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Empresas da biotecnologia não controlam experimentos transgênicos, diz Greenpeace

Para a organização não-governamental (ONG) Greenpeace, os resultados da utilização de transgênicos são imprevisíveis, incontroláveis e desnecessários.

Cauteloso, o diretor de campanha da entidade, Marcelo Furtado, afirma em entrevista à Agência Notícias do Planalto, que ainda não se sabe a extensão do impacto que experiências genéticas podem causar ao ser humano e ao meio ambiente. Furtado acredita que a indústria da biotecnologia não tem condições de afirmar que os resultados de suas pesquisas são seguros. A ONG mantém uma campanha contra os organismos geneticamente modificados, os quais acusam de ser um dos pivôs da destruição da biodiversidade no campo. Furtado cita a questão do milho no México, que apesar de ser o berço deste tipo de semente, está passando por seguidas contaminações. Ouça agora a entrevista.

Agência Notícias do Planalto: Qual é posição do Greenpeace com relação aos transgênicos?

Marcelo Furtado: Como vocês bem sabem, o Greenpeace é absolutamente contra a introdução desta tecnologia.

Achamos que, pelo princípio da precaução, não temos estudos suficientes para justificar a introdução de organismos transgênicos no meio ambiente. A gente tem muitas informações sobre casos de contaminação genética e impactos na biodiversidade. Para ser mais específico, nós lançamos [durante o 3º Encontro das Partes do Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança, o MP3] um relatório com mais de 100 casos de contaminação genética e seus respectivos impactos na biodiversidade e 17 destes eram totalmente ilegais. Isso mostra que a indústria que promove hoje a expansão da biotecnologia no mundo não tem condições nem capacidade de afirmar que são seguros [os resultados de suas pesquisas] e de apresentar estudos que demonstrem controle de seus experimentos. Em alguns dos casos que nós estudamos as contaminações aconteceram sem que a própria empresa que gerou o problema tivesse a menor noção do que estava acontecendo.

Agência Notícias do Planalto: O que significa e quais são as conseqüências dos impactos ambientais causados pelos organismos geneticamente modificados?

MF: Vamos pegar o exemplo do milho no México, que é um dos berços desta semente, do chamado milho crioulo. Uma semente testada por "milhares" de anos e que hoje está contaminada por transgênicos. Ou seja, o centro de origem do milho está hoje contaminado por transgênicos porque houve liberação de milhos transgênicos na mesma região. No Sul do Brasil no ano passado, a gente viu uma grande seca. Quem tinha soja transgênica perdeu tudo e quem estava com soja tradicional teve condições muito melhores. Isso mostra não só que existem os impactos ambientais desta tecnologia, mas também que temos casos reais em que a resistência à problemas climáticos na produção e na resistência é muito mais baixa no caso dos organismos transgênicos. A opção transgênica, na nossa opinião, é muito precipitada e não temos ainda domínio das informações para tomar uma decisão que pode ter um impacto muito grande.

Agência Notícias do Planalto: Marcelo Furtado, o senhor acha que, de forma geral, a sociedade se coloca contra ou a favor dos transgênicos?

MF: Nós fizemos uma pesquisa no Brasil e os resultados mostram que mais de 80% da população brasileira, durante três anos seguidos, se colocaram contra a liberação dos transgênicos. Agora, se a gente não garantir condições mínimas de biossegurança, nós estaríamos deixando o mundo e o país à mercê da contaminação genética e dos interesses das grandes corporações, que são muito poucas. São apenas cinco empresas que dominam esse ramo no mundo todo. Elas são donas do maior número de patentes e todos nós somos potenciais vítimas.

Agência Notícias do Planalto: A sociedade deve se colocar diante da questão da liberação dos transgênicos de que maneira, na opinião do Greenpeace?

MF: A gente acha que é o velho dilema que nós temos que lidar inclusive na nossa casa. Onde temos ter certeza que o nosso trabalho e nossas atividades sejam feitas de maneira saudável e segura. Para a gente garantir que aquilo que fazemos hoje aqui não compromete o planeta para as gerações futuras.

Vocês acabaram de ouvir Marcelo Furtado, diretor de campanha contra os transgênicos, promovida pela organização não-governamental (ONG) Greenpeace.

Agência Notícias do Planalto, Internet, 17-7-06

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