O recorde de emissões de CO2 em 2010 abona o aquecimento global

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A advertência é da AIE após informar que no ano passado o mundo registrou um novo recorde de emissões de dióxido de carbono (CO2), segundo estimativas do próprio organismo

A Terra estará mais quente nas próximas décadas e os esforços da comunidade internacional para minimizar esse processo de aquecimento já beiram o fracasso. A advertência é da Agência Internacional da Energia (AIE) após informar que no ano passado o mundo registrou um novo recorde de emissões de dióxido de carbono (CO2), segundo estimativas do próprio organismo.

A reportagem é de Ferran Balsells e está publicada no jornal espanhol El País, 31-05-2011. A tradução é do Cepat.

O aumento deste gás poluente que contribui para o efeito estufa compromete seriamente o objetivo de limitar o aumento da temperatura média a dois graus centígrados, teto a partir do qual se considera que o planeta pode desenvolver processos irreversíveis que implicariam uma perda grave de biodiversidade e problemas relacionados ao aumento do nível da água dos oceanos. “A menos que se tomem decisões importantes com urgência, será muito difícil”, lamentou em um comunicado Fatih Birol, economista-chefe da AIE. Mas é difícil confiar em decisões rápidas quando o Protocolo de Kyoto está próximo de expirar em 2012 sem que outro tenha sido aprovado.

Os modelos climáticos apontam que o aumento de dois graus centígrados se dará no final deste século mesmo que se consiga conter a emissão de CO2. Mas a tendência marcada em 2010 dispararia esse aumento em cerca de quatro graus no próximo século, segundo os modelos do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC). Um aumento desta magnitude teria consequências tão graves quanto imprevisíveis. “Afetaria a vida de milhões de pessoas, provocando migrações em massa”, precisou o Painel.

As emissões de CO2 chegaram a 30.600 toneladas métricas (Tm) no ano passado; 5% a mais que o recorde anterior, registrado em 2008 (29.300 Tm). Ambos os níveis se aproximam do limite das 32.000 Tm que as emissões não devem ultrapassar em 2020 para manter o aquecimento global em dois graus, segundo a AIE.

Os dados certificam que o modelo econômico é insustentável e os Governos devem comprometer-se a buscar soluções. Em 2009, as emissões se reduziram por conta da crise econômica. Alguns especialistas confiavam em que essa melhoria poderia ser consolidada, mas a emissão maior de gases por parte dos países em desenvolvimento, especialmente na Ásia meridional, frustrou essa hipótese.

“Os resultados obrigam a recolocar as coisas”, assinalou Javier Martín-Vide, professor de Geografia Física da Universidade de Barcelona e especialista em mudança climática. Índia e China, responsáveis por cerca de 30% do CO2 emitido, quase o mesmo patamar de Estados Unidos e União Europeia juntos, se perfilam como países chaves para mudar a tendência. “Mas têm controles muito pouco estritos”, assinalou Martín-Vide. A União Europeia, se consolidou como pioneira em conter as emissões. “Embora seu peso global seja pequeno e os Estados Unidos, segundo país que mais gases emite, estejam ficando para trás”, advertiu o professor. A comissária climática da UE, Connie Hedegaard, instou o resto dos países a seguir o exemplo de Bruxelas. “De mais quantas más notícias o mundo precisa?”, se perguntou.

Mas o aquecimento foi se produzindo ao longo de décadas nos países desenvolvidos do Ocidente, especialmente na Europa e nos Estados Unidos. Em 2010, os países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) emitiram 40% do CO2 e influenciaram em 25% o aumento constatado nesse ano. Cada cidadão da OCDE produz cerca de 10 toneladas de CO2; enquanto que na China e na Índia essa cifra cai até para 5,8 e 1,5 toneladas. “Requer-se o esforço de todos”, destacou Martín-Vide. “Mas a esta altura, poucos acreditam que se conseguirá mitigar a mudança climática a menos de dois graus centígrados”.

Instituto Humanitas Unisinos, Internet, 1-6-11

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