóteles. Quando a cultura foi estratificada, tentaram diminuir esse gênero, justamente por ser mais popular, parece que houve maldosamente uma maneira de desclassifica-la. Mas na verdade, a comedia não é mais ou menos superior à tragédia ou ao drama, mas esta lado a lado, ela fala do homem dos temas humanos. Ela também traz o cotidiano para o palco, não fala só miticamente, fala do dia a dia. E no dia-a-dia você está falando das pessoas comuns, da “comum-unidade”, ou seja, da comunidade.

Você ouviu Ednaldo Freire, diretor, ator e cenógrafo do grupo de teatro Fraternal Cia de Artes e Malas-artes.

De São Paulo, da Agência Notícias do Planalto, Clara Meireles

Agência Notícias do Planalto, Internet, 7-4-06

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