EE.UU.: introdução das sementes transgênicas, por Campanha Por um Brasil Livre de Transgênicos

"Já apliquei herbicida em meus campos de soja transgênica duas vezes esta safra e ainda posso ver plantas de milho crescendo neles... É impressionante como a vida dá voltas. Voltei a capinar manualmente o milho de minhas áreas de soja... Tenho o milho transgênico resistente a herbicidas, mas nunca o comprei"

O depoimento deste agricultor do estado americano de Illinois, que cultiva soja transgênica e milho convencional em rotação, ilustra o tipo de problema decorrente da introdução das sementes transgênicas que os produtores americanos estão tendo que enfrentar. Neste caso específico, a semente de milho não-transgênica usada estava contaminada com milho Roundup Ready (RR), que apresenta a mesma modificação genética usada na soja, também RR. Ou seja, as sementes de milho que ficam no campo após a colheita germinam no meio da soja, mas não são eliminadas pelo herbicida.

Nos Estado Unidos, até antes da entrada das sementes transgênicas, o setor público de extensão rural tinha um papel bastante ativo na avaliação de novas variedades lançadas pelas empresas do setor. Seus técnicos só as recomendavam após terem conduzidos, eles próprios, de três a cinco anos de testes de campo com as novas sementes. As informações que eles levavam aos agricultores eram balanceadas, apontando vantagens e desvantagens das novas variedades.

Com a entrada dos cultivos transgênicos esse processo foi deixado para trás. Agora as empresas vão direto aos produtores, levando contratos para o plantio de suas sementes transgênicas, e os técnicos da extensão rural são colocados de escanteio. É uma situação onde o mercado e os interesses comerciais estão à frente da ciência.

Agrava essa situação a dificuldade de se ter acesso a dados confiáveis sobre os efeitos reais dos transgênicos na renda do produtor e na performance das lavouras. A grande maioria dos dados sobre o desempenho dos transgênicos é levantada pelas próprias indústrias de biotecnologia. É muito raro ver esses dados divulgados de forma detalhada, e o mesmo acontece quando são feitas comparações com variedades não-transgênicas. Quando acontece de os dados serem divulgados, eles aparecem na forma de resumos onde as fontes primárias, não divulgadas, foram analisadas e interpretadas pelas próprias empresas. Esses dados primários são raramente tornados públicos.

Ao mesmo tempo, poucos foram os esforços do setor público para financiar e conduzir estudos comparativos entre variedades transgênicas e não-transgênicas. Apesar disso, os estudos disponíveis mostram resultados muito diferentes daqueles anunciados pelas indústrias. Por exemplo, em 1997, a Universidade de Purdue, em Indiana, Estados Unidos, comparou a produtividade da soja transgênica com suas correspondentes convencionais. Seus resultados mostraram que as variedades convencionais produziram, em média, de 12 a 20% mais que as transgênicas resistentes a herbicidas.

Investir rios de dinheiro numa tecnologia cujos resultados não são seguros é bastante arriscado inclusive para as empresas, que têm que tranqüilizar seus acionistas. Por isso que a aposta pesada nos transgênicos também tem a ver com o controle de mercado de grande parte da cadeia de produção de alimentos.

O fato de as sementes transgênicas serem patenteadas permite que sejam impostas aos produtores obrigações contratuais bastante restritas que não são possíveis de serem aplicadas sobre as sementes convencionais. Com o uso de sementes patenteadas, os agricultores ficam proibidos de separar as sementes de suas melhores plantas para a safra seguinte. Os contratos para compra de sementes transgênicas geralmente também estipulam que o produtor deverá usar os insumos químicos da mesma companhia.

Assim também explica-se o ritmo acelerado com o qual as indústrias da biotecnologia têm comprado empresas sementeiras pequenas. Até 20 anos atrás, havia cerca de 7.000 empresas sementeiras no mundo, sendo que nenhuma delas era grande o suficiente para se destacar das demais no mercado de sementes. Atualmente, as cinco maiores empresas controlam mais de 73% do mercado global de sementes. Desta forma, este reduzido grupo de empresas pode tirar do mercado as variedades convencionais, já que não interessa a elas que os produtores continuem tendo acesso a sementes mais competitivas.

Para aqueles que se perguntam por que as sementes transgênicas continuam sendo plantadas se os resultados não são positivos, estas informações ajudam a explicar um pouco uma das muitas faces deste problema.

Veja outras informações sobre este tema nos artigos ?The emperor?s transgenic clothes?, disponível aqui e ?US Hits Volunteer RR Corn Problem?, aqui

Campanha Por um Brasil Livre de Transgênicos
E-mail: rb.gro.atpsa@socinegsnartedervil
Número 236 - 26 de novembro de 2004

Comentarios