Brasil: noticias da ocupação das mulheres da Via Campesina no Rio Grande do Sul

Idioma Portugués
País Brasil

Um contingente da Brigada Militar invadiu de forma violenta o acampamento das mulheres da Via Campesina na Fazenda Tarumã, em Rosário do Sul, por volta das 17h, nesta terça-feira. As primeiras informações da área registram que há centenas de agricultoras feridas. As cerca de 250 crianças que estavam no acampamento foram separadas das mães e colocadas deitadas com as mãos na cabeça. Ferramentas de trabalho foram apreendidas e barracos destruídos.

Jornalismo canalha,
por Marcelo salles

04.03.2008

Um contingente da Brigada Militar invadiu de forma violenta o acampamento das mulheres da Via Campesina na Fazenda Tarumã, em Rosário do Sul, por volta das 17h, nesta terça-feira. As primeiras informações da área registram que há centenas de agricultoras feridas.

As cerca de 250 crianças que estavam no acampamento foram separadas das mães e colocadas deitadas com as mãos na cabeça. Ferramentas de trabalho foram apreendidas e barracos destruídos.

Durante o dia, a Brigada Militar já havia agredido um grupo menor de camponesas na entrada da fazenda e coagido os jornalistas que estavam na área cobrindo o episódio. Um cinegrafista foi detido por mais de uma hora e a sua fita com o registro da agressão apreendido.

Não é a primeira ação violenta do Governo Yeda Crusius. A Via Campesina condena a ação e denuncia que a governadora tucana coloca o aparato policial do Estado a serviço de uma de suas maiores financiadoras de campanha, a multinacional Stora Enso.

Via Campesina denuncia com a ocupação que a área foi adquirida ilegalmente pela empresa estrangeira e burlando a Constituição Federal, por se localizar em faixa de fronteira, o que é proibido por lei.

As corporações de mídia entraram na cobertura, mas pela linha da criminalização das camponesas. É sempre bom ressaltar que nossa crítica vai em direção ao sistema de comunicação tal como ele se apresenta hoje: concentrado em poucas mãos e a serviço da exploração do povo brasileiro. Os repórteres, de modo geral, são bem intencionados e têm apenas sua força de trabalho para vender. Entretanto, algumas vezes eles fazem de tudo para satisfazer seus patrões e esquecem qualquer compromisso com a ética profissional. No Jornal do STB de hoje, o apresentador disse o seguinte: "Se essas mulheres acham que estão fazendo algo defensável, por que usam lenços sobre o rosto? Deviam fazer isso de cara aberta". O apresentador em questão não é mulher, não é camponês e não sabe o que é viver sem ter onde morar e trabalhar. Não conhece o significado da palavra "sem-terra". Além de nunca ter passado por essas necessidades (ou sentido os preconceitos por viver numa sociedade machista, no caso das mulheres), o apresentador, de uma sala com ar-condicionado, aceita alegremente fazer o jogo do patrão, cujos interesses são muito parecidos com os interesses dos donos da Stora Enso e dos governantes do Rio Grande do Sul. Ele pede para ver a cara daquelas mulheres, que ousaram lutar para fazer valer seus direitos básicos - previstos na Constituição - e, para isso, colocando em risco a vida dos próprios filhos. Mas o apresentador não tem idéia do que isso significa. Nem nunca terá. Será sempre um medíocre, vassalo das corporações multinacionais, escravo de seu tão alto quanto indigno salário e um covarde, que jamais diria o que disse na frente de uma daquelas camponesas. Não precisava ser mais de uma pra dar conta de um cretino adestrado como esse; um pulha, um rato, que além de tudo ofende todos os jornalistas que procuram fazer seu trabalho com correção e em observância ao juramento profissional: "A Comunicação é uma missão social. Por isto, juro respeitar o público, combatendo todas as formas de preconceito e discriminação, valorizando os seres humanos em sua singularidade e na luta por sua dignidade". E é justamente em face deste juramento que eu assino este texto. Em defesa das camponesas contra o ataque covarde desta e das demais corporações de mídia.

Enviar mensagem para mulheres camponesas rb.gro.tsm@srtsm

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NOTICIAS DO ESTAO DE SAO PAULO 5 de março de 2008

Polícia tira mulheres da área de multinacional no RS
Integrantes da Via Campesina havia invadido fazenda da Stora Enso em Rosário do Sul

Sandra Hanh e Elder Ogliari, PORTO ALEGRE

A Brigada Militar (a Polícia Militar gaúcha) fez ontem a retirada forçada de mulheres ligadas à Via Campesina que haviam invadido a Fazenda Tarumã, da multinacional sueco-finlandesa de papel e celulose Stora Enso, em Rosário do Sul (RS).

De acordo com o grupo de manifestantes, a Brigada usou balas de borracha e bombas na operação, realizada por volta das 17h. O comandante da corporação em Santana do Livramento, Lauro Binsfield, disse que levou um golpe de foice no braço. A operação também teria causado ferimentos em manifestantes.

O delegado Hotelo Caiaffo, da delegacia regional de Santana do Livramento, afirmou que as mulheres foram autuadas em flagrante e presas por invasão de terra com violência, corrupção de menores (havia crianças no grupo) e lesões corporais. Cerca de 500 mulheres participaram da invasão, que começou na madrugada.

PROTESTO

Segundo nota distribuída à imprensa pela Via Campesina, à tarde, a ocupação foi um protesto contra o plantio de florestas da multinacional na região e os projetos que tramitam no Congresso propondo a redução da faixa de fronteira do Brasil de 150 para 50 quilômetros.

O grupo chegou durante a madrugada, entrou na propriedade de 2,075 mil hectares, arrancou os eucaliptos que estavam plantados em cerca de quatro hectares e montou acampamento.

A Brigada Militar colocou um destacamento diante da área e apreendeu 13 ônibus que haviam feito o transporte das ativistas. Antes da desocupação a situação já havia ficado tensa algumas vezes durante o dia. Numa delas, dez policiais militares tentaram dispersar um grupo maior de mulheres. Houve agressões de parte a parte, mas ninguém ficou ferido.

Como há um interdito proibitório emitido previamente pela Justiça, a Brigada Militar não precisou de nova ordem de reintegração de posse para desocupar a área.

A Via Campesina combate o plantio de eucaliptos que a Stora Enso e outras duas empresas de papel e celulose, a Aracruz e a Votorantim, estão fazendo na metade sul do Rio Grande do Sul para abastecer futuras fábricas de celulose. "Estamos iniciando uma jornada de lutas por soberania alimentar e contra o agronegócio e suas monoculturas", explicou o porta-voz da Via Campesina, Miguel Stedile. A Stora Enso não se manifestou.

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Para Incra, compra de terra na fronteira é proibida pelas leis do País

Roldão Arruda

A disputa travada no Rio Grande do Sul entre o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e a Stora Enso, empresa líder no mercado mundial de papel e celulose, caminha para o impasse. Em entrevista ao Estado, o presidente do instituto, Rolf Hackbart, disse ontem que a instalação de uma nova indústria de papel em território gaúcho, próxima à fronteira com o Uruguai, afronta a legislação brasileira.

Hackbart negou as acusações de perseguição política, feitas por executivos da Stora Enso. O entrave, disse ele, está relacionado à compra de 110 mil hectares de terras para reflorestamento com eucalipto - matéria-prima da futura indústria, que teria um investimento inicial de US$ 250 milhões.

"O ponto mais importante da discussão é a soberania, o controle sobre o território", disse Hackbart, referindo-se à Lei de Faixa de Fronteiras, que impede a compra de terras por estrangeiros nessa área. "O Incra segue o que determina a lei."

Em Porto Alegre, o superintendente regional do Incra, Mozar Dietrich, também negou qualquer tipo de perseguição à empresa, que desde 2005 tenta sem sucesso levar adiante o projeto da indústria. "Embora os procuradores do Incra tenham alertado sobre a ilegalidade da compra de terras por estrangeiros em faixa de fronteira, a empresa começou a comprar fazendas e a plantar eucaliptos", afirmou o superintendente.

"Acusam-nos de atraso na análise dos processos de compra de terras, mas na prática ocorre o contrário", disse. "Dos 46 mil hectares que já adquiriu, a empresa só entregou os documentos de 17 mil."

Dietrich é categórico: com a legislação em vigor é impossível a aprovação da compra de terra. Em reportagem publicada ontem, o Estado mostrou que o projeto causa polêmica entre os gaúchos.

Diante da resistência do Incra, as esperanças da Stora Enso voltam-se para uma proposta que tramita no Congresso. Ela já passou pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado e, se for aprovada, a atual faixa de fronteira, delimitada em 150 quilômetros, será reduzida para 50 quilômetros. Com essa mudança, proposta pelo senador Sérgio Zambiasi (PTB-RS), a Stora Enso poderia realizar o projeto.

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Instalação da indústria opõe Dilma a ministro do Desenvolvimento Agrário

Roldão Arruda

A polêmica sobre a instalação da nova indústria da Stora Enso no Rio Grande do Sul divide o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu partido, o PT. Existe uma ala que apóia o desembarque da multinacional no território gaúcho - região marcada pela pecuária extensiva e o plantio de arroz, considerada decadente; e outra que se opõe à iniciativa.
No primeiro grupo, a favor, estariam alinhados desde a ministra Dilma Rousseff, chefe da Casa Civil, a deputados da bancada estadual do PT em Porto Alegre e prefeitos petistas das cidades na área do projeto. Suas atenções no momento estão voltadas para o Congresso, onde tramita projeto que propõe a redução da faixa de fronteira vedada a estrangeiros. Seria a melhor maneira de contornar os entraves do projeto.

A proposta foi apresentada por um senador da base aliada do governo, Sérgio Zambiasi (PTB-RS), e conta com o apoio da governadora do Rio Grande do Sul, a tucana Yeda Crusius.

Do outro lado, contra a fábrica, estariam os ministérios do Meio Ambiente e do Desenvolvimento Agrário, representados na linha de frente pelo Ibama e o Incra. O grupo também conta com o apoio de deputados , prefeitos e, principalmente, do Movimento dos Sem-Terra (MST) e de organizações ambientalistas.

BALANÇA E AMBIENTE

Os defensores do projeto vêem nele benefícios para a balança comercial (quase toda a produção da Stora Enso é exportada) e chances de desenvolvimento da região. Os opositores vêem riscos ambientais e de concentração de terras.

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Enviado por MST: www.mst.org.br

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