“A Feira da Reforma Agrária foi uma grande festa do povo brasileiro”, afirmam agricultores sem-terra

Idioma Portugués
País Brasil

No último dia da feira, o Brasil de Fato foi ouvir alguns dos cerca de 700 produtores rurais de acampamentos e assentamentos do MST que vieram para os quatro dias de atividades em São Paulo.

“Adorei! Achei bom demais! E vamos ficar esperando a próxima”, afirmou a alegre Cleide de Oliveira Ribeiro, de Corumbá de Goiás, no estado goiano. Ela, junto com outros quase 700 feirantes estiveram expondo e vendendo seus produtos na 1a Feira Nacional da Reforma Agrária, que aconteceu desde a quinta-feira (22) até este domingo (25), na capital paulista, promovida pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

No último dia da feira, o Brasil de Fato foi ouvir alguns das centenas produtores rurais de acampamentos e assentamentos do MST que vieram para os quatro dias de atividades em São Paulo, que contou com um público de 150 mil pessoas, segundo os organizadores.

Para Cleide, “a feira foi maravilhosa e o recado que a gente queria passar com essa feira, foi passado”, que completou dizendo que foi uma oportunidade dela conhecer São Paulo: “Primeira vez aqui, e, por mim, eu voltava amanhã de novo”. Ela vendeu doces e compotas diversas em sua barraca, como de caju, manga e outros sabores do Cerrado brasileiro.

Voltar em breve também é a expectativa de Julinda de Oliveira Lopes, do município de Andradina, interior paulista, que vendia artesanato de cabaça e sementes, além de vassoura, bucha vegetal, cebola e açafrão. “Seria muito bom se tivesse a cada seis meses essa feira. Para nós é muito importante para a gente escoar toda a nossa mercadoria produzida lá, porque não tem uma feira como essa lá”, opinou.

A mesma expectativa de que a feira tenha novas edições é compartilhada por Noel Aparecido Paulino, de Limeira, interior de São Paulo, do acampamento Elizabeth Teixeira. “O pessoal está gostando da feira e não sobrou nada dos produtos. Tem que ver se a gente consegue fazer mais feiras como essa”.

Diálogo com os paulistas:

A boa recepção do público paulistano também foi comemorada pelos produtores sem-terra. “O povo paulista demonstrou para nós um grande interesse na produção agroecológica e orgânica dos assentamentos de reforma agrária”, contou Davi Montenegro, do assentamento Paulo Jackson, do município de Ibirapitanga, sul da Bahia. Ele, junto com outros companheiros baianos vendeu 14 toneladas de alimentos, entre uva, melão, mamão, cebola, goiaba, coco, aipim, biscoitos, farinha de mandioca, tapioca e uma variedade de pimentas.

“Mostramos que a produção orgânica não tem um custo elevado. O que acontece é que as empresas buscam aproveitar um nicho de mercado para praticar preços fora da realidade. Enquanto que os camponeses podem produzir alimentos saudáveis a preços populares, e que suprem a demanda da cidade. Então, a feira cumpriu esse papel de uma grande troca entre o povo brasileiro, em que a gente pode mostrar toda a nossa cultura, a arte e a música. Foi uma grande festa do povo brasileiro”, afirmou Davi.

A mesma ideia surge na fala de Valdemar da Silva, do assentamento Paulo Freire, da cidade de Tobias Barreto, interior de Sergipe, que trouxe 400 quilos de coco d'água e maracujá. “Eu trouxe meus produtos de alimentação e vendi tudo em dois dias. Gostei muito da feira, o pessoal foi muito bacana. O paulistano, a gente tem que atender com muita educação, amor e carinho, que eles merecem. To preparado para no próximo ano estar aqui de volta”.

Projeto da reforma agrária:

“Como essa foi a primeira Feira da Reforma Agrária com produtos vindos dos assentamentos, pra gente foi muito importante. Além de vender o produto direto do produtor, ajuda também a divulgar o projeto de reforma agrária que a gente almeja para o Brasil. E a gente espera também que, com isso, a sociedade passe a acreditar na reforma agrária e que lute com a gente”, afirmou Geovani Carlos de Lima, do assentamento Marrecas, no interior do estado do Piauí, que comercializou cajuína, geleias de uva e morango, e doce de mamão.

“Foi muito participativo, muita gente veio, pode conhecer a história do MST, teve também a parte cultural e a formativa”, disse Geovani, relembrando dos quatro dias de atividades.

Contar a história dos sem-terra e da luta pela reforma agrária foi uma das atividades que Matusalem Lourenço Mendes, do assentamento Santa Mônica, município de Terenos, no Mato Grosso do Sul, mais desempenhou ao longo da feira. Passando pela sua barraca, no último dia, só tinha sobrado para vender um pouco de gergelim, mas a barraca sempre estava cheia. Isso, porque o sem-terra envolvia a todos com a história de alguns assentamentos da região.

“São 3.800 famílias. Tem leite, tem vaca, feijão, milho, mandioca, algodão, abacaxi, maracujá. Tudo o que você imaginar, é fora de série, tem lá. Pode procurar no Google, assentamento Itamarati, em Ponta Porã”, contava Matusalem. À reportagem, ele acrescentou que “estamos mostrando para a sociedade que nós temos a capacidade e a responsabilidade de produzir produtos de qualidade, saudáveis, que podem ir à mesa de qualquer família brasileira”.

Juntos, os sem-terra do Mato Grosso do Sul trouxeram para a feira 40 sacos de feijão preto – 60 quilos cada saco -, 500 quilos d gergelim, 300 melâncias, vários pacotes de tereré, além de doces e artesanatos.

O desafio de produzir alimentos para toda a sociedade foi trazido também por Daniel Mendonça, trabalhador da Cooperativa Central, em Curitiba (PR), que reúne 17 cooperativas de produtores do estado paranaense, que trouxeram à feira Muçarela, erva mate – para chimarrão, tereré e chá -, além de arroz, melaço e açúcar mascavo.

“O público superou muito nossas expectativas, nós vendemos muito mesmo. E os alimentos orgânicos têm uma importância enorme para a sociedade. Pois há os riscos dos agrotóxicos para a saúde da população e o meio ambiente. Eu acredito que a reforma agrária e a agroecologia podem salvar o nosso mundo e levar a sociedade para um caminho mais justo e harmônico”, defendeu.

Feira em números:

Ao todo, foram 220 toneladas de alimentos comercializados na 1a Feira Nacional da Reforma Agrária, com uma estimativa de cerca de R$ 2 milhões de arrecadação, apontou um dos coordenadores do setor de produção do MST, Adalberto de Oliveira, que atua na frente de comercialização e é assentado em Itapeva, interior de São Paulo. Na feira estiveram mais de 700 acampados e assentados da reforma agrária, que trouxeram 600 variedades de produtos, de 23 estados e do Distrito Federal.

O Parque da Água Branca, zona oeste da capital paulista, ainda não divulgou o número final de pessoas que circularam no local nestes quatro dias, mas o MST indica em mais de 100 mil o número geral do público da feira.

Além da população de São Paulo, passaram pelo evento políticos como o ex-presidente Lula, o ministro de Desenvolvimento Agrário Patrus Ananias, o secretário de Cultura da cidade de São Paulo, Eduardo Suplicy, o deputado federal Ivan Valente, a cantora Karina Buhr, o ex-jogador de futebol Raí, também os cantores Chico César e Zé Geraldo, que fizeram shows no encerramento do sábado e domingo da Feira.

Foto 1 por Joka Madruga.

Foto 2 e 3 por Vivian Fernandes.

Fonte: Brasil de Fato

Temas: Agricultura campesina y prácticas tradicionales, Comercio justo / Economía solidaria

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