Brasil: Movimentos fazem protestos em 9 estados por soberania alimentar

Idioma Portugués
País Brasil

A Via Campesina e a Assembléia Popular realizam protestos em nove estados para denunciar a responsabilidade do agronegócio e das empresas transnacionais da agricultura pela elevação dos preços dos alimentos e em defesa da soberania alimentar e da agricultura familiar, nesta quinta-feira. No Brasil, a cesta básica exige 52,8% do salário mínimo, de acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Com o encarecimento do preço, os alimentos vão consumir uma fatia ainda maior da renda ou a população pobre será obrigada a comer menos.

"Os produtos agrícolas passaram a ser commodities, que agora são vendidas nas bolsas de valores em ações. Grandes especuladores controlam 60% do trigo, por exemplo. A alta do preço dos produtos agrícolas tem origem na especulação financeira. Esses produtos são vendidos a seis ou sete vezes mais caros nas bolsas, sem em muitos casos existirem", afirma Egidio Brunetto, da coordenação da Via Campesina.

Os movimentos sociais propõem como alternativa ao aumento do preço dos alimentos a aplicação pelo Estado de políticas públicas para infra-estrutura e assistência técnica em assentamentos e pequenas propriedades, que produzem 70% da cesta básica. Dessa forma, o país vai garantir sua soberania alimentar, que é a capacidade de cada país, região e municípios produzir a quantidade necessária de alimentos para a população. Atualmente, o Brasil e as diversas regiões precisam importar produtos agrícolas.

No Paraná, cerca de 1.000 camponesas da Via Campesina, Assembléia Popular e Movimento Popular de Mulheres de Sarandi liberam pela manhã cancelas de pedágios. Os pedágios são um dos principais entraves para a pequena agricultura, que encarecem a distribuição dos produtos agrícolas, prejudicando os produtores no campo e os consumidores nas cidades.

No Rio Grande do Sul, trabalhadores urbanos e rurais fizeram protesto em frente ao Supermercado Nacional, da rede Wall-Mart, em Porto Alegre. Os movimentos sociais e sindicais denunciam que grandes transnacionais como a Wall-Mart, Bunge e Cargill são responsáveis pelo aumento dos preços dos alimentos, através da especulação financeira.

Em Pernambuco, camponeses e camponesas da Via Campesina realizam em três regiões atividades em defesa da Soberania Alimentar. No Recife, a Via Campesina e a Marcha Mundial das Mulheres fazem panfletagem e distribuição de alimentos no Bairro de Água Fria. À tarde, as organizações realizam ato em frente ao McDonald's, da Rua 7 de Setembro. Em Carpina, o Via Campesina realiza uma feira agroecológica e na região do Sertão do São Francisco, acontecem debates sobre soberania alimentar em universidades e escolas.

Em São Paulo, acontecem atos em três municípios, em defesa da Reforma Agrária e da agricultura familiar. Em Itapeva, cerca de 150 pessoas ocuparam a sede da Itesp (Instituto de Terras do Estado de São Paulo) para exigir que seja acelerado o processo de assentamento das famílias da região, além de estrutura para os acampamentos e uma audiência com o Governo do Estado.

Em Presidente Prudente, na região do Pontal do Paranapanema, 500 pessoas manifestam no pátio da Itesp em busca da regularização das famílias que estão vivendo à beira da estrada, além de mais acesso aos créditos para a Reforma Agrária. Na região do Vale do Paraíba, em São José dos Campos, 200 pessoas ocuparam pela manhã um supermercado para protestar contra a crise dos alimentos. No momento, acontece uma marcha em direção ao centro da cidade para realização de um ato.

Na região de Campinas, interior do estado, 200 manifestantes seguem em direção ao centro da cidade em protesto contra a crise alimentar e pela defesa dos diretos. Também será realizada uma distribuição de alimentos simbólica, em forma de protesto.

No Rio de Janeiro, mulheres do campo e da cidade fazem marcha na capital para denunciar a responsabilidade do agronegócio na elevação do preço dos alimentos. A concentração será às 10h na Praça da Cruz Vermelha. À tarde, mulheres da Via Campesina fazem manifestação em Belford Roxo, marchando em direção à Bayer, umas dos maiores empresas do agronegócio, com a produção de insumos agrícolas.

No Ceará, 350 manifestantes partiram pela manhã do Mercado São Sebastião, um local simbólico de comercialização de produtos da agricultura camponesa em Fortaleza, e seguiram em marcha ao supermercado Bom Preço, da rede Wall-Mart.

No Rio Grande do Norte, cerca de 200 famílias da Via Campesina estão acampados na sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), em Petrópolis, desde segunda-feira, por investimentos públicos nos assentamentos, desapropriação de terras, assessoria e asistencia técnica para o plantio.

No Mato Grosso, mulheres da Via Campesina fizeram ato em Campo Verde (131 quilômetros de Cuiabá) para marcar o Dia Internacional de Soberania Alimentar, com a distribuição de alimentos produzidos nas áreas da Reforma Agrária.

Ainda estão previstos atos hoje e amanhã. Na capital de São Paulo, uma

passeata sairá às 15h da Praça Oswaldo Cruz, próximo ao metrô Paraíso. Na Paraíba, a Assembléia Popular e Via Campesina realizam nesta tarde uma marcha pelo centro de João Pessoa contra o aumento do preço dos alimentos e da energia elétrica, que consomem parte substantiva da renda dos trabalhadores.

O 16 de outubro é Dia Mundial da Alimentação, definido pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e Dia Internacional em Defesa da Soberania Alimentar, da Via Campesina, quando organizações camponesas, movimentos de mulheres, ambientalistas e consumidores fazem manifestações em o todo mundo para denunciar problemas e apresentar propostas.

A Assembléia Popular é um espaço de articulação de movimentos sociais urbanos, comunidades locais, pastorais, igrejas, sociedade civil e redes de organização popular. A Via Campesina é uma coalizão de movimentos do campo, formada por MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens), MMC (Movimento das Mulheres Camponesas), MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores), CPT (Comissão Pastoral da Terra), Abra (Associação brasileira de reforma agrária), Feab (Federação dos Estudantes de Agronomia), PJR (Pastoral da Juventude Rural), indígenas e quilombolas.

Fuente: MST - Brasil

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