Venezuela proibirá transgênicos, por Jason Tockman

O presidente da Venezuela Hugo Chávez Frías anunciou que o cultivo de sementes geneticamente modificadas será proibido em solo venezuelano, estabelecendo possivelmente, as mais severas restrições às sementes transgênicas no Hemisfério Ocidental

Embora detalhes completos da política governamental sobre organismos geneticamente modificados (OGMs) ainda estão por ser apresentados, a declaração de Chávez levará ao mais imediato cancelamento de um contrato que a Venezuela havia negociado com a corporação estadunidense Monsanto. Antes de um recente encontro de apoiadores em Caracas, o presidente Chávez condenou as sementes transgênicas como contrárias aos interesses e necessidades dos camponeses e trabalhadores rurais da Venezuela. Ele então falou sobre os planos da Monsanto para uma plantação de 150 mil hectares de soja transgênica na Venezuela: "Eu ordenei o fim do projeto", declarou Chávez, ao saber que envolvia sementes transgênicas. "Esse projeto está encerrado".

O presidente Chávez enfatizou a importância da soberania e segurança alimentares ? requeridas pela Constituição Venezuelana ? como a base de sua decisão. Em vez de permitir à Monsanto cultivar suas sementes transgênicas, estes campos serão usados para a plantação de mandioca, um cultivo indígena, explicou Chávez. Ele também anunciou a criação de um amplo banco de sementes para manter as sementes tradicionais para os movimentos campesinos de todo o planeta.

A organização camponesa internacional Via Campesina, que representa mais de 60 milhões de pequenos agricultores e trabalhadores rurais, havia chamado a atenção da administração Chávez a respeito do assunto quando soube do contrato com a Monsanto. De acordo com Rafael Alegría, secretário internacional da Via Campesina, a Monsanto e a Cargill estão buscando autorização para produzir soja transgênica na Venezuela. "O acordo era contra os princípios da soberania alimentar que guia a política agrícola da Venezuela ," disse Alegría ao ser informado da decisão do presidente. "Esta é uma coisa muito importante para os povos camponeses e indígenas da América Latina e do mundo".

Alegría tem boas razões para estar preocupado. Com um longo histórico de problemas sociais e ambientais, a Monsanto ganhou precocemente sua fama com a produção do químico Agente Laranja? o desfoliante usado na Guerra do Vietnã (para destruir florestas) que provocou abortos, problemas nervosos e perda de memória, ao qual mais de um milhão de pessoas foram expostas. Mais recentemente, a companhia foi criticada por efeitos colaterais contra a saúde humana e o meio-ambiente atribuídos a seus cultivos transgênicos e a seu hormônio de crescimento bovino (rBGH).

Perto da Venezuela, a Monsanto fabrica o pesticida "glifosato," que é usado pelo governo vizinho da Colômbia como parte de sua ofensiva do Plano Colômbia contra a produção de coca e contra os grupos rebeldes. O governo colombiano realiza pulverizações aéreas por centenas de milhares de hectares, destruindo cultivos agrícolas legais e áreas naturais como a floresta tropical do Putomayo, constituindo uma ameaça direta à saúde humana, incluindo a das comunidades indígenas.

"Se queremos alcançar a soberania alimentar, não podemos contar com multinacionais como a Monsanto", disse Maximilien Arvelaiz, assessor do presidente Chávez. "Necessitamos fortalecer a produção local, respeitando nossas tradições e nossa diversidade". Alegría espera que a decisão da Venezuela sirva de encorajamento a outras nações na sua forma de lidar com a questão dos OGMs. "O povo dos Estados Unidos, da América Latina e do mundo deve seguir o exemplo de uma Venezuela livre de transgênicos," disse.

Trad. Port.: Attac Porto Alegre (www.attacpoa.org)

Fuente: VenezuelAnalysis.com

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