Brasil: agricultores colhem primeira safra livre de agrotóxicos na ‘Syngenta’

Idioma Portugués
País Brasil

As 60 famílias que ocuparam há um ano uma área de 127 hectares - ex-campo de experimentos de soja de milho transgênicos da multinacional suíça Syngenta Seed no Oeste do Paraná - já colheram a primeira safra de alimentos, produzida dentro do modelo de cultivo agroecológico

Também já plantaram 70 hectares com milho, feijão, arroz, mandioca, batata doce, quiabo, melancia, abóbora, morango, amendoim, pipoca, girassol, gergelim - sementes crioulas, livre de tratamento químico e de agrotóxicos.

A área, segundo as famílias, estava contaminada pela produção de organismos geneticamente modificados e ameaçava o Parque Nacional do Iguaçu porque está localizada a seis quilômetros do Parque Nacional do Iguaçu, em Santa Tereza do Oeste, declarado pela ONU como Patrimônio da Humanidade.

Desde 14 de março de 2006 quando ocuparam a área, os camponeses trabalham com práticas agroecológicas para descontaminar a terra e rebatizaram o local de acampamento “Terra Livre”. A atual produção é destinada ao consumo e o excedente é comercializando na região. Durante a Jornada de Agroecologia de 2006 também foram plantadas três mil árvores nativas no local.

Agricultora, Maria da Silva, comemora o impacto dessa prática na sua vida e da sua família. “Quase tudo mudou. Quando a gente morava na cidade comprava os produtos no mercado e pagava caro. Agora aqui a gente pode comer todos os dias”. Outra mudança real: “Deixamos de comer produtos cheios de veneno”.

José Fernando Piaia, técnico em agropecuária, explica que a organização do trabalho divide-se entre o plantio na área coletiva e outro individual para a subsistência das famílias. As sementes que renderam a primeira safra são fornecidas por outros acampamentos, enquanto as famílias locais não têm a capacidade de armazená-las.

No local, conforme Piaia, se faz necessário um trabalho no solo para desintoxicá-lo das experiências com transgênicos e agrotóxicos executadas pela multicinacional. “Já constatamos a chegada de animas como tucanos na região. Animais que certamente morreriam se tivessem que comer os vegetais plantados antes, com agrotóxicos”.

Contexto - O ex-campo de experimentos da Syngenta foi ocupado pela Via Campesina para denunciar a produção de soja e milho transgênicos, dentro da zona de amortecimento do Parque Nacional do Iguaçu, distante a 6 km do local, que guarda uma das maiores riquezas da biodiversidade do mundo, as Cataratas do Iguaçu.

O Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis) multou a empresa em R$ 1 milhão por essa prática, mas até agora a multa ainda não foi paga. Em novembro do ano passado, a área foi desapropriada pelo governador Roberto Requião para a implantação de um Centro de Pesquisa e Estudo em Agroecologia. Na época, mais de 170 entidades do Brasil e do exterior apoiaram a desapropriação.

No entanto, no dia 1º de fevereiro o Tribunal de Justiça do Paraná concedeu liminar à multinacional, suspendendo a desapropriação. O Governo do Estado entrou com recurso para recorrer da decisão judicial, mas até o momento o processo ainda não foi julgado.

Em outubro do ano passado os camponeses saíram da área, devido uma reintegração de posse concedida pela justiça paranaense à Syngenta, e montaram acampamento em frente ao ex-campo de experimentos, nas margens da PR-163. No início de fevereiro as famílias voltaram para a área,onde estão trabalhando culturas livres de trangênicos e plantando árvores.

Fuente: Agência Estadual de Notícias

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