Parceria formaliza gestão de resíduos e produção de composto entre cooperativa de recicladores e MST

Idioma Portugués
País Brasil

Associação de agricultores familiares e cooperativa de recicladores de Orlândia (SP) firmam acordo para produção de composto orgânico a partir de resíduos urbanos

No último sábado (24), em Orlândia, São Paulo, ocorreu a formalização da uma parceria entre a Cooperativa de Trabalho dos Recicladores de Orlândia (Cooperlol) e a Associação Regional Estadual do Desenvolvimento da Agricultura Familiar e Urbana Sustentável (AREDAFUS), ligada ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O termo de cooperação, assinado na sede da Cooperlol, estabelece as bases para a implantação de um projeto de compostagem de resíduos orgânicos urbanos, que serão destinados à produção agrícola no Assentamento Aparecida Segura.

A proposta prevê a instalação de um módulo piloto de compostagem, que utilizará resíduos orgânicos coletados pela cooperativa e serão transformados em composto para uso nas lavouras do assentamento. A iniciativa busca gerar benefícios ambientais, fortalecer práticas agroecológicas e promover geração de trabalho e renda. O contrato foi firmado pela presidenta da Cooperlol, Juliana Damiane de Paulo, e a presidenta da AREDAFUS, Aparecida Donizeti Tomaz Almeida, conhecida como Dona Zete.

Durante a cerimônia, Anderson Nassif, sócio-fundador da Cooperlol, destacou que o projeto é construído de forma coletiva e tem potencial para gerar impactos concretos. Segundo ele, o projeto se insere em uma estratégia mais ampla da cooperativa, a qual inclui, inclusive, a busca por soluções para gargalos estruturais, como o acesso à água no assentamento.

“Passado o piloto, há possibilidade real de buscarmos, junto aos nossos parceiros, recurso financeiro para a instalação de um poço artesiano. Isso já está no nosso radar”, afirmou.

Anderson também destacou que a parceria reflete um compromisso mútuo e transparente e destacou a importância da união entre o campo e a cidade.

Queremos provar, que essa união entre campo e cidade já deu certo.”

– Anderson Nassif, da Cooperlol.

Pela direção estadual do MST, Joaquim Lauro Sando frisou que a assinatura do termo carrega responsabilidades importantes para ambos os lados.

A responsabilidade de fazer esse projeto dar certo é de todos nós que estamos aqui. O MST não está entrando como coadjuvante. Não somos um agregado a outro movimento social. Estamos juntos nesse processo”.

– Joaquim Sando, MST.

Joaquim também destacou a importância da proposta ao propor uma nova lógica na relação entre campo e cidade. “A cidade, dentro do projeto que o Carlos está trazendo pra gente, passa a devolver aquilo que pra ela é rejeito, mas que pra nós é um insumo de valor inestimável. Porque pode gerar uma produção de maior qualidade, sem dependência de um modelo que nos obriga a comprar insumos das mãos de multinacionais, a preço de dólar, que fazem com que o alimento seja cada vez mais contaminado e o solo cada vez mais comprometido”.

O biólogo Carlos Bevilacqua, responsável técnico pelo desenvolvimento do projeto, apresentou os dados que embasam a proposta. “Orlândia gera cerca de 18 a 20 toneladas por dia de resíduos orgânicos. Esse material hoje é problema para a cidade, mas, na verdade, ele tem um potencial enorme para ser transformado em adubo”.

Carlos destacou que a compostagem proposta é uma solução prática, viável e replicável.

A proposta é simples: devolver para a terra o que é da terra. Composto orgânico representa soberania para o agricultor. Deixamos de depender de adubação química e de insumos que vêm de fora, ao mesmo tempo em que resolvemos parte do problema ambiental das cidades”.

Segundo Bevilacqua, o modelo desenvolvido prioriza baixo custo, facilidade de operação e autonomia das comunidades, utilizando materiais acessíveis como Big Bags e caixas IBC.

Nivalda Alves, da direção estadual do MST em SP, reforçou que a construção do projeto não se limita aos aspectos técnicos, mas se conecta diretamente à luta por autonomia e fortalecimento das comunidades do campo.

Não estamos falando só de adubo. Isso é sobre dignidade, sobre construir autonomia, sobre fazer com que nossas famílias não dependam mais do modelo que está aí, mas que possam caminhar de forma independente, produzindo alimento saudável e cuidando da terra”.

Pedro Xapuri, também dirigente do MST, compartilhou sua leitura sobre a importância da organização coletiva na construção de alternativas sustentáveis. “Quando a gente se organiza, conquista. Se cada um estivesse isolado, esperando as coisas caírem do céu, não estaríamos aqui hoje. Esse projeto é mais um passo para provar que nossa riqueza não é ter patrimônio, mas é ter bem-estar. É ter um pedaço de terra pra trabalhar, uma casa boa pra morar, comida na mesa e filho na escola. Isso é o que nos dá orgulho”.

Ao final do encontro, dona Zete, presidenta da AREDAFUS e assentada da Reforma Agrária, fez um relato emocionado que sintetiza o significado de iniciativas como está para as famílias do campo: “Com 63 anos, é a primeira vez que as pessoas confiam em mim. Lá fora, nunca acreditaram por causa da minha cor. Sofri muito, perdi meus filhos, enfrentei depressão, mas foi no movimento que encontrei uma família. O MST acreditou em mim quando ninguém mais acreditava. Se hoje eu tô aqui assinando esse papel, se hoje eu sou presidente da associação, é porque alguém me deu valor. Então eu digo pra todo mundo aqui: nunca larguem essa luta. Porque quando a gente tem união, coragem e segura na mão do outro, a gente vence. É por isso que hoje eu tô muito feliz de estar aqui”, resume.

O que é a Cooperlol?

A Cooperativa de Trabalho dos Recicladores de Orlândia (Cooperlol) é uma cooperativa formada por catadores e catadoras desde 2005, fundada após o fechamento do lixão de Orlândia. Ela atua na coleta seletiva nas cidades de Orlândia e Sales Oliveira, com cerca de 120 toneladas de materiais recicláveis processados por mês.

Além de promover a geração de renda para seus cooperados, desenvolve ações que contribuem para a preservação ambiental e para a construção de modelos sustentáveis de gestão de resíduos.

O termo de cooperação assinado estabelece um período inicial de seis meses para a execução do projeto piloto, que será acompanhado pelas duas organizações. Ao final desse período, as partes avaliarão os resultados e discutirão a viabilidade de sua ampliação.

- Editado por Solange Engelmann.

Fonte: MST - Brasil

Temas: Movimientos campesinos

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