Brasil: Vazamento de óleo no rio Teles Pires poluiu água e matou boto no Mato Grosso

Idioma Portugués
País Brasil

"O acidente aconteceu no dia 10 de novembro. Os indígenas que vivem no extremo norte de Mato Grosso, principalmente das etnias Kayabi, Munduruku e Apiaká, denunciaram o desastre ambiental do rio Teles Pires".

O Ministério Público Federal do Mato Grosso informou nesta segunda-feira (21) que solicitou a abertura de inquérito policial à superintendência regional da Polícia Federal para apurar a prática de crime ambiental, com indicação de realização de perícia técnica no rio Teles Pires, que sofreu danos ambientais a fauna e a flora com o vazamento de óleo da Usina Hidrelétrica (UHE) São Manoel, que fica na divisa com o estado do Pará.

O MPF determinou que a PF ouça depoimentos de oito funcionários da empresa de Energia São Manoel, gestora da Usina Hidrelétrica (UHE) São Manoel, obre o vazamento de óleo no rio Teles Pires.

O acidente aconteceu no dia 10 de novembro. Os indígenas que vivem no extremo norte de Mato Grosso, principalmente das etnias Kayabi, Munduruku e Apiaká, denunciaram o desastre ambiental do rio Teles Pires, um dos principais mananciais da região, ocorrendo mortandade de peixes e inclusive a morte de um boto.

Por causa do acidente, os indígenas estão sem água para beber. Em entrevista à Amazônia Real por telefone, o indígena Taravy Kayabi disse que a empresa responsável pelo acidente, Energia São Manoel, prestou socorro aos povos da região encaminhando água mineral em barcos para 30 dias.

Por meio de nota enviada à reportagem, a empresa à Empresa de Energia São Manoel, gestora da Usina Hidrelética (UHE) São Manoel, admitiu que detectou uma mancha de óleo no rio Teles Pires no dia 13 de novembro e afirma que a situação já está normalizada.

O líder indígena Taravy Kayabi está revoltado e afirma que não é verdade. “A água continua suja, ainda tem mancha de óleo na superfície, dá para ver, e no fundo do rio a gente não sabe como está. Tem peixe morto nas margens”, detalha, comentando que é uma cena triste de se ver.

Segundo ele, o clima é de tensão em pelo menos 17 aldeias na região de Paranaíta (MT), município onde a UHE São Manoel está instalada e operando. Mais de dois mil indígenas vivem nessas aldeias, sendo 10 delas da etnia Kayabi, seis Munduruku e uma Apiaká.

“Nós indígenas e também outros ribeirinhos estamos todos preocupados, desesperados mesmo, porque nunca vimos uma situação dessas. Estamos acostumados a tomar banho no rio Teles Pires, pescar nele. Nossos filhos, nossas mulheres também e hoje estamos com receio tanto de tomar banho, com medo de contaminação, quanto de pescar, porque está acabando o peixe ou o peixe pode também estar contaminado”, lamenta Taravy Kayabi.

Fiscais do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) que estão na área avaliando a extensão do desastre ambiental informaram à Taravy que a situação é grave.

“Eles falaram assim com a gente, que a situação é muito grave e é de se preocupar”, resume o indígena.

O Ministério Público Federal em Mato Grosso (MPF/MT) está investigando a ocorrência. Na última sexta-feira (18) instaurou procedimento que está sendo conduzido pelo procurador da República Marco Antônio Ghannage Barbosa.

Ele solicitou para a Coordenação de Emergências do Ibama-DF o envio de informações sobre o ocorrido, de forma urgente, mais especificamente o relatório técnico de constatação do acidente e as medidas adotadas pelo órgão ambiental.

“De acordo com informações iniciais enviadas pelo Ibama e inseridas no documento do MPF, verificou-se que no dia 10 de novembro, foi iniciada a remoção da Ensecadeira de Jusante J3 para o Desvio do Rio pela Empresa de Energia São Manoel S.A., atividade prevista e licenciada perante o Ibama. Foi constatado então que, após o início dessa atividade foi detectado o vazamento de óleo no rio Teles Pires. Apesar de não haver ainda uma ligação direta entre a atividade e o vazamento de óleo, o acidente foi ocasionado na mesma data e no mesmo local do rio”, diz trecho de nota emitida nesta segunda-feira (21) pelo MPF sobre o caso.

Além da documentação solicitada ao Ibama, o MPF também solicitou a abertura de inquérito policial à Superintendência de Polícia Federal de Mato Grosso para apurar a prática de crime ambiental, com indicação de realização de perícia técnica no local e oitiva dos funcionários da empresa.

Ao MPF, a empresa informou que também está buscando saber os motivos do vazamento e que acionou o plano de contingência do empreendimento. Diz ainda que, além de água, está fornecendo também alimentos aos indígenas.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos

Temas: Tierra, territorio y bienes comunes

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