Brasil: soja em Santarém. População sofre conseqüências do agronegócio

Idioma Portugués
País Brasil

Dirigente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santarém afirma que grandes produtores de soja tem afetado a agricultura familiar e expulsado os pequenos agricultores de suas terras. A maioria das famílias está se instalando em assentamentos distantes e sem nenhuma infra-estrutura

SÃO PAULO - Há anos, o movimento socioambientalista entende que a cultura da soja na Amazônia tem sido prejudicial, principalmente pelo seu caráter de agronegócio. A população local sente as conseqüências disso e é quem paga os prejuízos: “O ciclo da soja, comparado com os outros, é o pior. Ele expulsa o trabalhador de grandes áreas. Comunidades foram extintas, não existem mais. Tem afetado a produção de cultura familiar. As feiras locais sentem o impacto com a diminuição de frutas e verduras”, afirma Edivaldo Matos, primeiro secretário do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santarém.

De acordo com Matos, os pequenos produtores não plantam soja. A maioria está se deslocando para lugares cada vez mais distantes e se instalando em assentamentos sem condição nenhuma de infra-estrutura: “É uma tristeza ver o trabalhador saindo”, diz. Os locais para onde essas pessoas estão indo, segundo o sindicalista, são de difícil acesso. Durante o inverno, as chuvas tornam as vias intrafegáveis e as comunidades ficam isoladas: “Na época do verão, é só poeira e buraco”, diz Matos.

O sindicalista conta que, logo que os empresários ligados ao agronegócio da soja chegaram, os pequenos agricultores que nunca tinham visto grande quantidade de dinheiro vivo foram entregando a terra. Os que resistiram, foram pressionados: “Eles têm táticas para cercar a propriedade. Jogam veneno nas casas e nas plantações, impedem o acesso e a passagem. As pessoas cansam de ser perseguidas e abandonam a terra. Jogam sujo, bem sujo, trabalham na ilegalidade. São terras griladas”, relata Matos, destacando ainda que parte dos trabalhadores rurais e suas famílias estão se instalando na região urbana de Santarém, provocando inchaço populacional.

Sobre o discurso dos sojeiros que dizem que o grão tem trazido benefícios para a região, Matos diz: “É o discurso deles. O PIB de Santarém cresceu, mas a renda está concentrada em alguns, não no município, foi para fora. Você vê a cidade, a população na rua, a situação das escolas, da saúde”. Em Santarém o nível de desemprego é alto: “O movimento do comércio é fraco. O trabalhador das lojas é demitido. Se está sendo demitido, é porque ninguém compra”. A Cargill costuma afirmar que emprega muitas pessoas da região, mas Matos contesta e diz que a empresa traz funcionários de fora da região. Quanto à área rural, ela não exige muitas pessoas trabalhando, pois a produção é altamente mecanizada.

O sindicalista alerta que, além do ônus social, a parte ambiental foi afetada. “Há três anos, quando sobrevoava Santarém, eu via o verde. Hoje, só se vê os campos de soja. Tem igarapés extintos, assoreados e não são poucos, porque fazem roçadas até a margem, não respeitam a distancia mínima. Tem o desequilíbrio ecológico. Outro dia o trabalhador foi atacado por uma onça. Aumentaram as picadas de cobra e as doenças tropicais como a malária. E mesmo assim, os setores defendem com unhas e dentes [o discurso]”.(24/05/2006)

Natália Suzuki - Carta Maior

Fonte: Agência Carta Maior

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