FSM: camponeses em luta, propõem e protestam

Idioma Portugués
País Venezuela

Via Campesina chega a Caracas preparada para denunciar neoliberalismo e formular contra ofensivas

A Via Campesina chega à capital venezuelana com a clara idéia de que o 6º Fórum Social Mundial (FSM) é um espaço de luta. Segundo os integrantes de diversos movimentos componeses da América Latina, isso significa protestar e também propor.

O nicaragüense Fausto Torres, secretário geral da Associação de Trabalhadores do Campo (ATC), explica que eventos como o Fórum permitem conhecer diversas estratégias, sensibilizar outras entidades sobre o tema da terra, do território e da soberania alimentar. "Por essa razão é que este é um espaço que nos ajuda. Para poder dividir agendas comuns com outros setores", completa Torres.

Juan Herrero, do Movimento Nacional Campesino e Indígena da Argentina, enfatiza que os movimentos camponeses da América Latina atravessam um período de uma intensa luta, provocada pelos diversos problemas causados pelo neoliberalismo.

O ativista acredita que isto faz do FSM um importante palco para denunciar malefícios como a invasão transgênica em seu país. "A Argentina tem o governo que aceitou mais facilmente as sementes e os produtos transgênicos. Hoje, 100% da nossa soja é geneticamente modificada".

Modelo errado
A seu ver, isto acontece devido a um modelo tecnológico que beneficia grandes empresas, sem se preocupar com o meio ambiente ou a vida no campo. "Entre 1990 e 2001, desapareceram 100 mil agricultores familiares, fruto desse modelo econômico baseado na agricultura de exportação", denuncia.

Herrero conta que a Via Campesina lançou uma campanha internacional em defesa da genética crioula. Seu objetivo é resguardar o patrimônio genético dos povos, opondo-se ao programa de transnacionais como a estadunidense Monsanto, que fazem fortuna patenteando sementes.

Por isso, uma das ações planejadas é fazer manifestações em frente aos prédios daquelas empresas, e denunciar, em suas paredes - com cartazes, cola e tintas - que elas atentam contra a vida dos camponeses e a saúde da população.

Segundo Juan Tiney, da secretaria operativa da Coordenação Latinoamericana de Organizações do Campo (Cloc) e da direção nacional da Coordenação Nacional Indígena e Campesina (Conic) da Guatemala, a partir de Caracas será organizada a mobilização do 17 de abril, Dia Internacional da Luta Camponesa.

Manifestações
Além das ocupações de terra, também haverá inúmeras manifestações em defesa da soberania alimentar. "Esta luta se confunde com a da reforma agrária. Primeiro, temos que ser capazes de produzir os alimentos do povo, não permitir que em nossas fronteiras continuem entrando produtos transgênicos", explica Tiney.

O guatemalteco acredita que a reforma agrária implica a ocupação da terra, mas também a participação de todo o povo até a etapa de comercialização dos alimentos. "Por isso, é importante conscientizar a população em geral, principalmente das cidades, onde as pessoas consomem produtos transgênicos, enquanto nós temos produzido alimentos saudáveis", afirma Tiney.

O FSM 2006 também é uma oportunidade para trocar energias e seguir lutando. Para Fausto Torres, a Venezuela tem um governo muito ativo, bastante de acordo com o que o movimento pensa.

"Por um lado, isso facilita as coisas, mas temos que estar atentos. É um momento especial para a Venezuela e também para a América Latina, e com o triunfo de Evo Morales (novo presidente da Bolívia) é um novo despertar da esquerda no continente", diz o representante da ATC, da Nicarágua. Por isso, reforça, o Fórum é um cenário único para divulgar ainda mais que um outro mundo é, sim, possível.

Entusiasmo
Já o guatemalteco Tiney acredita que o FSM alimenta os movimentos. "Estamos vivenciando o calor revolucionário das venezuelanas e dos venezuelanos. Já se vê o entusiasmo das pessoas nas ruas. Já se iluminam os rostos. Já se nota um crescimento da aceitação do povo para com as tarefas revolucionárias", anima-se um Tiney, satisfeito com o que considera ser a entrega do poder para o povo.

"Todos nós temos um compromisso de escutar esse ator, o povo antes discriminado, e agora protagonista dessa revolução socialista", observa Tiney.

A presença dos movimentos sociais e dos militantes no FSM, em Caracas, também é vista por Juan Herrero, da Argentina, como uma oportunidade de fortalecer a Venezuela no front interno.

"O país passa por um período de consolidação de um governo que fez transformações estruturais, e enfrenta uma oposição interna muito forte, financiada e amparada pelos Estados Unidos. Que o FSM dê forças à Venezuela para continuar adiante!", são os votos de Herrero.

Luís Brasilino
de Caracas, enviado especial Venezuela

Fuente: Brasil de Fato

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