Via Campesina manifesta apoio a Cappio em reunião com CNBB

Idioma Portugués
País Brasil

Após receber carta de solidariedade da Via Campesina ao protesto do bispo Luis Flávio Cappio nesta terça-feira, o secretário-geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), D. Dimas Barbosa, se comprometeu com a luta do religioso, que está em jejum há uma semana contra o projeto de transposição das águas do rio São Francisco. Participaram da reunião o integrante da coordenação nacional do MST, João Pedro Stedile, e o deputado federal Adão Preto (PT-RS)

D. Dimas anunciou que uma das questões mais críticas relacionadas à transposição é a ameaça aos territórios tradicionais. Com a construção do canal do eixo leste, por exemplo, várias aldeias indígenas poderão desaparecer e, nesse aspecto, ele acredita na possibilidade de intervenção jurídica.

O secretário da CNBB afirmou ainda que irá se empenhar no diálogo com o governo federal sobre o projeto de transposição.

Abaixo, leia a versão na íntegra da carta entregue pela Via Campesina ao secretário-geral da CNBB, D. Dimas Barbosa, com a posição da Via Campesina, coalizão composta pelo MST no país.
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 Prezado D. Luís,

A Via Campesina Brasileira, composta pelos movimentos sociais do campo e entidades - MAB, MPA, MMC, MST, FEAB, PJR, CIMI, QUILOMBOLAS, CPT -, reunida em sua plenária nacional, em Goiânia, vem solidarizar-se e somar-se ao seu gesto contra a transposição do rio São Francisco.

Sabemos também que é um gesto em favor de um desenvolvimento harmônico com o semi-árido brasileiro, defendendo a democratização da água através das adutoras propostas pela Agência Nacional de Águas (ANA), no Atlas do Nordeste, apoiando a captação da água de chuva para beber e produzir pelas comunidades rurais, apoiando a revitalização do rio São Francisco, reafirmando nosso compromisso com uma reforma agrária que vem tardando, mas nunca perde seu significado.

As obras do Atlas e as iniciativas da Articulação do Semi-árido podem beneficiar 42 milhões de Nordestinos, quase quatro vezes mais que os 12 milhões alardeados pelo marketing do governo.

Na verdade, a Via Campesina vê no seu gesto a nossa luta contra o agro e hidronegócio em todo o território nacional. Vemos no seu gesto a nossa defesa da terra, da água e da biodiversidade como bens do nosso povo.

Sabemos que por detrás da transposição estão grandes interesses econômicos nacionais e internacionais, que são os mesmos que estão interessados nas usinas do rio Madeira, na produção em massa de etanol, nas nossas florestas, nas demais riquezas naturais de nossa nação.

Os mesmos que se apossam das riquezas naturais do Brasil, apossam-se também das riquezas da América Latina e das demais regiões do planeta.

Por isso tudo, o significado de seu gesto é maior do que o senhor mesmo. Ele sinaliza a angústia de quem vê nossas riquezas serem depredadas e roubadas séculos após séculos por uma elite egoísta e indiferente aos destinos de nosso povo. De grande em grande obra o Nordeste continua com um dos piores índices de desenvolvimento humano do planeta.

Queremos o investimento em infra-estrutura descentralizada, que respeite o meio ambiente, que beneficie e contribua com o povo pobre, não com os velhos e novos coronéis de sempre.

Apesar da propaganda oficial, a transposição não criará as condições de acesso à água para os camponeses mais necessitados do semi-árido, mas fornecerá, sim, água subsidiada pelo povo brasileiro para as grandes empresas do agronegócio do Nordeste.

Irmão D. Luís, receba nossa solidariedade fraterna. Vamos transformá-la em luta prática e em um chamado a todo o povo, por todo o território nacional, mostrando à sociedade e ao governo federal que sua luta é nossa luta: a busca por um país justo, soberano e ambientalmente sustentável.

Tenha a certeza de que estamos ao seu lado, atuando em todo o Brasil, em defesa da sua vida, que hoje se integra totalmente com a própria vida e destino do rio São Francisco. Seu gesto significa um ato de amor pelo povo e pelo nosso país.

Goiânia, 29 de novembro de 2007.

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
 Movimento dos Atingidos por Barragens
 Movimento dos Pequenos Agricultores
 Movimento de Mulheres Camponesas
 Pastoral da Juventude Rural
 Comissão Pastoral da Terra
 Conselho Indigenista Missionário
 Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil
 Quilombolas

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