Plantações em meio ao concreto: a agricultura urbana ganha espaço nas cidades brasileiras

Idioma Portugués
País Brasil

Parece contraditório, diferente do que é ensinado na escola, diferenciando zona rural e urbana, mas a agricultura ganha cada vez mais espaço nas grandes cidades

A volta às origens, quando a produção visava a subsistência tem uma releitura moderna. Plantações e criação de animais em regiões densamente povoadas dividem a cena com grandes edifícios, muros, enfim, muito concreto.

A prática é antiga, mas somente nos últimos anos pesquisadores, governos, ONGs e representantes de movimentos sociais atentam para a questão. De acordo com dados publicados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), em 1996, estima-se que hoje cerca de 800 milhões de pessoas se dediquem à atividade.

Além de aumentar a área verde nas cidades, a agricultura pode ser considerada como uma estratégia para a redução da pobreza, melhoria da segurança alimentar, reciclagem de resíduos urbanos, e uma ferramenta de desenvolvimento econômico. Com foco não só no autoconsumo, mas também na comercialização, são utilizados recursos locais, como mão-de-obra, áreas disponíveis, água e resíduos sólidos urbanos.

Em setembro, a ONG Rede de Intercâmbio de Tecnologias Alternativas, Rede, promoveu a oficina Agricultura Urbana na Gestão das Cidades, com o objetivo de discutir os conceitos e as políticas públicas na promoção da agricultura urbana. Os resultados foram debatidos em um seminário aberto ao público com participação de diversos setores como prefeituras, grupos comunitários, ONGs, Ministério Público e empresários. Na ocasião, Belo Horizonte divulgou sua “candidatura” ao Projeto Cidades Cultivando para o Futuro - CCF.

Algumas cidades serão escolhidas em todo o mundo, para o Projeto CCF, uma iniciativa da Ruaf (Resource Centre on Urban Agriculture and Forestry), uma associação mundial de ONGs de origem holandesa. Entre as selecionadas, quatro serão da América Latina e Caribe. O projeto já iniciou em algumas cidades como Lima, capital do Peru.

No Brasil, Guraulhos (SP), Belo Horizonte (MG), e Porto Alegre (RS), estão sendo avaliadas, de acordo com Ivana Cristina Lovo, integrante do grupo de facilitadores regionais na América Latina e Caribe do IPES - (Promoción del Desarollo Sostenible), entidade associada a Ruaf. Ela explica que o projeto prevê o planejamento para fomentar a agricultura urbana no município, unindo sociedade civil e poder público. O projeto envolve a capacitação dos municípios selecionados e apoio às atividades.

Trabalhando em rede

Daniela Almeida, coordenadora geral da Rede, explica que a entidade atua na área há dez anos. Existem diversas iniciativas em todo o país, mas que, na sua avaliação, são marcadas por enfoques diferentes e com objetivos distintos. “São iniciativas isoladas, mas falta um espaço de convergência para políticas mais eficientes", diz.

A Articulação Metropolitana de Agricultura Urbana foi criada na tentativa de unificar os esforços e promover a troca de experiências, buscando o desenvolvimento equiparado, segundo ela. Freqüentemente os participantes se reunem para debates. Ela lembra um episódio interessante, em maio de 2004, quando algumas iniciativas exemplares na região de Belo Horizonte foram selecionadas e receberam a visita de uma caravana, por intermédio da qual os interessados puderam ter informações e trocar experiências, no local de produção.

Amanhã, 19, será realizada uma reunião na prefeitura de Belo Horizonte, para discutir a possibilidade de já começar o que seria uma das etapas do projeto, que prevê a realização de um dossiê, contendo um levantamento das iniciativas existentes. “Vamos nos antecipar ao projeto", explica Daniela, dizendo que, mesmo que a cidade não seja selecionada, irá se embasar na metodologia aplicada pelo CCF. Ela informa ainda que Belo Horizonte pretende desenvolver o projeto em parceria com as outas cidades mineiras que manisfestaram interesse na participação, entre as quais Governador Valadares, Sete Lagoas, Contagem e Paracatu. Outras cidades também já manifestaram interesse, de acordo com Daniela, como Montes Claros e Nova Lima.

Ambiente Brasil, Internet, 17-10-05

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