Seminário Diversidades: organizações rurais descrevem os principais desafios na defesa do “corpo-território” na América Latina

Idioma Portugués
País Brasil

O frio de nove graus na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), em Guararema, São Paulo, não desanimou os movimentos e organizações que realizam o 4º Seminário LGBTI+ da Via Campesina Brasil desde a última quinta-feira (17 de julho de 2025).

- Foto Maria de Quadros

Com o objetivo de construir um espaço de estudo, reflexão e projeção de um conjunto de ações que nortearão a Via Campesina na construção das lutas no atual contexto político e econômico da América Latina, as bandeiras coloridas, o tambor, o pandeiro, o maracá e os passos de dança popular dos povos em luta e resistência no Brasil dão o tom da abertura das atividades formativas que se estendem até o próximo domingo (20 de julho de 2025).

O evento inclui debates sobre temas como “Corpo-Território na Diversidade Sexual e de Gênero”, “Desafios e Perspectivas na Construção de Políticas Públicas” e “Ancestralidade e Bem Viver”. Haverá também espaços para o autocuidado e para o estímulo à autoorganização da população LGBTQIA+, buscando ampliar a visibilidade das experiências e desafios enfrentados por pessoas LGBTI+ no campo, nas águas e nas florestas.

Dê Silva, integrante do Coletivo LGBTI+ da Via Campesina, explica que o principal objetivo do seminário é construir um exercício de estudo, reflexão e planejamento de ações organizativas dentro da Via Campesina, que possam continuar fortalecendo processos de luta. “Os passos que daremos para estruturar esse debate dentro da Via serão da mesma magnitude da nossa capacidade de organização”, afirma.

O 1º Seminário Nacional LGBTI+ da Via Campesina Brasil foi realizado em julho de 2021, virtualmente, com o objetivo de aprofundar os desafios da luta por território, terra e soberania alimentar, por meio de uma leitura comum da situação e seus impactos na vida das pessoas LGBTI+. Quatro anos após sua realização, os desafios de organizar este debate na Via Campesina e a urgência da defesa dos corpos-territórios continuam em pauta.

Crises, violência e perspectivas de luta

O primeiro painel do Seminário abordou o tema “Análise da conjuntura atual e dos desafios da luta LGBTI+ na política nacional e internacional” e foi mediado por Cássia Bechara, da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e da Coordenação Política e Pedagógica da ENFF, Cony Oviedo, da Coordenação Latino-Americana do Campo (CLOC) – Via Campesina, e Alessandro Mariano, chefe de gabinete da Secretaria Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+, do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania.

Bechara explica que este momento de reflexão sobre a conjuntura é importante porque o momento social e político atual está sendo determinado por elementos estruturais em nível internacional que “nos atravessam e se combinam”. “Os elementos não são necessariamente novos, mas é importante levá-los em consideração para nivelá-los”, explica.

Dizem que a América Latina atravessa um conjunto de crises que atuam em conjunto. A crise estrutural do capitalismo, elemento de análise já sinalizado pelos movimentos e organizações da Via Campesina há algum tempo, estruturou o debate, levando em conta a perspectiva de seu modelo de produção, conectado à intensificação da crise socioeconômica, da crise ambiental e da crise geopolítica.

Além disso, foram destacados alguns fatores que impactam diretamente o mundo do trabalho na atualidade, com destaque para a precariedade, a superexploração, a lógica do empreendedorismo fragmentando as perspectivas de um processo de reconhecimento de classe e a informalidade.

Esses elementos são a base para a compreensão da violência e seu impacto no “corpo-território”, levando em conta o aumento da fome, o crescimento do pensamento fundamentalista e a ausência de um projeto popular para o país.

Cony, nesse sentido, chama a atenção para essas crises e como elas impulsionam golpes de estado em toda a América Latina.

“Esses golpes foram fundamentais para a ascensão da extrema direita em nosso continente”, explicam.

A chefe de gabinete afirmou que “o que estamos construindo aqui é histórico e por isso continuaremos promovendo processos de auto-organização por meio das políticas públicas já em curso para a população LGBTQIA+ do campo, das águas e das florestas, para que a vivência da cidadania plena seja uma conquista de todas as pessoas”.

Uma das principais ações estratégicas da Via Campesina é a defesa da soberania alimentar, como o direito dos povos de decidirem sobre sua própria política agrícola e alimentar. Isso inclui: priorizar a produção de alimentos saudáveis, de boa qualidade e culturalmente apropriados para o mercado interno. Portanto, é essencial manter um sistema de produção camponesa diversificado (biodiversidade, respeito à capacidade produtiva da terra, valor cultural, preservação dos ativos naturais).

No Brasil, essas lutas se materializaram nas estratégias de diversos movimentos e organizações sociais, como o MST, e outras organizações como: Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Comissão Pastoral da Terra (CPT), Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), Pastoral da Juventude Rural (PJR), Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), entre outras organizações populares.

Fonte: Movimento dos Pequenos Agricultores - MPA

Temas: Feminismo y luchas de las Mujeres, Movimientos campesinos

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